Carrefour e Pão de Açúcar vendem carne de marcas da ‘lista suja’ do trabalho escravo

Três grandes redes de supermercado compraram produtos de frigoríficos que possuem, entre seus fornecedores, pecuaristas flagrados usando mão de obra análoga à escravidão. Tratam-se dos grupos Carrefour, Pão de Açúcar (GPA) e Cencosud, que, juntos, possuem mais de 2.000 lojas espalhadas pelo país, inclusive na Paraíba.

A investigação identificou três frigoríficos – Frigotil, Frigoestrela e Boi Brasil – que vendem carne para as redes de supermercado, mas que compraram o gado de fazendas incluídas na ‘lista suja’ do trabalho escravo – cadastro do Governo Federal que identifica pessoas e empresas flagradas praticando esse crime.

Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e Cencosud estão entre os quatro maiores grupos varejistas do país. As três redes se comprometeram no passado a não comprar produtos de empregadores que estão na ‘lista suja’. Carrefour e Pão de Açúcar assinaram o Pacto Nacional Pela Erradicação do Trabalho Escravo, de 2005, enquanto a Cencosud assinou carta de compromisso no ano passado.

Das três empresas, apenas o Pão de Açúcar suspendeu seus fornecedores, segundo informou a diretoria de Sustentabilidade do grupo.

O Carrefour afirmou que aguarda posicionamento de seu fornecedor, enquanto o Cencosud negou ter comprado carne de frigoríficos que negociam com fazendeiros incluídos na ‘lista suja’ do trabalho escravo.

Pecuaristas na ‘lista suja’

Carlinhos Florêncio, deputado estadual pelo PCdoB no Maranhão, foi um dos pecuaristas identificados na investigação como fornecedor de carnes ao frigorífico que vende para as lojas do Pão de Açúcar.

Ele foi autuado por submeter nove trabalhadores à escravidão na Fazenda Tremendal, em Parnarama (MA). O deputado foi incluído na ‘lista suja’ em abril de 2018 e permaneceu no cadastro até novembro daquele ano, quando obteve uma liminar judicial para que seu nome saísse do documento. Antes disso, entre maio e setembro, ele forneceu gado à unidade de abate do Frigotil em Timon.

A reportagem tentou contato com o gabinete do deputado por telefone e e-mail, mas não obteve retorno. Em entrevista ao Uol em 2018, seu advogado alegou que a inclusão de Florêncio na ‘lista suja’ era injusta pois, apesar de ser o proprietário da fazenda, seus irmãos eram os responsáveis pela administração. O mesmo argumento foi acolhido pelo Judiciário na decisão que retirou o seu nome da ‘lista suja’.