O Fantástico conseguiu, com exclusividade, acesso a 55 áudios que circulavam em grupo de militares de alta patente que, de acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), preparavam uma trama golpista após o segundo turno das eleições de 2022.
Segundo a PF, Mario Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi o articulador do plano, que envolvia uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O general se mostra exaltado em várias conversas.
Nesse áudio, de 4 de novembro de 2022, ele alega, sem provas, que houve fraude na eleição. Pessoas próximas a Mario Fernandes e oficiais do Exército responderam assim:
“O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito”, afirma um oficial do Exército.
Comunicação com acampamentos em frente a quartéis
A investigação afirma ainda que os acampamentos em frente a quartéis no final de 2022 faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares e que o general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com esses grupos.
Em um outro áudio, Fernandes disse que teve uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro, sobre a diplomação da chapa Lula e Alckmin, no TSE.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”, mostra o áudio.
No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília.
A investigação apontou que o agente da Polícia Federal Wladimir Matos passou ao grupo que planejava o golpe de Estado informações sobre a equipe de segurança e a localização de Lula.
A investigação, concluída pela PF na quinta-feira (21), levou ao indiciamento de 37 pessoas. Entre os nomes, estavam:
- o ex-presidente Jair Bolsonaro;
- o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro;
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência.
O Fantástico procurou os advogados de defesa do general Mário Fernandes e do Policial Federal Wladimir Matos, presos nesta semana pela Polícia Federal, mas eles não foram localizados.
Procurou também a defesa do tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, o outro preso citado na reportagem, mas não obteve resposta.
Em nota divulgada no domingo (24), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reafirmou o apoio às instituições e à Constituição, e defendeu que lideranças políticas incentivem seus partidários a se afastarem de atos de violência e de terrorismo político.
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) também se manifestou. A organização disse que fatos que atentem contra a segurança e a integridade pessoal de agentes públicos configuram grave ameaça ao Estado Democrático de Direito. Para a associação, essas práticas devem ser combatidas com o rigor da lei.
Outra entidade a se manifestar foi a Associação dos Magistrados Brasileiros, que afirmou que um Poder Judiciário independente e sem receio de represálias em razão de suas decisões é essencial para a democracia. Disse ainda que o funcionamento regular das instituições é uma garantia para os direitos fundamentais da população. Do g1.