Calvário: tem deputado paraibano em Brasília ruim de matemática e dramático na retórica

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Vou confessar que fiquei estarrecida com o pronunciamento do excelentíssimo senhor deputado federal Ruy Carneiro (PSDB) no plenário da Câmara Federal, em Brasília, na tarde desta terça-feira (5). Primeiro agradeceu a Deus, por conseguir a última das 12 vagas da bancada federal nas eleições do ano passado. Em seguida, demonstrou sua indignação com ares de devaneio para quem quisesse ouvir.

É de se imaginar que toda vez que um deputado ocupa o espaço de uma tribuna, sempre é para falar de algo relevante. A intenção do tucano até foi. Falar da Operação Calvário e de possíveis desvios de recursos públicos aplicados na saúde é algo que devemos gritar. Mas, não deu muito certo. Foram três minutos de desserviço ao povo paraibano, de erros matemáticos e de euforia retórica. Quer ver? Vamos lá.

Ruy tachou a Calvário como um dos maiores escândalos de corrupção do país, depois da Lava Jato. Realmente… a proporcionalidade dos números nem chegam perto daquilo que Moro projetou.

A tão aguardada reportagem do Fantástico, exibida no último domingo, apontou que a Cruz Vermelha geriu R$ 1,7 bilhão de recursos públicos em contratos firmados na Paraíba, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Não apontou culpados. Também, pudera, o Gaeco ainda está em fase de investigações. Não existem culpados, ninguém foi indiciado, sequer se sabe ao certo qual ou quais são crimes cometidos.

Mas Ruy argumentou que foram R$ 1,1 bilhão de “escândalo” na gestão de “vários hospitais” na Paraíba. Generalista, não teve o cuidado de pesquisar antes de discursar para toda a nação. Os vários hospitais que ele não soube citar são o Trauma de João Pessoa, o Regional de Mamanguape e o Metropolitano.

De acordo com o Sagres, ferramenta do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PB), o Governo da Paraíba pagou exatos R$ 916.224.135 milhões em contratos celebrados com a Cruz Vermelha, de 2011 até 2018. É só olhar lá, é público. Como pode o “escândalo” ser maior que o valor contratado? Então a Cruz Vermelha desviou 100% do valor pago e os hospitais funcionaram pela fé?

O fato de uma empresa cometer ilícitos não faz com que o todo seja condenável. O atual modelo de gestão pactuada adotado pelo Governo no Hospital de Trauma trouxe eficiência no serviço para a população. Será que Ruy realmente sente saudades de como era aquele hospital antes da gestão pactuada? Eu não sinto saudades do desespero do povo denunciando dia e noite nos programas de rádio, do flagelo que muitos fizeram para conseguir atendimento, de médicos escolhendo quais pacientes iriam morrer por não conseguirem atender toda a demanda, da falta de medicamentos, de insumos, de higiene, que fazia os pacientes disputarem qual bactéria mais perigosa iriam se infeccionar.

É bom que a população consiga refletir por si só sobre o que aí está. Existe uma investigação em curso. É importante que continue e que tão logo sejam indiciados os culpados e saibamos o valor real do prejuízo. Mas, por ora, não há acusação formulada contra a administração estadual. Observem os números apresentados. São tão compatíveis quanto os apresentados por Ruy? Por enquanto, devemos preservar nosso direito de ter saúde de qualidade. E é exatamente o que o paraibano encontra quando precisa do Trauma.