Coletivo Bispo apresenta espetáculo no Paulo Pontes neste final de semana

Com apoio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), o espetáculo “BISPO”, de concepção do Coletivo Bispo, além de direção, dramaturgia, e atuação do ator João Miguel, acontecerá no Teatro Paulo Pontes, neste sábado (8) e domingo (9), às 20h. O ator ainda realizará uma roda de diálogo com o público no domingo, no segundo dia após apresentação do espetáculo.

A primeira montagem de “BISPO” estreou em Salvador, em 2001, fruto de uma profunda pesquisa de João Miguel por materiais a respeito da vida e da obra de Arthur Bispo do Rosário. Com sucesso de público e de crítica, João Miguel ganhou prêmios de melhor ator, diretor, cenário, espetáculo e ator revelação, em 2001 e a indicação ao Prêmio Shell de melhor ator em 2003. Durante a temporada, foi convidado para estrear no cinema no filme “Cinema, Aspirinas e Urubus”, com o qual ganhou muitos prêmios, inclusive no Festival de Cinema de Cannes. A partir daí, consolidou sua carreira, participando em mais de 20 filmes e séries.

Quinze anos depois, João Miguel remonta ‘Bispo’, reunindo um coletivo que traz nomes como da diretora Cristina Moura, do roteirista Edgard Navarro, do músico Pupillo e do cineasta Eryk Rocha; entre outros.

Retomar Bispo no nordeste tem um significado especial para João Miguel. “A ideia é fazer um movimento expansivo de temporadas, partindo do nordeste, que é uma região muito representativa na obra de Bispo, para depois alcançar outras regiões do Brasil. A relação com o Nordeste nesta temporada está calcada nas minhas origens como artista e nordestino, dialogando com as de Bispo. Voltar ao teatro e fazer o caminho inverso dos espetáculos teatrais foi escolha minha; o Nordeste é o espaço de resistência de grande produção criativa na história do país, de onde saíram grandes movimentos marcantes para a cultura brasileira, como o tropicalismo, o cinema novo, o mangue beat, grandes escritores, movimento de teatro baiano nos anos 60 e etc”, afirma o ator.

Dialogando com as vertentes modernas do teatro contemporâneo, o espetáculo propõe uma união de várias linguagens, como uma “sinfonia brasileira”, fundindo o cenário (artes plásticas), a luz, o texto, o som (músicas e sonoridades que remetem ao inconsciente de Bispo), que são misturados em cena com as palavras de Arthur Bispo do Rosário, na voz e no corpo do ator João Miguel.

Através de um mergulho coletivo, o espetáculo enfoca a lógica de criação de Bispo e a materialização da obra do artista numa dimensão profunda de reconhecimento, independente das catalogações a que ele foi submetido no decorrer de anos, como esquizofrênico e como artista plástico. Aqui, são abordadas questões atuais, como identidade e brasilidade.

O universo místico de Bispo, a sua relação com a obra, a visão da Virgem Maria, a paixão pela psicóloga Rosângela Maria, os delírios são abordados com ritmo, humor e a profundidade que este universo requer.

A intenção é dividir com o público esta “loucura lúcida” e abrir novas janelas sobre a potência genuína do homem brasileiro, aqui representado por Bispo, que se afirma através do próprio trabalho e provoca questões no espectador. O público é convidado a penetrar no universo de criação de Arthur Bispo do Rosário, através de um olhar particular sobre suas palavras, sua obra e sua escrita. O espetáculo pretende transcender as catalogações de “regionalismo”, “loucura”, “artes plásticas”, sem deixar de incluí-las, mas abrindo novas janelas em um momento tão importante para o diálogo a respeito de identidade e cidadania.

JOÃO MIGUEL

Com mais de trinta anos de carreira, já participou de inúmeros filmes, espetáculos teatrais, minisséries e novelas. Deu início à sua carreira de ator aos 9 anos, no programa de televisão Bombom Show, de Nonato Freire. Entre 1990 e 1996 João Miguel foi integrante do Grupo Piolim (João Pessoa), onde atuou como produtor do espetáculo Vau da Sarapalha, e iniciou as apresentações como Palhaço Magal. Ainda como Magal, apresentou-se no Circo Picolino e em hospitais públicos, favelas e ruas de Salvador e do interior da Bahia.

