Candida auris: 1º caso de ‘superfungo’ em PE foi descoberto em exame de rotina

The director of the National Reference Centre for Invasive Fungus Infections, Oliver Kurzai, holding in his hands a petri dish holding the yeast candida auris in a laboratory of Wuerzburg University in Wuerzburg, Germany, 23 January 2018. There has been a recent rise of cases in Germany of seriously ill patients becoming infected with the dangerous yeast candida auris. Photo: Nicolas Armer/dpa (Photo by Nicolas Armer/picture alliance via Getty Images)

A descoberta da presença do “superfungo” Candida auris em um paciente do Hospital da Restauração (HR), no bairro de Derby, na área central do Recife, foi feita pela microbiologista Camylla Carvalho de Melo. Ela explicou que a identificação foi feita em um exame de rotina. Há outros dois casos suspeitos em investigação laboratorial.

Segundo a Anvisa, a confirmação representa o terceiro surto de Candida auris no país. O “superfungo” resistente a medicamentos é responsável por infecções hospitalares. Camylla Carvalho de Melo explicou que o pacientes foi colonizado com o microrganismo, ou seja, apesar de portar o microrganismo, não apresentou sintomas.

A microbiologista do HR afirmou que as primeiras análises dos casos foram feitas no laboratório de microbiologia da unidade de saúde, que é automatizado. O exame de urina do homem de 38 anos levantou a suspeita e a amostra foi encaminhada para o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA), que confirmou a presença do fungo na segunda (10).

“Fizemos uma primeira análise e observamos 97% de probabilidade da espécie fúngica. Então, enviamos a amostra para uma análise em um laboratório de referência e esse laboratório confirmou por método genético”, contou.

Um dos dois casos suspeitos é de um homem de 46 anos, também admitido pela emergência de trauma por outra causa no dia 13 de dezembro. Ele estava na UTI nesta quarta-feira (12) e não apresentava nenhum sintoma relacionado à infecção pelo fungo, segundo a microbiologista.

A suspeita é de que situação dos outros dois pacientes em investigação seja a mesma. Um é de uma mulher de 70 anos atendida no HR também por outras causas. Admitida no dia 24 de novembro, ela morreu no dia 5 de janeiro. “Eles portavam os microrganismos, mas não apresentavam sinais de infecção”, disse.

Questionada sobre o risco de infecção de outros pacientes, Camylla Carvalho de Melo disse que estão sendo tomadas todas as medidas necessárias.

“A transmissão desse fungo se dá por contato. No momento, o paciente que nós temos que está internado está em isolamento e todas as medidas de precaução de contato estão sendo feitas e afastamos essa possibilidade”, ressaltou.

Ainda sobre a transmissão, a microbiologista disse que o tema é muito discutido na literatura, mas sabe-se que a transmissão se dá por contato, através do manuseio do paciente.

“Pode transmitir de um paciente para o outro. Por isso, é necessário que a gente siga as orientações na questão da transmissão, de manter os equipamentos de proteção individual, a higienização das mãos, e seguir todas as condutas de infecção hospitalar”, disse.

Identificado pela primeira vez no ouvido de uma mulher japonesa em 2009, o Candida auris é um fungo emergente de difícil diagnóstico que foi identificado em diferentes locais do mundo.

Como é resistente a praticamente todos os medicamentos existentes, passou a ser classificado pelos especialistas como um “superfungo”. Sem uma análise especializada, ele pode ser confundido com vários outros tipos comuns.

De acordo com a Anvisa, ainda não se sabe o mecanismo de transmissão, acreditando-se que é por meio de contato com superfícies ou equipamentos contaminados.

Medidas adotadas

De acordo com a SES-PE, a Coordenação Estadual de Prevenção e Controle de Infecção de Pernambuco foi notificada e deu orientações sobre a implementação de um plano de ação para prevenir a disseminação de microrganismos.

Também houve capacitação com a equipe multiprofissional do serviço e criado um plano de ação para reforçar as medidas de prevenção e controle, com higienização dos ambientes, higienização das mãos, monitoramento sistemático de contactantes e isolamento dos casos suspeitos.

Além disso, a Anvisa informou que a força tarefa nacional foi acionada e várias ações de vigilância, monitoramento, prevenção e controle foram intensificadas.

O grupo realizou reunião com profissionais do hospital onde os casos foram identificados para alinhar ações, elucidar dúvidas e definir como será conduzida a investigação para agilizar a resposta ao surto, identificar outros possíveis casos e prevenir a ocorrência de novos casos de colonização ou infecção.

A Anvisa orientou que os laboratórios de microbiologia intensifiquem a vigilância laboratorial para a identificação do fungo e, diante de um caso suspeito, informem imediatamente à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do serviço de saúde e sigam as recomendações quanto ao encaminhamento da amostra ao Lacen.

Gravidade da infecção

A preocupação a respeito do Candida auris, segundo a Anvisa, é por ele ser um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública por sua resistência aos medicamentos comumente utilizados para tratar infecções (veja vídeo acima).

Estudos apontam que até 90% dos pacientes de Candida auris são resistentes ao fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas. Além disso, o fungo pode pode causar infecção de corrente sanguínea e ser fatal, principalmente em imunodeprimidos ou com comorbidades.

Candida auris pode permanecer viável por semanas ou meses no ambiente e apresenta resistência a diversos desinfetantes. Ele também tem propensão em causar surtos em decorrência da dificuldade de identificação pelos métodos laboratoriais rotineiros e da difícil eliminação do ambiente contaminado.

Histórico

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicaram um alerta epidemiológico, em outubro de 2016, em função dos relatos de surtos de Candida auris em serviços de saúde da América Latina, recomendando a adoção de medidas de prevenção e controle.

primeiro caso positivo de Candida auris no Brasil foi notificado à Anvisa em 7 de dezembro de 2020 em um paciente internado um hospital de Salvador, na Bahia. Foi o primeiro de um surto com 15 casos, que resultou em dois óbitos.

Em dezembro de 2021, a Anvisa recebeu a notificação de outro surto em um hospital público de Salvador a partir da confirmação do fungo em um homem. Após a confirmação, outros dez pacientes foram detectados com Candida auris na Bahia.