‘Calvo do Campari’ não é indiciado, mas cautelar para Lívia La Gatto é mantida

A Polícia Civil de São Paulo concluiu na segunda-feira (13) o inquérito que investigou o consultor e influenciador Thiago Schutz por ameaçar pelas redes sociais a atriz e roteirista Lívia La Gatto e também a cantora e sambista Bruna Volpi. O caso ocorreu em fevereiro.

Na última sexta (10), Thiago foi ouvido pela investigação e negou as acusações. Apesar disso, o 27º Distrito Policial (DP), Campo Belo, pediu no relatório final entregue à Justiça que sejam mantidas as medidas cautelares concedidas anteriormente para as duas vítimas.

Thiago foi investigado por ameaçar matar Lívia. O influenciador digital mandou mensagem à atriz exigindo que ela retirasse da internet um vídeo que satiriza comentários dele a respeito de mulheres. Caso contrário, ela receberia “processo ou bala”, segundo ele.

Fiquei com medo, acessa muitos gatilhos”, disse Lívia durante sua participação no programa Encontro, da TV Globo. “‘Não dá para você censurar todo mundo que você está oprimindo.”

Bruna também postou um vídeo sobre Thiago dizendo ter recebido inúmeras ligações durante a madrugada de 25 de fevereiro por meio do perfil dele nas redes sociais. Ela se sentiu ameaçada pelo coach, que mandou mensagem dizendo para ela: “Para de falar merda”.

As duas mulheres registraram boletins de ocorrência na delegacia contra Thiago e prestaram depoimentos contra ele. O g1 não conseguiu localizar as defesas de Thiago, Lívia e de Bruna para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.

Medida cautelar

Em 7 de março, a Justiça já havia concedido as primeiras medidas cautelares a Lívia e Bruna, a pedido delas, para que Thiago não se aproximasse da atriz e da cantora. Ele está obrigado a ficar, no mínimo, 300 metros longe das duas. Ele também está impedido de falar com elas, seja pessoalmente ou nas redes sociais.

Além disso, não poderá procurá-las ou frequentar o mesmo lugar que elas, mesmo que tenha chegado antes ao local. Se descumprir alguma das exigências estabelecidas, a Justiça poderá decretar a prisão preventiva do influenciador digital para que responda preso pelos crimes.

Manutenção das medidas

A delegada Nadia Ferreira Aluz Santos, responsável pela conclusão do inquérito contra Thiago, não especificou quais seriam essas medidas cautelares que pediu, mas informou que elas estão dentro do que determina o artigo 319 do Código de Processo Penal (CPP).

Pela lei, esse artigo prevê, por exemplo, uma série de obrigações:

  • Comparecer periodicamente à Justiça;
  • Proibição de frequentar determinados lugares;
  • Proibição de manter contato com determinadas pessoas;
  • Proibição de ausentar-se da cidade onde mora;
  • Ficar em casa durante à noite e nos dias de folga;
  • Suspensão de atividade pública ou econômica;
  • Internação provisória;
  • Pagamento de fiança;
  • Uso de tornozeleira eletrônica.

Segundo a delegacia que investigou o caso, como o crime de ameaça prevê pena de no máximo dois anos de prisão, Thiago não foi indiciado. O entendimento da polícia é o de que a adoção de medidas cautelares poderá substituir a decretação da prisão do influenciador. E também garantir a segurança das vítimas.

O relatório final da investigação seguirá para o Ministério Público (MP) e para a Justiça analisarem. A Promotoria irá se posicionar a respeito do pedido da delegada. E algum juiz ou juíza irá determinar o que será feito sobre o caso. Caberá ao magistrado ou magistrada definir se irá adotar mais medidas cautelares, quais serão e como serão aplicadas.

Influenciador nega ser ‘coach’

 

Atriz Lívia La Gatto fez sátira sobre homens que divulgam conteúdo de ódio contra mulheres — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Atriz Lívia La Gatto fez sátira sobre homens que divulgam conteúdo de ódio contra mulheres — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Quando foi ouvido na última sexta-feira (10) pela polícia, Thiago negou que tivesse a intenção de ameaçar Lívia e Bruna. Afirmou ainda que a mesma mensagem foi enviada exatamente do mesmo jeito para outros influenciadores.

Ele já havia gravado um vídeo em sua rede social negando ter cometido o crime contra elas. À polícia, Thiago contou que sempre falou gírias, palavrões e expressões próprias e que, no “momento de violenta emoção, usou termos como a palavra ‘bala’ no intuito de resolver logo a questão” com a atriz.

No mês passado, Lívia postou nas redes sociais um vídeo debochando de conteúdos de homens que têm discurso de ódio contra mulheres. A gravação viralizou. Na sátira, ela ironiza Thiago, mas sem citar o nome dele. Depois disso, passou a receber ameaças do influenciador. Nesse período, contou ter recebido mais de dez ligações pelo Instagram.

Antes, Thiago havia viralizado nas redes sociais por relatar em um vídeo como se recusou a tomar cerveja com uma mulher porque já estava bebendo Campari. Após o episódio, ele ficou conhecido como “Coach do Campari”. No vídeo, ele afirma que a oferta seria uma espécie de “teste” das mulheres para ver o quanto ele se manteria autêntico e original.

Em seu depoimento à polícia, Thiago também negou ser “coach”, como a imprensa passou a chamá-lo.

Thiago tem milhares de seguidores na web e, atualmente, lucra gravando vídeos com “conselhos” para homens. Ele administra uma conta no Instagram chamada “Manual Red Pill Brasil”, que tem mais de 330 mil fãs, a maioria homens.

Na delegacia, afirmou ser “uma pessoa reservada”, que participa de podcasts, escreve livros e oferece mentoria “no intuito de ajudar as pessoas em seus relacionamentos”, tem namorada e vida simples.

Segundo o relato, Thiago negou ser líder de movimento machista ou contra as mulheres ou fazer parte de grupos extremistas. Questionado sobre armas, alegou não ter nenhuma, licença ou porte e que “seria incapaz de machucar ou tirar a vida de alguém”.

Atriz também ironizou outras tentativas de contato do coach após a ameaça — Foto: Reprodução/Instagram

Atriz também ironizou outras tentativas de contato do coach após a ameaça — Foto: Reprodução/Instagram. Do g1.