Cinema: Ingmar Bergman ocupa um lugar de destaque entre os símbolos imortais da 7ª Arte

Há oito anos o mundo e o cinema se despediam de Ingmar Bergman. No dia 30 de julho de 2007, aos 89 anos, o diretor sueco dava seu adeus. Se encontrava, enfim, com um dos grandes dilemas que permearam suas principais obras: o sentido da existência, o retorno ao princípio, a enigma da finitude.

Educado numa família sueca de valores rígidos, filho de um pastor luterano, ele vivenciara desde muito cedo o autoritarismo, as imposições morais e religiosas, um “vigiar e punir” que o marcaria por toda a vida, fazendo-o questionar em seus filmes as contradições e deficiências das estruturas sociais conservadoras, do tradicionalismo cultural. Buscara obter respostas às suas indagações internas através do cinema.

O cinema de Bergman toca em questões humanas de forma densa, vai além, percorre os recônditos mais profundos e sombrios da alma com uma sensibilidade única – que também é forte e corrosiva, tal qual se mostra a Vida e seus encadeamentos. Filmes como O Sétimo Selo (1956), Persona (1966), Morangos Silvestres (1957), Gritos e Sussurros (1972), Através de Um Espelho (1961), Luz de Inverno (1962)e O Silêncio (1963) – que compõem a Trilogia do Silêncio  – ilustram primorosamente a genialidade e o olhar apurado e sensível desse realizador que segue como um dos maiores ícones da cinematografia mundial.

Ele talvez tenha sido quem melhor conseguiu conciliar as duas linguagens cinematográficas:  a das imagens e a dos diálogos, o cinema imagético e o dialógico. Sua filmografia é referência na construção da narrativa para cinema. Seus planos e enquadramentos, os close ups contemplativos e intimistas, que revelam a essência das personagens, seus sentimentos e anseios; da luz e sombra na composição dos filmes em preto-branco às cores fortes de Gritos e Sussurros e Fanny e Alexander (1983) – considerado seu último grande filme – a identidade visual bergmaniana é bem delimitada.

Os temas abordados por Bergman o tornam universal e atemporal. Ao dissecar, através de seus filmes, os dilemas, ambiguidades e desejos latentes do indivíduo ele rompeu as fronteiras da Suécia e ganhou o mundo. A religiosidade, o medo da morte, o sentido da existência, a comunicação entre as pessoas, a partilha de sentimentos, a busca por uma identidade diante da fragmentação do Ser, foram questões abordadas em seus argumentos de cinema.

Mergulhar nas profundezas da emoção e da existência humana através da imagem e das palavras, buscar um sentido, a revelação de um caminho para seguir, estão no eixo central da obra de Bergman. O diretor sueco fazia cinema como um modo de dar vazão às suas próprias inquietudes. Dirigiu, ao longo da sua profícua carreira, 49 filmes, tendo 43 sido produzidos para tela grande e outros seis no formato de filmes para TV, como seu último, Saraband (2003), feito todo em cinema digital. Realizava, em média, um filme por ano, chegando até a realizar mais de um no auge de seu fluxo criativo. Também atuou por algum tempo como diretor de teatro, cuja experiência e parte da estética teatral foram incorporadas à sua mise-en-scène cinematográfica.

Entre as figuras artísticas recorrentes na sua filmografia, estão como os atores Harriet Andersson, Erland Josephson, Max Von Sydow, Ingrid Thulin, Gunnar Bjornstrand e Liv Ullman, atriz que tem presença marcante na obra de Bergman e com quem ele teve um romance e uma filha. Liv hoje diretora de cinema.

Ingmar Bergman deixou um legado inestimável a Arte e a cultura. No cinema, conseguiu o que pouquíssimos realizadores alcançam: imprimir uma marca, criar uma identidade narrativa e visual. Sua obra é extremamente densa e plena de caminhos, uma fonte inesgotável de inspiração e possibilidades artísticas. Cumpriu um papel importante e hoje ocupa um lugar de destaque entre os símbolos imortais da Sétima Arte.