As rotas do futuro

Mesmo diante do cenário devastador que se anuncia para 2017 o Brasil precisa reagir. Logicamente que nas ruas, também. Mas, sobretudo, em processos efetivos de desenvolvimento regional. Fomos empurrados para uma crise econômica a partir de um golpe político. O PSDB não aceitou a derrota nas urnas e cumpriu a ameaça de Aécio. Logo após a eleição ele declarou com todas as palavras que Dilma iria sangrar até o fim. Pois bem, passados quase dois anos se constata que quem está sangrando é o Brasil. Dilma apenas foi afastada da presidência. Com o argumento de “combate à corrupção”, renomados corruptos dirigiram-se às massas através dos meios de comunicação, das redes sociais e foram atendidos. Temos hoje no Brasil um fascismo de massas.  Pela primeira vez nos últimos anos, estamos regredindo. Me contaram que o Brasil e a Estônia são os únicos países do mundo que não tributam a Bolsa de Valores. Esta é a demonstração mais evidente que a crise é direcionada. A Justiça poderia ser uma esperança, mas entrou no jogo fazendo cena. A República de Curitiba disputa espaços de popularidade com Wesley Safadão. Enquanto isso a economia brasileira desce a ladeira. Pior: não dá sinais de recuperação. O Brasil nas mãos de Temer virou um país vocacionado para o ridículo e sem perspectiva.

O que resta para nós, brasileiros de todos os rincões? Não os que foram às ruas no passo do Pato Amarelo da FIESP. Esses têm duas escolhas: ou comemoram o caos que criaram ou começam logo a demonstrar vergonha do que fizeram. O que resta aos que – mais à esquerda ou mais à direita – desenvolveram um olhar crítico sobre o que se passa? Aos defensores da luta armada, seria bom dizer com todas as letras que as condições objetivas não estão postas para uma revolução socialista. Os defensores de uma intervenção das forças armadas precisam saber que as Forças Armadas brasileiras não demonstram sede de poder e sabem que “a ameaça comunista” é uma bobagem que já cumpriu a sua quota de mico histórico. Aliás, foram mais ameaçadores e sanguinários que os supostos comedores de criancinhas. Parece que brasileiro vive de mito e tende a desejar obediência a um comando. Quando deveria ser o contrário, o comando do país é que deveria ser submetido às necessidades e vontades do povo. Num cenário decadente, com a crise institucional instalada e com o vácuo que impuseram ao processo democrático, nos resta buscar saídas. É imprescindível a realização de alianças para a salvaguarda de processos efetivos de desenvolvimento. Logicamente, com os pés fincados numa realidade muito desagradável, mas sem perder a capacidade de sonhar e planejar saídas.

A baixa capacidade de investimentos do poder público e privado exigem de todos ações positivas com aplicações cirúrgicas de recursos. Ou seja: não estamos no tempo de priorizar investimentos a fundo perdido. A menos que fruto de uma transversalidade. Algo com capacidade de oferecer respostas diretas às demandas sociais e econômicas. Ou prevalecem as ações coletivas e os direitos coletivos ou haverá uma incorporação em massa no caminho do abismo proposto pelo governo golpista de Temer. Ou seja: é hora de reação em todos os sentidos, uma vez que as coisas tendem a piorar nos próximos vinte anos. Neste cenário, apenas a aproximação das ações e a soma de investimentos terão capacidade de multiplicar os pães. A consolidação de modelos de desenvolvimento bem-sucedidos deve ser priorizada. O isolamento e a mera reivindicação pela reivindicação terão seu espaço nos movimentos sociais. Mas, não representarão esperança alguma. Afinal, temos de tudo nos movimentos sociais. Da mesma forma que nos anos 70. Se havia o CCC – Comando de Caça aos comunistas, hoje temos movimentos como o MBL – Movimento Brasil Livre (na verdade, Liberal). Somente os processos construídos entre setores progressistas da sociedade civil, do empresariado e de governos poderão nos salvar da derrocada geral.

Setores mais frágeis da administração pública e da sociedade, sem capacidade de associação com outras forças, sem articulação alguma, tendem a sumir do mapa. A cultura, por exemplo, é o setor mais ameaçado. Em muitas administrações perdeu o status de primeiro escalão. Noutras, foi confinada num departamento setorial. Pior ainda é onde nunca foi demandada. No caso da Paraíba devemos alertar para as boas sementes germinadas. Uma delas é a Rota Cultural Caminhos do Frio que vem esquentando a economia do Brejo paraibano. No sertão, começa a tomar corpo a Rota Cultural da Coluna Prestes, unindo municípios de Princesa Isabel à Uiraúna. E, ultimamente, a Rota Cultural do Vale do Sabugi que começa a ser dimensionada a partir da criação do Fórum de Cultura do Vale do Sabugi. São as perspectivas da cultura aliadas ao turismo. Temos aí um processo de desenvolvimento sustentável de baixo investimento e resultados vigorosos e duradouros. No caso do Brejo, os municípios incorporados na Rota começam a receber demandas estruturais para uma política de turismo. Municípios que tiveram problemas para hospedagem de turistas, começam a construir pousadas, por exemplo. Portanto, se é verdade que não teremos soluções mágicas para sair da crise, também é verdade que a inércia irá piorar as coisas. É hora de reagir. É tempo de buscar e solidificar parcerias que justifiquem os investimentos. Como disse Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora.”