Conheça 5 mitos sobre manutenção de carro e não ‘queime’ seu dinheiro à toa

Apesar da boa intenção, muitos hábitos comuns entre motoristas são simplesmente desnecessários ou têm efeito contrário ao pretendido

Carros não estão baratos e vale a pena cuidar bem do seu, de forma a prolongar a vida útil e evitar, ali adiante, gastos elevados com oficina.

Apesar da boa intenção, muitos hábitos e práticas comuns entre motoristas e proprietários de automóveis são simplesmente desnecessários ou têm efeito contrário ao pretendido.

Por outro lado, enquanto uns pecam pelo excesso de zelo, outros ignoram algumas práticas fundamentais relacionadas à manutenção, por acreditarem que, simplesmente, não são necessárias.

Confira abaixo cinco mitos bastante comuns relacionados ao seu carro e evite-os para não ficar no prejuízo.

1 – Mito – Bicos injetores pedem limpeza regular

Limpeza dos bicos injetores - Fabio Braga/Folhapress - Fabio Braga/Folhapress
Limpeza dos bicos não tem quilometragem indicada e só é necessária quando há alguma obstrução Imagem: Fabio Braga/Folhapress

“Hoje não está prevista a limpeza de bicos injetores no plano de manutenção, ao menos nos manuais que eu já consultei. Desconheço montadoras que recomendam a prática ao atingir determinada quilometragem”, afirma Erwin Franieck, mentor de tecnologia e inovação em engenharia avançada da SAE Brasil.

Dono de um carro com mais de 130 mil km rodados, o engenheiro diz que nunca solicitou o serviço e até hoje nenhum dos veículos que já teve necessitou do serviço.

“Essa cultura vem do tempo do tempo do carburador, quando era preciso remover o depósito de resíduos que se formava. Com a melhora na qualidade do combustível, o surgimento da injeção eletrônica e a evolução dessa tecnologia, a limpeza em intervalos regulares já não é obrigatória “, pontua.

Para o especialista, essa intervenção deve ser realizada apenas quando o motor apresenta falha de funcionamento comprovadamente causada por bico entupido.

“Tem de avaliar caso a caso. O sensor de oxigênio, a popular sonda lambda, pode identificar redução na vazão em um ou mais bicos injetores. Porém, o problema pode estar relacionado a outros componentes, como filtro obstruído e falha na bomba de combustível”, explica.

2 – Mito – Câmbio automático não requer troca de óleo

Dono do carro lendo a especificação do óleo do motor em sua embalagem - Foto: Shutterstock - Foto: Shutterstock
Imagem: Foto: Shutterstock

Muitos acreditam que o câmbio automático não requer manutenção regular e essa crença pode gerar prejuízos pesados se a transmissão quebrar. Especialmente na configuração dotada de conversor de torque e engrenagens, o câmbio, da mesma forma que outros componentes mecânicos, requer lubrificação.

As especificações e os prazos para troca do fluido são indicados no manual do veículo e devem ser respeitados. A troca do óleo, inclusive, pode ser antecipada dependendo das condições de uso do automóvel.

Vale destacar que, de fato, alguns modelos não trazem a recomendação de troca de óleo, que supostamente dura por toda a vida útil do veículo.

No entanto, isso não significa que a transmissão automática esteja livre de problemas de lubrificação.

“Pode acontecer algum vazamento, o que reduz o nível do lubrificante, elevando o atrito entre partes internas e elevando a temperatura, que é uma grande vilã quando se trata de carros automáticos”, alerta o engenheiro Edson Orikassa.

O especialista destaca que, além da redução no nível, o óleo pode receber algum tipo de contaminação por agentes externos, o que reduz a sua eficiência.

“Vale verificar o óleo durante as revisões. Se apresentar uma aparência escurecida, isso pode sinalizar que já não apresenta as características necessárias de lubrificação.

Problemas com o óleo apresentam sintomas comuns, como trancos na troca de marchas. A transmissão também pode “patinar”, ou seja, ao acelerar o carro demora alguns instantes para tracionar as rodas.

3 – Mito – Carro flex deve alternar entre etanol e gasolina

Bomba combustível - Shutterstock - Shutterstock
Imagem: Shutterstock

De acordo com o engenheiro Fabio Uema, não é necessário realizar um “rodízio” entre etanol e gasolina para se obter o funcionamento ideal de um motor flex.

