Cinco estados brasileiros bateram recorde de mortes por Covid-19 em janeiro

O Brasil registrou, em janeiro, 29.558 mortes por Covid-19, segundo dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. O número é o terceiro mais alto desde o início da pandemia e o maior desde julho – quando o país teve o recorde mensal de mortes pela doença.

Cinco estados tiveram recordes de óbitos, e cerca de 10% das mortes do país foram vistas no Amazonas.

Janeiro também é o segundo mês consecutivo em que as mortes de um mês superam as do mês anterior. O aumento percentual em relação a dezembro é de 35,5%.

As médias móveis diárias calculadas pelo consórcio de imprensa também apontam que houve uma tendência nacional de aumento nos óbitos por 14 dias consecutivos de janeiro – do dia 8 ao dia 21.

O dado referente a janeiro foi calculado subtraindo-se as mortes totais de dezembro (194.976) do total de mortes até 31 de janeiro (224.534). Os números dos meses anteriores foram determinados com a mesma metodologia (veja mais ao final da reportagem).

Recordes de mortes nos estados

Cinco estados tiveram recordes de mortes mensais em janeiro: Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rondônia.

Com 2.832 óbitos por Covid no mês passado, o Amazonas teve 9,6% do total de óbitos no país. O estado tem mostrado, de forma ininterrupta, uma tendência de alta diária na média móvel de mortes por Covid desde 22 de dezembro.

Em Manaus, o colapso dos sistemas de saúde, com a falta de oxigênio nos hospitais, fez com que mais de 300 pacientes tivessem que ser transferidos para outros estados e que cilindros com o gás tivessem que ser doados pela Venezuela. Até agora, ao menos 14 estados já receberam pacientes do Amazonas.

No interior do estado, 14 pacientes morreram enquanto aguardavam transferência para a capital.

Em Minas Gerais, 3.158 pessoas perderam a vida para a Covid em janeiro. Belo Horizonte voltou a reabrir o comércio nesta segunda-feira (1º) depois de três semanas de fechamento. A cidade também retoma as aulas na rede municipal nesta segunda – mas, por enquanto, apenas de forma remota.

No Paraná, foram registrados 2.041 óbitos por Covid em janeiro. O estado foi um dos que receberam pacientes de Rondônia e do Amazonas. Em Ponta Grossa, a prefeitura prorrogou o toque de recolher; já em Londrina, o prefeito descartou a adoção de medidas restritivas.

Em Mato Grosso do Sul, foram 580 mortes em janeiro. Dezembro havia registrado o recorde anterior mensal no estado, com 560 mortes. Nos últimos três dias, a tendência na média móvel diária nos óbitos tem sido de queda.

Em Rondônia, foram 427 vidas perdidas em janeiro, levando o número total a 2.244. O governo também precisou transferir pacientes para outros estados.

Em Roraima, apesar de não ter havido recorde de mortes, há uma tendência de alta diária na média móvel de mortes por Covid desde 18 de janeiro. O hospital geral do estado atingiu a superlotação de leitos clínicos no dia 30, e, naquela data, não havia leitos de UTI disponíveis. Nesta segunda-feira (1º), a ocupação de leitos semi-intensivos chegou a 100%.

O estado tem 856 mortes pela Covid, das quais 69 foram vistas em janeiro. O recorde é de julho, quando 222 pessoas morreram pela doença.

Única queda e mortes por estado

O Maranhão foi o único que teve queda nas mortes em janeiro: 197 pessoas perderam a vida para a Covid-19 no estado. O número é o menor desde o início da pandemia, se o dado de março – quando houve uma morte – não for considerado. O estado teve o seu maior número de óbitos em junho, quando 1.072 pessoas morreram de Covid.

