Cantor paraibano que gravou Bob Dylan diz que Nobel do cantor é vitória da cultura pop

O cantor e compositor paraibano Zé Ramalho, em cuja obra convivem canções próprias e versões de músicas de Bob Dylan, recebeu com muito entusiasmo, na manhã de quinta-feira, no Rio de Janeiro, a notícia de que o americano tinha sido agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 2016.
— Toda a cultura pop foi premiada junto com Bob Dylan — disse, por telefone, o cantor, que fez sucesso com “Batendo na porta do céu” (versão de “Knocking on Heaven’s door”) e que, em 2008, lançou o CD e DVD “Zé Ramalho canta Bob Dylan — Tá tudo mudando”. — A expressão poética de Dylan mudou gerações no mundo inteiro.
E chegou até lá em Brejo do Cruz (cidade natal de Zé). Ele fez algo que beneficiou a qualidade de vida do ser humano.
A primeira canção de Bob Dylan que o cantor lembra ter ouvido foi “Don’t think twice, It’s all right” (do álbum “The Freewheelin’ Bob Dylan”, de 1963). A descoberta, conta, foi libertadora.
— Até então, eu não achava que era possível fazer música com mais de dois minutos e meio. As letras do Dylan contavam histórias inteiras e me mostraram que você poderia dizer, na canção, tudo o que você queria dizer — recorda-se Zé, que abriu mão dos royalties das suas versões em português para obter do compositor o direito de gravá-las. — Não me considero um seguidor de Dylan, mas posso dizer que aprendi muito com ele.
Em 2008, Zé Ramalho fez uma tentativa frustrada de encontrar pessoalmente o americano, nos bastidores do show que ele fez no Rio, na HSBC Arena. Acabou tendo que se contentar em apenas assistir ao espetáculo.
— Ele entrou no palco tão sem pompa que, quando me dei conta, o show tinha começado — conta Zé, para quem “não existe uma pessoa mais infeliz na face da Terra do que Bob Dylan”. — O olhar de Dylan é o de um homem triste, a humanidade está toda ali, no sofrimento dele. E é isso que dá motivação para fazer o que ele faz.