No entanto, há um alerta: se o veículo estiver abastecido 100% com etanol ou gasolina e for realizada a troca após o tanque se esgotar, é necessário um período, curto, para que a ECU, a central eletrônica do motor, faça as adaptações necessárias no sistema de injeção.

Isso acontece, segundo Uema, porque o etanol tem poder calorífico menor do que a gasolina e exige que o propulsor injete mais combustível.

“Ao fazer a substituição, é necessário rodar alguns quilômetros para que haja esse ‘aprendizado’ da ECU. O tempo ou a quilometragem necessárias variam de acordo com o modelo do carro. Essa informação geralmente está disponível no manual do proprietário”.

A identificação do novo combustível não é imediata porque é necessário que o antigo que resta nos dutos seja queimado e que a sonda de oxigênio e/ou o sensor de etanol identifiquem a troca, explica.

Fabio Uema enfatiza que, se a substituição for feita de gasolina para etanol, é ainda mais importante respeitar esse tempo de aprendizado.

“Dependendo da situação, o automóvel pode demorar a pegar posteriormente, por identificar que ainda tem gasolina no tanque. Após dar a ignição, siga a recomendação do manual para que finalmente a ECU faça a adaptação”.

4 – Mito – Vale ‘esquentar’ motor antes de sair rodando

Motor - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Antigamente, era costume deixar o carro ligado por alguns minutos para o motor “esquentar”. Na época anterior à injeção eletrônica, inclusive, automóveis saíam da fábrica com um botão conhecido como “afogador”, que enriquecia a mistura ar-combustível, restringindo o fluxo de ar no carburador, para facilitar a partida.

Hoje em dia, muitos têm a dúvida: permanecer estacionado até que o motor atinja a temperatura ideal de funcionamento traz vantagens, como reduzir o consumo de combustível e prolongar a vida útil de componentes internos?

Clayton Zabeu, membro do Comitê Técnico de Motores Ciclo Otto da SAE Brasil, para esclarecer a questão. De acordo com o especialista, salvo exceções, a prática não proporciona benefícios quando se trata de veículos modernos.

“Se for um carro fabricado 20, 30 anos atrás, a prática de esquentar o motor é muito mais necessária e aplicável do que em modelos atuais. Hoje, componentes como cilindros, bielas e pistões trazem folgas muito mais justas e são muito mais duráveis do que há três décadas”, destaca.

Segundo Zabeu, os motores e os respectivos lubrificantes hoje são projetados para lidar sem problemas com a fase fria, na qual as peças metálicas ainda não se expandiram e o lubrificante ainda não aqueceu adequadamente. “Prova disso é que hoje todos os motores que equipam automóveis novos são testados, no fim da linha de montagem na fábrica, ainda frios e com rotação máxima”, exemplifica.

5- Mito – ‘Amaciar’ motor é coisa do passado

Conta-giros - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Hoje, muitos proprietários de veículos novos simplesmente desconhecem a prática ou pensam que é coisa do passado.

Porém, o “amaciamento” ainda é essencial para prolongar a vida útil do motor – e também para que ele atinja o desempenho e o consumo de óleo lubrificante e combustível para o qual foi projetado.

A diferença é que, por conta da tecnologia mais avançada e precisa adotada na construção de motores, a quilometragem necessária para o “amaciamento” ficou bem menor: 1.500 km, aproximadamente.

As orientações para “amaciar” o motor, inclusive, podem ser verificadas no manual do proprietário, como antigamente.

O manual do Renault Sandero, por exemplo, diz: “Até atingir os primeiros 1.000 km, não ultrapasse 130 km/h na troca de marcha mais elevada ou 3.000 a 3.500 rpm”. O mesmo manual informa que somente após cerca de 3.000 km rodados o veículo vai “proporcionar todo seu desempenho”.

De acordo com Erwin Franieck, da SAE Brasil, apesar dos avanços tecnológicos, os projetos atuais de motores a combustão interna ainda levam em conta o período de “amaciamento” e nada indica que isso vá mudar em um futuro próximo.

“A superfície de componentes metálicos internos de um motor novo apresenta rugosidade, ou seja, variações no relevo que não são as ideais. Isso vale para todo o trem de força, incluindo engrenagens, eixos e mancais, que precisam de quilometragem para atingir esse assentamento natural”, explica o especialista.

Do Uol.