O PL elegeu, neste domingo (27), mais um nome para governar uma capital do Nordeste: Emília Corrêa, em Aracaju. Mas nesse segundo turno, os dois nomes verdadeiramente bolsonaristas que estavam na disputa perderam: André Fernandes, em Fortaleza, e o ex-ministro Marcelo Queiroga, em João Pessoa.
Ao todo, o partido teve dois prefeitos eleitos entre as nove capitais da região: no primeiro turno, João Henrique Caldas, o JHC, já havia vencido em Maceió.
Nenhum dos dois candidatos, porém, são do núcleo bolsonarista. Ambos são de uma direita mais moderada. Além disso, não usaram, nem citaram o ex-presidente nas suas campanhas.
JHC surpreendeu ao deixar o PSB logo após o primeiro turno da eleição presidencial de 2022, quando se filiou ao PL para apoiar Bolsonaro no segundo turno. Após aquela campanha, nunca mais foi visto em atos e nem sequer foi encontrar Bolsonaro nas visitas que fez ao estado.
Já Emília, que sempre foi uma política mais tradicional da direita sergipana, entrou no PL em março deste ano, após deixar o Patriota.
“Nos casos de Aracaju e Maceió, não dá para dizer que houve mérito de Bolsonaro, foram muito mais as figuras que disputaram, os recursos e o contexto que os elegeram. O ex-presidente nem sequer esteve nas campanhas”, disse Luciana Santana, cientista política da Ufal e do Observatório das Eleições.
Segundo Santana, o PL tem feito um esforço, ao lado do ex-presidente, para crescer na região que, historicamente, tem dado as melhores votações nacionais ao PT. Nomes importantes do governo, como os ex-ministros Queiroga e Gilson Machado (Turismo), se lançaram na tentativa de angariar visibilidade, mas sem sucesso eleitoral.
“Bolsonaro tentou nessa eleição, como vem tentando há um bom tempo, crescer no Nordeste. Houve uma força-tarefa para aumentar esse capital político, com vários candidatos do bolsonarismo disputando a eleição. Mas nenhuma das campanhas em que ele apareceu de fato vingaram”, diz.
Em Fortaleza, tentativa de esconder Bolsonaro
Um exemplo claro dessa rejeição ocorreu em Fortaleza, onde André Fernandes tentou de toda forma se afastar de Bolsonaro e chegou a dizer várias vezes que não tinha padrinhos políticos. Além disso, criticou o uso de “bengalas” políticas pelo seu rival, Evandro Leitão (PT) —que citava sempre ser do time de Lula.
Em João Pessoa, Marcelo Queiroga não largou suas raízes e fez campanha não só usando a imagem, mas com direito à visita de Jair e Michele Bolsonaro para atos no segundo turno. Resultado: teve 36,1% dos votos válidos neste domingo.
Para Luciana, o cenário eleitoral do Nordeste que sai das urnas em 2024 mostra que Bolsonaro ainda segue como uma figura com dificuldade em ter força política na região.
“Isso também mostra que o bolsonarismo é forte, mas ele existe independente de Bolsonaro. Acho que Bolsonaro acaba se apropriando mais desse movimento conservador, que a gente está chamando de bolsonarismo, do que o contrário. Esse movimento não depende necessariamente dele para sobrevive”, disse Luciana Santana. Do UOL.