Um time brasileiro detonou em um campeonato internacional de luta de robôs na China e trará o título de campeão para o país. A competição, chamada Clash Bots, é um reality show que vai ao ar na plataforma de vídeos iQiyi, uma espécie de Netflix chinesa da Baidu, que tem mais de 500 milhões de usuários ativos.

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A batalha final, contra os donos da casa, foi exibida nesta quinta-feira (21). Eles enfrentaram 34 equipes – 21 chinesas e 13 estrangeiras (de Estados Unidos, Índia, Inglaterra e Rússia) – e levaram o prêmio de R$ 400 mil. A China ficou em segundo e Inglaterra levou o terceiro lugar.

O robô Dark Wolf ainda levou o título de “o robô mais destrutivo” da competição, o que rendeu mais R$ 25 mil aos sete engenheiros que formam a equipe Ogrobots. De 12 disputas, o “monstrão” brasileiro venceu nove.

A temporada do Clash Bots teve 13 episódios com uma audiência expressiva na China. Até o penúltimo programa foram contabilizadas 1,4 bilhões de visualizações. Só a estreia teve 400 milhões de espectadores. A Ogrobots era a única equipe brasileira.

Reprodução

Na semifinal, o Dark Wolf, de 110 kg, destruiu um robô norte-americano. De acordo com o capitão do time, o engenheiro Murilo Castanho Marin, 26 anos, os americanos tinham, provavelmente, o segundo melhor robô do reality.

“Foi a melhor luta da competição, muito acirrada e com grandes impactos. Porém nós batemos tão forte neles que eles não conseguiram consertar o robô para a luta de disputa de terceiro lugar. Acabaram indo sem arma contra o adversário e perderam”.

A competição

A Clash Bots só convidou máquinas da categoria peso-pesado, entre 100 e 110 kg. O reality chinês segue as regras internacionais de combates de robôs. Pilotados pelas equipes, eles se digladiam em uma arena blindada (as peças arrancadas podem voar como projéteis) durante um round de três minutos.

O vencedor é aquele que nocautear o adversário (deixá-lo sem condições de se movimentar por 10 segundos) ou por decisão dos juízes ao final da luta. O Dark Wolf também enfrentou lutas de cinco minutos de duração que tinham de três a cinco robôs lutando simultaneamente. Apenas um saía vencedor. Entre um combate e outro, as equipes tinham cinco horas para consertar os robôs.

Bem ao estilo “The Voice”, três atores e uma modelo, famosos na China, escolhem seus times na fase classificatória. O reality show desenrola a partir disso. Os famosos escolhem como cada luta será.

A primeira luta dos brasileiros foi tão boa que os quatro “viraram as cadeiras” para o Ogrobots.

A final

Na luta derradeira o Dark Wolf enfrentou o Toxic Fangs, robô chinês do qual os brasileiros haviam ganho três de quatro desafios.

“Foi uma luta muito feroz, onde fomos com tudo que tínhamos na intenção de nocauteá-los o mais rápido possível. Os rounds são de 3 minutos e se durante os 3 minutos nenhum robô parasse de funcionar, a decisão iria para os juízes. E a última coisa que queríamos era deixar que esse round fosse para os juízes, porque poderia haver o apelo patriota por conta dos juízes ou da emissora chinesa, na chance de que um robô chinês ganhasse o reality show do seu país”, conta o capitão do time. “Em menos de 1 minuto demos uma porrada que os fez cair nocauteados do outro lado da arena voando mais de 8 metros de distância e, assim, nos consagramos campeões. Sem sombras de dúvidas, merecidamente”.

Maior desafio

O Dark Wolf foi projetado, desenvolvido e montado em apenas 38 dias. O custo, de R$ 75 mil, foi bancado pelos chineses.

Por questões burocráticas no Brasil, os Ogrobots não conseguiram despachar a máquina montada para a China por via aérea ou marítima. Tiveram de desmontar o futuro campeão e guardá-lo em 14 malas, que levaram 431 kg de robô, peças reserva, ferramentas e equipamentos. Na primeira viagem uma mala ainda foi extraviada. Por sorte, era a de peças reserva.

Marlon conta que dos R$ 400 mil que ganharam, terão de deixar R$ 108 mil com o governo brasileiro.

“A maior e pior dificuldade sempre foi e sempre será ser brasileiro. Usamos componentes de alto desempenho. A maioria deles é importada, itens que nem sonhamos ter no Brasil e pagamos taxas altíssimas para ter esses itens, enfrentamos uma burocracia infinita que às vezes até impossibilita de conquistarmos um título como esse. Para enviar o nosso robô também sofremos uma burocracia tão grande, que nos fez desistir de tentar enviar ele por caixa (com toda a segurança e comodidade que todos as outras equipes tiveram)”, relatou Murilo.

“Para receber os prêmios tivemos que pagar encargos gigantescos ao governo e enfrentar uma papelada sem tamanho para fazer isso acontecer.”

Apesar da nova conquista, de ter sido duas vezes segunda colocada no campeonato brasileiro e terceira no Mundial de Robôs de 2017, a Ogrobots não tem patrocinador. Os sete integrantes se conheceram no curso de engenharia da Universidade Federal de Itajubá e formaram o time quando cada um foi seguir a vida em cidades diferentes.

Como todos trabalham e cada gravação em Pequim durava entre oito e 12 dias, eles se revezaram nas viagens de 32 horas de avião para que ao menos três participassem de cada etapa do Clash of Bots. Eles pretendem desenvolver o Dark Wolf 2.0.