Também citado na Lava Jato, Cássio diz que denúncias levarão Lula à derrota em 2018

cássioO senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB) disse, em entrevista ao Jornal Correio Braziliense, que não acredita na possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se eleger em 2018. Para o parlamentar tucano, o sucesso do petista nas pesquisas se deve à memória recente do eleitor.

“Onde ele era menor ficou ainda menor e, onde ele era muito grande, diminuiu o tamanho. Não vislumbro uma oportunidade em que ele possa reverter esse desgaste que está tendo com acusações das quais ele vai se defender”, comentou Cássio, que está sendo investigado pela operação Lava Jato após ser deletado por ex-executivos da Odebrecht como um dos políticos que recebeu dinheiro da construtora na campanha de 2014 através de caixa 2.

Sobre a candidatura do PSDB à Presidência da República, Cássio se recusou a colocar o prefeito de São Paulo, João Doria, como candidato em 2018. “O Doria não é candidato. Ele tem dito, insistentemente, que o candidato dele é Geraldo Alckmin. E o partido tem outras opções além do Alckmin, tem Aécio Neves, Tasso Jereissati, Antonio Anastasia, José Serra e pode ter Doria, mas não posso tratá-lo como candidato quando ele próprio diz que não é”, pontuou.

Reforma trabalhista

Aliado do governo Temer, Cássio afirmou que o Senado trabalhará para manter o texto aprovado pela Câmara na reforma trabalhista e, se for necessário algum ajuste, eles se articularão para que seja por meio de veto para o projeto não voltar aos deputados. “A Câmara está esperando do Senado um gesto de solidariedade. Eles assumiram o papel de infantaria, e tem muita gente com medo de morrer no meio dessa guerra”, destacou.

Leia abaixo alguns trechos da entrevista:

– Há uma disputa política com vistas a 2018. O ex-presidente Lula continua em primeiro nas pesquisas. O PT, por enquanto, está ganhando essa batalha?

– Ganhar a batalha não significa ganhar a guerra. Tem muito chão pela frente e não há como se menosprezar o potencial eleitoral que o ex-presidente Lula tem. Resta saber se ele chegará elegível por conta dos problemas que ele enfrenta perante a Justiça. E a experiência mostra que pesquisas sempre vão olhar para trás. Pesquisa raramente consegue fazer um olhar prospectivo. O que se percebe é o nível de rejeição não só do Lula, mas de outros atores importantes.

– Como trabalhar o Nordeste?

– O que eu tenho defendido, no PSDB e junto a outros partidos, é que o Nordeste precisa de novas propostas para o desenvolvimento. Não adianta ficar marcando passo, falando sempre em Bolsa Família. Essa discussão é absolutamente estéril, infrutífera, não leva a nada e, no fundo, só reforça essa posição dele. Nossa responsabilidade é estar presente na região com uma proposta de desenvolvimento, principalmente, para o semiárido. É preciso entender o Nordeste, você tem dois, pelo menos. O Nordeste úmido, da faixa litorânea, que se enquadra nas regras do Brasil, e o do semiárido, que merece atenção diferenciada.

– Dá tempo de construir um discurso para superar o PT no Nordeste?

– Não é mais a diferença que era. O Lula pode ainda pontuar nas pesquisas e eu não discuto essa liderança, mas, nas últimas eleições, em termos médios, considerando votos válidos, na região era 75 a 25. Ele não repetirá mais isso, vai diminuir e será fatal para o resultado das eleições, porque ele diminuiu ainda mais em regiões em que era fraco como o Sul, Sudeste e o Centro-Oeste. Onde ele era menor, ficou ainda menor, e onde ele era muito grande, diminuiu o tamanho. Não vislumbro uma oportunidade em que ele possa reverter esse desgaste que está tendo com acusações das quais ele vai se defender.

– Então, ele não se elege?

Vejamos que, mesmo no auge da popularidade, as eleições foram para o segundo turno, tanto dele quanto a da Dilma. É claro que haverá consequência eleitoral em tudo que está acontecendo. Mas imaginar que alguém com o perfil do Lula terá menos que 25%, 30% dos votos é ingenuidade. Ele é um ator político importante nesse processo. Daí a ter condições de ganhar são outros quinhentos.

– O senhor falou em pesquisa olhar para trás, mas a gente vê João Doria, uma pessoa nova nesse cenário, no mesmo patamar de tucanos que já concorreram. É suficiente para fazer dele o candidato?

– A rigor, quando digo olhar para trás é recall mesmo, lembrança. A pesquisa atesta isso, o Lula é quem tem o maior recall no Brasil. Quando você tem um nome como o do Doria crescendo, é o resultado mais claro da importância que a rede social tem. Ele consegue ter, em regiões fora do eixo de São Paulo, um conhecimento maior do que qualquer político brasileiro conseguiu ter em anos porque tem conseguido se apropriar da rede social. E olha que não está usando as ferramentas mais modernas usadas nos Estados Unidos e na Europa, um algoritmo que, em vez de você fazer uma mensagem para Brasília, por exemplo, você fala para Taguatinga ou para o Guará. Uma ferramenta Door to Door (porta a porta), onde você consegue fazer a mensagem individualizada. É algo que mudou por completo as relações políticas e quem não perceber isso vai ficar fora.

– Mas ele tem musculatura para sobreviver a uma campanha real?

– O Doria não é candidato. Ele tem dito, insistentemente, que o candidato dele é Geraldo Alckmin. E o partido tem outras opções além do Alckmin, tem Aécio Neves, Tasso Jereissati, Antonio Anastasia, José Serra e pode ter Doria, mas não posso tratá-lo como candidato quando ele próprio diz que não é.

– O senhor defende prévias no PSDB?

– Se houver disputa. Nas últimas eleições, o PSDB conseguiu consenso. É uma cultura boa quando bem exercida. Você consegue dar vitalidade, vida partidária, o que é interessante.

– Qual a previsão para 2018?

– É o ano da imprevisibilidade. Quem estiver prevendo está fazendo um chutômetro enorme. Tem um conjunto de incertezas que estão fora do alcance dos partidos e dos próprios candidatos. O Brasil já viveu a desesperança, mas agora não é só desesperança é revolta, indignação, intolerância. As pessoas estão de saco cheio.