Quem tem mais de 40 anos de idade assistiu à ‘morte’ dos cinemas do Centro de João Pessoa. Os três mais importantes – Rex, Plaza e Municipal – ficavam todos no mesmo perímetro com um pouco mais de 1 km. Todos administrados pelo empresário Luciano Wanderley. Fecharam porque não conseguiram concorrer com a TV, com as locadoras e com os cinemas de shopping center. Fecharam e foram transformados em igreja, loja de
eletroeletrônico e agência bancária. Deixaram saudade e mantêm um lugar na história.

Uma história que será resgatada na tarde desta quarta-feira. O professor e crítico de cinema André Dib comandará uma expedição pelos antigos cinemas do Centro de João Pessoa. Somente no centro eram quase dez salas de cinema, conforme Dib. O encontro
será às 14h, no Ponto de Cem Réis.

“A convite do professor Fernando Trevas estive na UFPB para conversar com uma turma de graduação em cinema sobre as antigas salas de Pernambuco e Paraíba. Ativistas, arqueólogos da comunicação, arquitetos,  historiadores, antropólogos, saudosistas, estudantes ou simplesmente curiosos: é só chegar”, disse ele.

Dib está fazendo um mapeamento dos cinemas de João Pessoa (e de outras cidades do Estado), mas esta expedição desta quarta-feira é dedicada aos cinemas do Centro. “Torre, Cruz das armas e Jaguaribe ficam de fora dessa vez, mas serão incluídos em uma outra etapa da expedição”, garantiu o pesquisador.

Ele avalia que os cinemas de bairros fazem muita falta. Os prédios com as salas de projeção eram, conforme ele, integrados à paisagem urbana. “Hoje estão confinados nos centros de compra. No fim dos anos 1990, o sistema multi-salas mostrou ser mais viável manter dez salas de 150 cadeiras do que uma grande sala de mil lugares”.

Foi um novo modelo de negócio, de acordo com Dib, para acompanhar, na época, o avanço da TV a cabo e outras formas de home video.  “O conceito do multiplex lembra muito o do controle remoto, e hoje o menu NetFlix, não acha? Algumas décadas atrás, o centro da
cidade era o nosso NetFlix, com vários filmes em cartaz”, declarou ele, propondo uma
reflexão sobre o tema.

O Cine Plaza durou quase 70 anos! Importante lembrar que a migração do espectador para as salas de cinema dos shopping centers  também encontra reposta no fator ‘sensação de segurança’ e no elemento ‘sensação de elevação de status quo’… Ainda assim, Dib destaca a permanente mutação das tecnologias e dos comportamentos.

“Sem dúvida. Mas, lá pelos anos 1960, ir ao cinema era um ato social. As pessoas se arrumavam como quem ia para a missa. O Ponto de Cem Réis era lotado aos sábados, com o público que saía do Rex, Plaza e Municipal. O que acontece é que o Centro foi abandonado. Esse é um sintoma de toda grande capital brasileira. Virou sinônimo de sujeira e perigo. E isso não acontece por acaso, o abandono. Basta você pensar no interesse imobiliário, por exemplo”, avaliou.