Bolsonaro desautoriza Mourão por criticar invasão russa e não condena Putin

(Foto: Adriano Machado / REUTERS)

Os chefes de governo que não estavam articulando uma solução diplomática após a invasão russa da Ucrânia, nesta quinta (24), passaram o dia debruçados fazendo contas e preparando seus países para o impacto econômico e social decorrente do conflito. Menos Jair Bolsonaro, que se dedicou ao que mais gosta de fazer: campanha eleitoral.

Deixando como questões diplomáticas para o Itamaraty e econômicas para a equipe do governo e os líderes do centrão, Bolsonaro foi a São José do Rio Preto, no interior paulista, ao lado do ministro da Infraestrutura e seu pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio Gomes de Freitas, inaugurar obras, fazer turno e participar da motociata.

Na ausência do presidente, o vice-presidente Hamilton Mourão criticou Putin e a invasão. “O Brasil não está neutro. O Brasil deixou claro que respeita a soberania da Ucrânia, então o Brasil não concorda com uma invasão”, disse. Comparou como ações do governo do russo à Alemanha nazista pré-Segunda Guerra e disse não acreditar que apenas sanções econômicas funcionaram.

Como o general é sistematicamente desautorizado por Bolsonaro, alertamos que era necessário esperar. E não deu outro. Em sua live semanal, na noite desta quinta, Bolsonaro desautorizou a declaração de Mourão, sem citar o nome do vício, dizendo que é ele quem trata essas questões. E citando o artigo da Constituição que prevê as atribuições do presidente da República, afirmou que “quem tá falando, tá dando peruada naquilo que não vai competir”.

Jair também afirmou que ainda vai “dimensionar o que está acontecendo” e que deve ouvir os ministros das Relações Exteriores e da Defesa antes de formar uma opinião. E que “nossa posição é pela paz”.

No último dia 16, Bolsonaro disse a Vladimir Putin que era “solidário à Rússia” em uma visita ao russo. Apesar das críticas e alertas, o presidente decidiu manter sua viagem a Moscou mesmo com a tensão por conta de um conflito iminente. Um dos objetivos era gerar um fato político com Putin para ser usado junto aos seus seguidores e eleitores com propósitos eleitorais.

Desde que os tanques e helicópteros russos atravessam a fronteira ucraniana, nesta quinta, contudo, ele não repudiou duramente a ação. Ou seja, sua última palavra ainda é o apoio ao Kremlin.

Já o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota demonstrando “grave preocupação” e pedindo o “suspensão imediata das hostilidades”, tomando o cuidado de não melindrar o governo russo.

“O governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia. O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início das negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão”, afirmou o Itamaraty.

Enquanto isso, em Rio Preto, Bolsonaro subia em um palanque para dizer que não cometeu erros na pandemia. Como famílias de 500 mil das quase 647 mil mortes por covid-19 que poderiam ter sido evitadas, segundo cálculos do epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, discordam dele.

Também se se deprigou pela geração de empregos, por mais que, apenas no último trimestre do ano passado, tenha voltado para 11,1% da população desempregada (12 milhões), mesma taxa do quarto trimestre de 2019 – ou seja, de antes da pandemia. E, convenhamos, esse número ainda é obsceno.

Sem contar que a renda caiu 10,7% em relação ao mesmo período de 2020, sendo a pior renda média em dez anos de série histórica, segundo dados divulgados, nesta quinta (24), pelo IBGE.

Já na capital paulista, Bolsonaro participou de inaugurações ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB). E deixando claro que estava em campanha antecipada, atacou Lula, que está à sua frente nas pesquisas, em discurso em que também ressuscitou a ficção de um Brasil à beira do comunismo.

Apesar dos pedidos de jornalistas, o máximo que comentou sobre a Ucrânia de deixar a cidade foi uma postagem em que disse estar empenhado em proteger os brasileiros que moram no país. Empenho este que pode ser constatado pela foto que abre este texto, tirada nesta quinta-feira, em Rio Preto.

Do UOL