Você viu? Com mais de 30 anos de carreira, Cássio se torna o ‘palhaço assustador’ da política da PB

Acredite se quiser. Mas reproduzo a seguir o que ouvi ontem durante roda de ironias, galhofas, causos e maledicências no Ponto de Cem Réis. O boato é o seguinte: o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) está “p” da vida com essa história de ser chamado de o Palhaço Assustador da política paraibana.

O caso é sério porque se trata de humor. Recomenda-se não cuspir, mas engolir. Para evitar que as gargalhadas estaduais se transformem em federais. Não faz muito tempo, e o cenho franzido do popular político campinense lhe valeu a divertida alcunha de Chuck. Foi uma referência engraçada ao boneco criado por Dom Marcini para o filme (“Brinquedo assassino”) dirigido por Tom Holland, e que se transformou imediatamente num clássico do gênero.

O humor tem tudo a ver com a política. E todo político já foi ou será caricaturado. É da nossa cultura. No próximo ano, o Brasil terá que celebrar os 180 anos desde a criação, no Rio de Janeiro, da primeira revista que lançou a caricatura política entre nós, “A Lanterna Mágica”, de Araújo Porto Alegre. E os 150 anos da chegada ao Brasil do italiano Agostini, que praticamente estabeleceu a linguagem caricatural do escracho na política que engendrou caricaturistas e cartunistas do nível de Henrique Magalhães, Fred, Chiko, Luzardo, Cristóvam, Régis e outros talentos de repercussão mundial como nos casos de Ziraldo, Laílson, Lan, Jaguar, e do paraibano Pedro Américo. O nosso pintor, que tem nova biografia na praça de autoria do cientista político e articulista Lúcio Flávio Vasconcelos, “Pedro Américo, as cores do Brasil Imperial”, em sua época, final do século XIX e início do XX, dava show caricaturando na imprensa.

Para Freud, pai da Psicanálise, “o humor é a mais alta manifestação de mecanismos de enfrentamento do indivíduo”. Para Nietzsche, também. Ele dizia que o homem sofre tanto que foi preciso inventar o humor, humor que é praticado desde a Grécia dos grandes dramaturgos, e muito antes de Esopo e Aristófanes.

Mas retomando o caso do Assustador, essa história, a do palhaço misto de zumbi e de espantalho, acho que já está todo mundo sabendo. Ou quase…. A lenda urbana que conquistou a imprensa ressurgiu com força total nos Estados Unidos há alguns dias. Isso depois de ter feito aparições bombásticas também na Inglaterra e no Canadá.

O Palhaço Assustador tem a ver na atual conjuntura estadunidense com a temerária trajetória eleitoral de Donald Trump, o miliardário dos republicanos que quer ser presidente dos EUA esmagando o bom senso, acusando a imprensa, ofendendo as mulheres, agredindo a inteligência do mundo e atiçando ódio entre etnias, gêneros e culturas.

Pois bem: o Palhaço Assustador está agindo por lá também como uma caricatura de Trump. E funciona mais ou menos assim: o palhaço (Trump) numa esquina qualquer do tempo (a campanha nos EUA) arma emboscadas contra quem dele se aproxima (seus potenciais eleitores e eleitoras) na expectativa de obter alguns nacos de alegria.  Na verdade, a figura sinistra é fonte de susto, medo, dor, indignação e nojo. Nas ruas, os praticantes da palhaçada sem graça resolveram seguir quase à risca a personagem de Stephen King da qual o palhaço evoluiu.

Muita gente deve se lembrar do livro “It” (“A Coisa”) que virou produção do cinema e da TV. A personagem malévola criada em 1986 é um palhaço-monstro que devora crianças. Os imitadores, em pleno ano de 2016, nas cidades de lá e de cá tentam levar suas vítimas ao pavor. E estão conseguindo.

Quando eu soube das reportagens de agora, pensei que se tratava de alguma campanha publicitária, o relançamento do romance ou refilmagem da história macabra. Mas a coisa motivou mais e mais aloprados a saírem por aí assustando os outros, comportamento que aqui no Brasil já gerou uma agressão quase mortal. Um palhaço que ia para o trabalho distribuir alegria em Uberaba foi confundido com o Assustador. E foi agredido por uma turba vingativa.

A coisa ficou tão séria que até a rede McDonald’s decidiu reduzir as aparições do seu mascote, aquele palhaço feioso, o Ronald. As crianças estavam se assustando. Muito mais do que de costume.

Mas o que tem a ver o senador paraibano Cássio Cunha Lima com a protuberância bizarra que assusta o mundo? Primeiro, tem a ver com o fato de que não deixaram o homem participar da campanha política em João Pessoa. As pesquisas contratadas diziam literalmente que ele assustava o eleitorado. Cartaxo fez de tudo para que ele não aparecesse. E a história culminou com essa palhaçada realmente assustadora que foi construir uma agenda com o ministro das Cidades para que ele viesse inspecionar a obra do Viaduto do Geisel. Obra que sofre boicote do (des)governo Temer, que teve a verba bloqueada pelo próprio ministro com quem Cássio quer fazer um comício, obra que segue em frente porque o Governo do Estado está bancando com recursos próprios. Por tudo isso é que a inspeção programada para o ministro parece até uma piada. Piada do Palhaço Assustador.

(Reproduzido de o jornal A União, edição de 19/10/2016)