No teatro, João Miguel atuou em diversas montagens, entre elas, espetáculo “Só” (2009), direção: Alvise Camozzi; De 2001 até 2006 “Bispo”, com direção de Edgard Navarro; de 1997 a 1999, integrou o elenco da Novíssima Poesia Baiana, com grupo o Los Catedráticos, com direção de Paulo Dourado; “A Ver Estrelas” (1997), com direção de João Falcão; “Carne Fraca” (1997), com direção de Fernando Guerreiro; “Fala Comigo Doce como a Chuva” (1993), com direção de Paulo Henrique Alcântara; “ Viva o Cordão Encarnado” (1991), com direção de Luis Mendonça; “Barrela” (1989), com direção de Francisco Milani.

João Miguel já foi contemplado com mais de vinte prêmios, dentre os quais se destacam: o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor ator em cinema, que ele ganhou em 2015, com o filme ‘A hora e a vez de Augusto Matraga’; prêmio de melhor ator no Festival do Rio de 2005, 2007 e 2011, com os filmes Cinema, Aspirina e Urubus; Estômago e A Hora e a Vez de Augusto Matraga.

Prêmio da Educação Nacional do Festival de Cannes, em 2005, para o filme Cinema, Aspirina e Urubus. Prêmio de melhor ator na Mostra Internacional de Cinema de 2005, com Cinema, Aspirina e Urubus. O júri da mostra, que normalmente não premia atores, criou esta categoria especialmente naquele ano para premiá-lo. Prêmio de melhor ator no Festival de Guadalajara de 2005, com Cinema, Aspirina e Urubus. Prêmio de melhor ator no Festival de Valladolid em 2008, com o filme Estômago. Prêmio de melhor ator no Festival de Cinema Brasileiro em Paris em 2009, com Se nada mais der certo. Prêmio de melhor ator no Festival Internacional de Cinema Brasileiro em Miami em 2009, com Se nada mais der certo. Entre dezenas de outros prêmios pelo mundo. Ainda em 2016, João Miguel vai protagonizar a primeira série original brasileira do Netflix, chamada “3%”.

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

Trancafiado num quarto forte da Colônia Juliano Moreira, hospício do Rio de Janeiro, Arthur Bispo do Rosário criou ao longo de quase cinquenta anos um mundo próprio constituído de miniaturas, mantos, estandartes e uma infinidade de peças que brotaram de suas mãos e ganharam forma, dando um sentido à sucata recolhida pelos internos e funcionários do asilo psiquiátrico. Bispo trabalhava sem descanso. Desfiava os uniformes do hospício para fazer seus bordados atendendo a uma urgência compulsiva de criar grafismos de extrema originalidade. Certo de que se tratava de um desígnio da fé, Bispo atendia com zelo obsessivo às insinuações que para os médicos não passavam de delírio místico. Para ele, criar significava a própria salvação: suas obras seriam apresentadas ao Todo Poderoso no dia do Juízo Final.

Para os boletins psiquiátricos Bispo não passava de um esquizofrênico paranóico. Mas o certo é que aquele estranho mundo construído com sucata de hospício resultaria em mais de 800 obras que, depois da morte de seu autor, em 1989, vieram a ser catalogadas como obras de arte. Na última fase de sua estada no hospício Bispo foi visitado por pessoas sensíveis que, fascinadas por sua trajetória e pelo universo por ele criado, fizeram com que o fenômeno ultrapassasse as fronteiras do hospício, através de reportagens e vídeos, exposições e instalações.

A obra do artista plástico Arthur Bispo do Rosário tem hoje uma outra dimensão dentro e fora do universo das artes plásticas. Reconhecido nacional e internacionalmente, o artista e sua obra ocupam agora um espaço afirmativo.

COLETIVO BISPO

Após quinze anos da primeira montagem, João Miguel dá continuidade ao espetáculo que o projetou no teatro e no cinema. Em dezembro de 2015 o Coletivo Bispo apresentou o “Bispo em Processo”, no Espaço Cultural da Barroquinha (Salvador – BA), aberto ao público e com convidados para bate–papos ao final das sessões do espetáculo. O processo de criação coletiva continuou, apresentando uma obra em constante evolução.

O Coletivo Bispo apresenta nomes como do roteirista Edgard Navarro, que assina o texto do espetáculo; a colaboração da diretora Cristina Moura e da preparadora de atores Juliana Jardim; dos músicos André T e Pupillo, na trilha sonora; vídeos de Eryk Rocha; os figurinos de Adriana Hitomi e Rebeca Matta; o cenário de Zuarte Júnior; Iluminação de Luciano Reis; Confecção Roupa: Ró Amorim; Fotografias: Diney Araújo, Rebeca Matta e Zélia Uchôa; Produção: Joana Damazio e João Miguel; Direção de Produção: Joana Damazio e Produção Executiva: Viviane Jacó.

O espetáculo conta ainda com o importante apoio do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro.