Cartaxo, João e o silêncio dos coniventes

Pau que bate em Chico (não) bate em Francisco. É interessante a sabedoria popular, porque é dela que vem as maiores verdades do mundo. Esse ditado, em especial, que trago à tona neste momento serve para ilustrar duas situações idênticas em natureza, mas diferentes no tratamento.

A Lei de Orçamento Anual (LOA) do Governo do Estado e da Prefeitura de João Pessoa, aprovada pelos Legislativos estadual e municipal, depenou as suas respectivas Secretarias de Comunicação.

No caso da Secom-JP, os vereadores, de quinhão e quinhão, foram tirando tudo do orçamento para fazer suas emendas. Com todo esse remanejamento, a pasta, cujo titular é Josival Pereira, ficou com um total de zero reais para viver e morrer durante todo 2020. Um orçamento que foi relatado por um vereador da base, Carlão, e aprovado.

Já os deputados estaduais, durante apreciação da LOA, resolveram fazer suas emendas sangrando a Comunicação Institucional do Estado. Tirando despesas com folha de pessoal, foram subtraídos aproximadamente R$ 23 milhões de um orçamento para a Secom Estadual de um pouco mais de R$ 29 milhões.

O que fazer diante de tamanha penúria? Usar do recurso legal que é a suplementação do orçamento. E foi assim que Luciano Cartaxo e João Azevêdo o fizeram.

Antes de irmos a esse capítulo desta história, que não caberia sequer escândalo, nem ação popular oportunista, é importante ressaltar a necessidade de ações de comunicação em meio a essa pandemia. É através da Comunicação Institucional que a população tem acesso a informações essenciais, pronunciamentos, orientações de como cada ente está agindo no combate ao novo coronavírus. Ou estamos vivendo na ilha da fantasia? Como são pagas as campanhas publicitárias nesse sentido nas emissoras de TVs, rádios, assim como nos meios eletrônicos (portais e blogs)?

Nas vésperas do feriadão do Carnaval, no apagar das luzes, o prefeito Luciano Cartaxo fez uma suplementação de R$ 18,5 milhões para a Comunicação Institucional municipal. O mesmo movimento foi feito pelo governador João Azevêdo, que em 27 de março suplementou à Secom Estadual com R$ 7,5 milhões, valor que foi reposto do que havia sido retirado da pasta pelos deputados lá na LOA 2020. As ações tiveram exatamente a mesma finalidade: divulgação das atividades da gestão.

Mas pau que bate em Chico não bate em Francisco. O circo se faz diante do ato de João, em que o valor é 40% inferior à suplementação para a PMJP, mas a lona circense sequer é desdobrada para Cartaxo. Para o governador, os afrontes com dribles argumentativos e dedo em riste. Para o prefeito, o silêncio dos coniventes.

Informar e conscientizar mais de 4 milhões de pessoas, em tempos de pandemia, deve sair mais caro do que informar uma população de 809 mil pessoas, não? A matemática é básica. Básico também é o real sentido dos ataques ao gestor estadual. Típico de uma gente que prefere politizar a qualquer custo, sob qualquer perspectiva, mesmo no momento em que presenciamos mortes e a proliferação de uma doença letal, onde o poder público é a maior arma para conter tudo isso.

Não é momento para isso. A missão é focar na saúde pública e no investimento público. E nunca é demais lembrar: o que cura a picada da cobra é seu próprio veneno.