Bolsonaro provoca nova aglomeração, diz que Brasil sairá mais forte da pandemia e fala em resgate de valores

"Manifestação pura da democracia. Estou muito honrado com isso", afirmou o presidente; ele amenizou críticas ao Congresso e sequer citou o Judiciário

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse neste domingo (17), ao voltar a participar na pandemia do coronavírus de uma manifestação em Brasília, a que chamou de democrática, que o governo federal “tem dado todo o apoio” para atender doentes da Covid-19 e que espera que a epidemia passe logo.​

“Manifestação pura da democracia. Estou muito honrado com isso. O governo federal tem dado todo o apoio para atender as pessoas que contraíram o vírus e esperamos brevemente ficar livre dessa questão, para o bem de todos nós. O Brasil, tenho certeza, certeza, voltará mais forte”, declarou.

Num aceno ao Congresso, alvo de ataques em atos anteriores, Bolsonaro falou em proporcionar “dias melhores para a nossa população, em especial pelos poderes Legislativo e Executivo”.

Ele não citou, contudo, o Judiciário, que tem barrado algumas de suas medidas. O STF (Supremo Tribunal Federal) impediu a nomeação de Alexandre Ramagem, chefe da Agência Brasileira de Inteligência, para a Diretoria-Geral da Polícia Federal, ante indícios de desvio de finalidade do ato de ofício.

“Queremos fazer um Brasil melhor para todos, agradeço a esse povo maravilhoso que está aqui, ao qual devo lealdade absoluta. É aquele que deve ditar as nossas normas e nosso norte. É o que precisamos: política ao lado do povo, tendo o povo como patrão”, comentou o presidente.

Em meio a uma crise política, o mandatário foi à rampa do Palácio do Planalto, juntamente com vários ministros e ao menos dois de seus filhos — Eduardo e Carlos — para saudar os manifestantes.

Estavam com Bolsonaro os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Tereza Cristina (Agricultura), Onyx Lorenzoni (Cidadania), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), André Mendonça (Justiça) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

Bolsonaro baixou a máscara para falar em um momento, pegou bebês no colo e levantou as mãos de ministros, descumprindo recomendações de distanciamento social.

Em vários momentos da manifestação, os participantes entoavam música exaltando a cloroquina, medicamento que o presidente defende com o panaceia na pandemia, mas sem comprovação de eficácia contra a Covid-19.

Antes de descer para cumprimentar o público, ele declarou que, nesta vez, não há “nenhuma faixa, nenhuma bandeira que atente contra a Constituição, contra o Estado Democrático de Direito”.

Protestos anteriores, investigados pela PGR (Procuradoria-Geral da República), tinham pleitos antidemocráticos, como um golpe militar.

“O que nós queremos é resgatar os valores que formam a nossa nacionalidade, respeitar a família”, afirmou.

Antes da chegada de Bolsonaro no ato, seguranças do Planalto pediram a manifestantes a retirada de faixas contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), colocadas nas grades de proteção no entorno do local.

Uma delas chamava os dois órgãos de “sabotadores” e pedia uma nova Constituição.

ação foi coordenada pelo general Luiz Fernando Baganha, secretário de segurança e coordenação presidencial do Planalto. Barganha, pessoalmente, pediu a um grupo de apoiadores afastar uma manifestante mais exaltada.

A Folha presenciou Barganha orientando os seguranças sobre a maneira da abordagem.

“Cheguem com calma. Peçam a retirada. Expliquem que uma conversa prejudicial ao presidente. Ele está muito preocupado com esse tipo de mensagem”, afirmou Baganha a seus auxiliares.

Os seguranças abordaram um grupo autointulado “Paraquedistas de Bolsonaro” que estava no local fazendo formação militares. Eles pediram que qualquer tipo de material potencialmente lesivo fosse retirado.

Os militantes, uniformizados com camisas pretas e boina vermelhas, carregavam estiletes, canivetes e sprays de pimenta”.

Da Folha