Cartaxo, Fulgêncio e Diego são flagrados supostamente negociando propina

O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), e os secretários Adalberto Fulgêncio e Diego Tavares, das Secretaria de Saúde e Desenvolvimento Social respectivamente, foram flagrados em um áudio supostamente negociando propina. Possivelmente a reunião aconteceu durante o período eleitoral do ano passado. O áudio foi divulgado nesta quinta-feira (28), na coluna de Wellington Farias, no portal PB Agora. Ouça:

Nos momentos iniciais da gravação, Adalberto conta que nos próximos dias iria conversar com três fornecedores e chama a atenção de Cartaxo. “Luciano, deixa eu te falar um negócio antes, eu só posso falar isso aqui, vamos falar de dinheiro”, frisa.

O secretário de Saúde diz que há “reconhecimento de dívida lá”, de algumas empresas, e pelo seu orçamento só deve ter de R$ 300 a R$ 400 mil na “25”. Cartaxo responde: “Certo”.

Adalberto segue tratando de valores, porém, começa a relacionar com empresas, possivelmente fornecedores. “Mas tem R$ 2 milhões na ‘zero zero’, aí o ‘caba’ queria como foi em 2016, além do que a gente ficava pagando [inaudível]. Tem ainda Kairós. Kairós deve ter R$ 1 milhão, ‘tô’ dando um chute aqui. Mas se botar na ‘zero zero’ tem como pagar. Eu não tenho na ’25’. Você autorizando isso eu acho que dá pra pegar aí R$ 1 milhão, 1 milhão e meio”.

Neste trecho, Cartaxo é direto quanto as negociações. “Mas a gente tem que pagar a mais para poder pegar R$ 1 milhão”, destaca. Fulgêncio concorda. “Tem que ser um que dê pra pagar de R$ 300 a 400 mil”, diz o prefeito. Para Fulgêncio, até R$ 2 milhões dá para pagar na ‘zero zero’, e de R$ 1 milhão vai tirar R$ 200 mil .

Margem maior

Cartaxo diz que é necessário ver o custo da operação. “Por exemplo, tem um negócio desse lá na Emlur. Se for para pagar num sei quanto para a Emlur para tirar um negócio menor, se tem uma margem maior de resolutividade aqui, se vai tudo para a ‘zero zero’, entendeu, é melhor resolver”, afirma.

Fulgêncio explica que na ‘zero zero’ a Secretaria de Finanças bota no fundo e ele paga pelo “fumo”. É então que Diego Tavares começa a interagir na conversa: “Tem que ver quanto é que são os dois, quanto é que chega”.

O prefeito sugere alternativas mais rápidas e menos burocráticas. “Mas tem que ter uma negociação. Porque se não eu vou pagar lá na Emlur para chegar 30%, e se eu fizer na Saúde que chega a 40%, é preferível resolver o problema na Saúde que é mais rápido, não tem tanta burocracia”, diz Cartaxo.

Negócio com povo complicado

Cinto de segurança. Assim que foi classificada a empresa de segurança Kairós, pelo secretário Adalberto Fulgêncio. “A Kairós é um cinto de segurança, acho que aquele ‘caba’ não é… a gente pode falar. Tem aquele ‘caba’ do Rio de Janeiro da RTS, lembra?”, afirma o secretário de saúde, enumerando empresas.

A RTS é uma empresa especializada na venda, locação e assistência técnica autorizada de equipamentos hospitalares. Ela tem filial no Rio Grande do Norte.

Cartaxo ressalta que não pode ficar na “ficção”, e Fulgêncio concorda. “Eu quero uma coisa segura, morreu. Ficção, EspeciFarma, num tem condições, porque eu não tenho como pagar. Eu não vou trazer um problema não, a ‘Especi’ fica me chantageando. Eu digo ‘meu amigo, faça o que você quiser’, não tenho condição”, conta o secretário.

“Reabrir negócio com um povo que é complicado, depois a gente fica aí”, afirma Cartaxo. Diego intervém novamente. “Não é nem que é complicado. Não pode, não pode”, diz o atual secretário de Desenvolvimento Social. “Mas não pode”, frisa o prefeito.

Decidir de onde tirar e ‘mapinha’

Luciano Cartaxo pede que no dia seguinte Fulgêncio e Diego façam um resumo das articulações, para ele decidir de onde tirar, provavelmente, dinheiro.

“É o seguinte. O que é que a gente tem que fazer, amanhã, nós três sentar [sic], vocês explicam mais ou menos o que é, porque eu tenho que decidir, tirar de algum canto para fazer isso. Fazendo o serviço… e tiver uma agilidade, aí você vai e resolve. Nós vamos botar ‘X’ aqui e vai passando. Isso aí nós vamos fazer um mapinha para ver até onde a gente pode ir com isso, entendeu? Acho que daí dá para a gente voltar pra essa estratégia nossa”, arremata Cartaxo.

O áudio encerra com o prefeito citando uma carreata, o que possivelmente indica o período da gravação. “Do jeito que vocês estão dizendo aí, essas carreatas, acho que a gente pode…”, finaliza.