Brasil registra em 2020 número de mortes 22% maior do que era esperado

Levantamento foi realizado pela organização global de Saúde, Vital Strategies e divulgado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde

O número de óbitos por causas naturais a mais do que o esperado no País em 2020 foi de 275.587, mostra atualização do Painel de Excesso de Mortalidade no Brasil. O número é 22% superior ao que era estimado para o período. No total, eram esperados 1.231.020 óbitos. O estudo foi realizado pela organização global de Saúde, Vital Strategies e divulgado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Os maiores percentuais de excesso de mortalidade foram registrados na população com até 59 anos. O número de pessoas mortas entre janeiro e dezembro nesta faixa etária foi 32% maior do que era projetado. Ao todo, foram contabilizados 92.867 óbitos a mais do que o esperado para o período.

Entre a população acima de 60 anos, o percentual de excesso de mortes foi de 20%, o que representa 182.720 óbitos a mais do que era esperado.

A análise do painel também indica que o excesso de óbitos foi maior entre a população masculina. Quando se consideram todas as faixas etárias, os dados mostram que eram esperados no ano passado 639.200 óbitos por causas naturais entre os homens. Entretanto, observou-se um excesso de mortalidade proporcional de 25% a mais em 2020 no grupo masculino.

Coordenador da Câmara Técnica de Epidemiologia do Conass, Nereu Henrique Mansano, destaca a mudança de padrão de comportamento dos dados relevados pelo painel ao longo do ano. Quando considerados os dados gerais do País, verifica-se um primeiro pico de excesso de óbitos na semana 19. Naquele momento, o percentual de excesso de mortes era de 46%. Após um período de queda, a partir da semana 47 observou-se um novo aumento no número de óbitos por causas naturais, chegando a 31% de excesso na semana 53.

A evolução do excesso de óbitos variou muito entre os Estados. Na região Norte, por exemplo, os indicadores de morte subiram de forma muito expressiva na semana 18. Ali, os números registrados eram 165% maiores do que o esperado. Na semana 53, esse percentual era de 34%, próximo do percentual nacional. Na região Centro-Oeste, o pico de mortes ocorreu na semana 33, com excesso 84% maior do que o esperado. No Sul, a maior elevação ocorreu no fim do ano, já na semana 49, com elevação de 44%. “Vimos que ao longo do ano o comportamento dos indicadores variou bastante de região para região. No fim de 2020, os números indicam um outro panorama, com uma tendência de aumento do excesso de mortalidade já em todo o País.”

Metodologia

Para fazer o painel, são consideradas todas as mortes por causas naturais (excluídas, portanto, as causas violentas) informadas no Portal de Transparência do Registro Civil. Estes números são comparados com a projeção preparada a partir da série histórica de óbitos do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), entre 2015 e 2019.

O acompanhamento do indicador de excesso de óbitos é recomendado pela Organização Mundial da Saúde para avaliar o impacto provocado pela Covid-19 nos países. Os dados, quando associados à análise dos números de morte pela doença e o número de infecções, auxiliam a ter um quadro mais preciso sobre as consequências da epidemia no País.

Mansano explica que as informações contidas no SIM, especialmente quanto às causas de morte, são mais precisas, devido ao processo de melhoria da qualidade dos dados, o que inclui a codificação e investigação quando necessário. O processo, embora mais demorado, permite a obtenção de dados mais confiáveis.

Para o ano de 2020, foram usados dados da Central de Informação do Registro Civil (CRC), disponível no Portal da Transparência da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN Brasil ). Para padronizar as fontes de dados, foi elaborado um fator de correção a partir de uma análise comparativa entre o SIM e CRC em 2019, considerando o SIM como padrão ouro, referência em qualidade da informação.