Carrapato: 10% das pessoas querem se desfazer de cães no Zoonoses de João Pessoa

Qual é o limite do corpo de um animal? O Verão é a estação em que se põe à prova todas as limitações dos animais de estimação e cabe ao dono ter a sensibilidade de perceber quais são as necessidades deles. Ainda que a estação seja a mais quente do ano, isso não representa aumento na administração de água para o animal ou restrições na dieta dos pets. Porém, a alta temperatura requer maior atenção quanto à higienização de ambientes e do próprio animal, para que se reduzam as chances de infestação de carrapatos e infecção de sarna.

Da média mensal de 400 pessoas que procuram o Centro de Vigilância Ambiental e Zoonoses de João Pessoa, 40 procuram o serviço para se desfazerem de seus animais por que foram acometidos por carrapatos e sarna, representando 10% da demanda. Deste quantitativo, 70% dos casos são cães infestados por carrapatos. O grande problema é que o Centro não atende esse tipo de demanda, o que gera frustração nos donos dos respectivos animais.

“Acontece que as pessoas acham que todo problema com cães e gatos, tem que trazer o animal para cá. Nós só trabalhamos com as zoonoses, que são doenças transmitidas ao homem, como leptospirose, dengue e raiva, por exemplo. Todas as demais doenças que acometem os animais deve-se procurar atendimento veterinário. Repito: nós não fazemos clínica veterinária. Em casos de infestação por carrapatos, é comum os donos quererem deixá-los aqui. É complicado de explicar para aquela pessoa que o cachorro está daquele jeito porque foi ele que não cuidou. E a gente não pode ficar com animais com esse tipo de problemas”, explicou o coordenador do serviço, Nilton Guedes.

Carrapatos se reproduzem através de ovos e quando o cão ou qualquer outro animal tem contato, se alojam no corpo e passar a se alimentar de sangue. Se não for detectado a tempo, o parasita pode se alojar na corrente sanguínea do animal, provocando além de anemia, outras doenças hemoparasitárias, como febre, irritação e inflamação. “E essas doenças fazem com que o animal tenha uma debilitação muito rápida. Dependendo do tratamento dado ao animal, o tempo em que ele pode ficar debilitado varia. Mas se os animais forem jovens, com 20 a 30 dias estarão debilitados. Se não tiver cuidado, ele pode vir a óbito”, afirmou o médico veterinário Marcelino Xavier.

Inicialmente, quando o cão está infestado com carrapato, a doença é assintomática. “Quando ele já está com a infestação mais avançada, começa a perder o apetite, perde a alegria, fica apático, porque o carrapato vai se alimentando do sangue e sem isso, não há energia. Debilitado dessa forma, fica mais fácil de ser infectado com sarna e até viroses. Nesse caso, a debilitação do animal propicia o desenvolvimento delas”, esclareceu.

E quando o cão é infectado com sarna, o problema é bem maior e mais doloroso. Isso por que ela provoca, inicialmente, a queda de pelos, estes que são responsáveis pela proteção do corpo do animal. “Depois que a pele fica descoberta, com a coceira, aparecem ulcerações. Cada uma delas é uma porta de entrada para bactérias, porque ele anda e se deita por todo canto, e a ulceração estando aberta, a tendência é ele ter problemas com câncer de pele. Isso é muito normal no cão em nossa região, por conta da temperatura alta e exposição excessiva ao sol.”, declarou.

Higienização é a palavra-chave para reduzir as chances de infestação ou infecção de parasitas em cães. “Normalmente, a reprodução do carrapato é no exterior, na residência, não é no animal como se pensa. Se tiver molhado, os ovos se perdem. Mas quando o período é seco e temperaturas elevadas, é bem mais fácil do animal ter contato com cães. O proprietário deve ter maior cuidado com a higienização de seu ambiente e do animal. O animal tem que ter um local adequado para viver, tomar banhos regularmente, fazer os tratamentos antiparasitários e ser levado periodicamente ao médico veterinário”, disse.

Medicação apenas com prescrição médica

Se é comum encontrar pessoas que se automedicam quando sentem dores de cabeça, imagine quando elas são proprietárias de pets e percebem que estão padecendo de algo. Para o médico veterinário Marcelino Xavier, infelizmente essa é uma prática comum e que é prejudicial ao animal. “Às vezes as pessoas percebem que o animal está infestado de carrapato, dá o medicamento para o animal e se esquece de também higienizar a própria casa. Aí o animal volta a ser infestado e a tendência é o carrapato criar resistência ao medicamento”, justificou.

O recomendável sempre é levar o animal a um pet shop quando “o dono perceber que ele está sofrendo com parasitas, para que seja avaliado por um veterinário” e q ue as pessoas, muitas vezes, “preferem tratar sozinhas as sarnas e sem saber que há vários tipos dessa doença e que o tratamento varia, entre medicação tópica, oral e injetável, vai depender sempre da avaliação veterinária”, alerta.

“O risco dessa medicação sem prescrição veterinária, dependendo do grau de debilidade do animal, é a morte. Tanto as doenças por carrapatos e sarna, são curáveis. Depende do cuidado que o dono vai ter com o animal. Como o animal não fala e não diz para o dono o que está sentindo, quando o dono finalmente decide levar a um veterinário, já não tem mais o que fazer com o animal. Há casos que se precisa de transfusão de sangue. Em humanos, equinos, bovinos, são bem mais fáceis de fazer, mas em caninos e felinos, é o maior sacrifício”, declarou.