Em janeiro, os estados registraram as seguintes mortes por Covid-19, segundo as secretarias de Saúde:

  1. SP: 6.317
  2. RJ: 4.281
  3. MG: 3.158
  4. AM: 2.832
  5. PR: 2.041
  6. RS: 1.797
  7. SC: 1.087
  8. BA: 968
  9. ES: 777
  10. PE: 694
  11. GO: 683
  12. MT: 609
  13. MS: 580
  14. CE: 484
  15. PA: 456
  16. RO: 427
  17. PB: 384
  18. DF: 295
  19. SE: 294
  20. RN: 292
  21. AL: 257
  22. PI: 225
  23. MA: 197
  24. TO: 148
  25. AP: 134
  26. AC: 72
  27. RR: 69

Nova variante e relaxamento nas medidas

Especialistas ouvidos pelo G1 creditam o aumento das mortes no país às festas de fim de ano e à variante detectada no Amazonas, mais transmissível. Eles também preveem que o colapso visto em Manaus deve se repetir no resto do Brasil.

“Manaus está sempre à nossa frente. O que acontece em Manaus vai acontecer em outros lugares. É uma questão de tempo”, afirma Ethel Maciel, enfermeira epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Maciel avalia que, sem campanhas de conscientização ou medidas restritivas e com o espalhamento da nova variante, muitas pessoas ainda irão morrer.

“Nós não reconhecemos o problema, continuamos como se o vírus não estivesse aqui. Ele está matando e vai matar muita gente. Essa variante no Brasil se espalha muito rápido e tem muitos indícios de que despista o sistema imune. E a gente continua com tudo aberto, tudo normal”, diz.

O médico e pesquisador Marcio Bittencourt, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a situação da pandemia ainda é diferente de um estado para o outro, mas faz previsões semelhantes.

“O que a gente tem em janeiro é o aumento [de casos e mortes] em várias regiões, em grande parte relacionado às medidas de flexibilização. As pessoas não estão fazendo [as medidas de prevenção], estão se contaminando mais e morrendo mais. Isso é o principal”, afirma.

“O segundo ponto é a saturação da estrutura hospitalar – que faz com que pessoas que deveriam conseguir sobreviver acabem falecendo porque o sistema colapsou, foi incapaz de oferecer assistência à saúde, em vários aspectos, na Região Norte, principalmente na região que tem Manaus como referência”, explica Bittencourt.

Existe, ainda, a questão da nova variante do coronavírus na região – mais transmissível.

“[Há] uma nova variante do vírus – que caracteriza maior transmissibilidade e, aparentemente, quadros mais graves, potencialmente justificando parte da mortalidade. A curva de mortalidade lá é impressionante, muito maior que no ano passado. Pessoas de 40, 50, 60 anos morrendo”, diz o médico.

Por fim, Bittencourt lembra que esta é a época de gripe no Norte do país. “Se tudo seguir esse padrão, a gente vai ter um novo episódio nos próximos meses – março, abril, maio no Nordeste e, mais para frente, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Vai haver uma piora sazonal independentemente da variante”, afirma.

No dia 20, o Amazonas registrou mais de 5 mil novos casos de Covid, um recorde; 3,6 mil foram detectados em Manaus.

Vacinação

O mês passado também viu o início da vacinação contra a Covid no país. No dia 17, São Paulo foi o primeiro a começar a aplicação da CoronaVac, minutos depois da aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O balanço da vacinação contra Covid-19 no país aponta que, até domingo (31), 2.051.295 doses de vacina já haviam sido aplicadas no país.

Metodologia

O consórcio de veículos de imprensa começou o levantamento conjunto no início de junho. Por isso, os dados mensais de fevereiro a maio são de levantamentos exclusivos do G1. A fonte de ambos os monitoramentos, entretanto, é a mesma: as secretarias estaduais de Saúde.

Outra observação sobre os dados é que, no dia 28 de julho, o Ministério da Saúde mudou a metodologia de identificação dos casos de Covid e passou a permitir que diagnósticos por imagem (tomografia) fossem notificados. Também ampliou as definições de casos clínicos (aqueles identificados apenas na consulta médica) e incluiu mais possibilidades de testes de Covid.

Desde a alteração, mais de mil casos de Covid-19 foram notificados pelas secretarias estaduais de Saúde ao governo federal sob os novos critérios.

Do G1.