Cidade do futuro terá carbono-zero e será controlada por inteligência artificial

Se você vive em uma grande cidade brasileira, como é o caso de São Paulo ou Rio de Janeiro, sabe bem como é difícil ter de conviver com o trânsito, com o barulho e toda a poluição de uma metrópole. Viver em um lugar em que tudo o que é essencial está a, no máximo, cinco minutos de caminhada parece até uma utopia, não é?

Pois uma cidade assim deve ser construída em breve na Arábia Saudita. E o melhor de tudo: livre de carbono. Ou seja, além de todo o conforto de um lugar onde tudo é perto, o morador ainda vai poder viver em uma região que não polui e que colabora por um planeta melhor.

O projeto é chamado The Line (A Linha), foi anunciado no último dia 10 de janeiro e faz parte de um complexo de cidades inteligentes batizado de Neom, a ser construído na província de Tabuk, no noroeste da Arábia Saudita.

The Line tem esse nome porque é projetada para ser uma cidade linear. Ela vai ter 170 km de extensão em linha reta. A ideia é que tudo fique a uma distância de apenas cinco minutos a pé. Além disso, usando o transporte público —e limpo— vai ser possível percorrer o local de ponta a ponta em 20 minutos.

Toda a infraestrutura da cidade será subterrânea. Água, gás, luz e transporte serão planejados para ficar sob a terra. E, claro, tudo vai ser controlado por inteligência artificial. Como se trata de uma cidade carbono-zero, toda a energia utilizada em The Line será renovável.

Mais detalhes dessa cidade você encontra no blog do Renato de Castro, nosso colunista aqui em Tilt. Ele, aliás, que é um dos grandes especialistas brasileiros em cidades inteligentes, falou conosco sobre esses projetos quase utópicos. Sim, reparem no uso do plural. The Line está longe de ser a primeira iniciativa nessa linha.

Outros projetos pelo mundo

Masdar City, por exemplo, é uma pequena cidade carbono-zero que está sendo construída em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. “Masdar nasce como a primeira cidade carbono-zero. Por lá, a ideia era ter o primeiro sistema de veículos autônomos do mundo, com rotas pré-programadas com um cinturão de rota eletromagnética”, explica Castro.

É bom lembrar que é justamente pelas bandas dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita que vem boa parte do petróleo que abastece —e também polui— o planeta.

Daí vem não só a preocupação desses governos com a emissão de carbono, mas também o dinheiro, mais do que necessário para financiar empreendimentos tão revolucionários. E estamos falando de países governados por mãos de ferro, deficientes em transparência e processos democráticos, o que acaba facilitando na hora de aprovar projetos megalomaníacos como esses.

“Para fazer uma cidade do zero, você passa por cima de um monte de discussões. Essas questões são mais fáceis de serem resolvidas em países com menos liberdade. Além disso, o Oriente Médio tem dinheiro e tem reputação de saber executar projetos. Eles são, hoje, agentes de promoção de mudança no mundo”, opina Castro.

Quando chega ao Brasil?

É possível transformar as nossas cidades, já repletas de problemas, em lugares inteligentes e com zero carbono? Para o professor Julio Romano Meneghini, da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), é sim. Ele que também é do Research Centre for Gas Innovation, um dos principais centros de pesquisas em energia limpa do país, afirma que é fundamental encontrar maneiras sustentáveis de geração de energia em grandes cidades.

“Na verdade, todas as cidades terão de buscar um caminho que envolva sustentabilidade. Algumas cidades alcançarão isso mais facilmente, em outras isso será mais difícil. No entanto, teremos que ter uma economia mundial essencialmente neutra em emissões de carbono até 2050 para evitar mudanças climáticas catastróficas”, completou.

E para que isso ocorra é necessário encontrar e encorajar novas formas de geração de energia e a utilização de biocombustíveis. Ou seja, o desafio não é fácil e, provavelmente, nossa geração não vai viver num paraíso inteligente como The Line. Mas conseguir diminuir drasticamente a emissão de carbono nos próximos anos nas nossas cidades já vai ser um excelente negócio.

Do Uol.