Após Cine Congo, colunista destaca atrações do 8º Curta Taquary

Após dois dias e meio excepcionais, de encontros, diálogos e trocas singulares na cidade do Congo, no Cariri paraibano, atravesso a fronteira do Pernambuco em direção a Taquaritinga do Norte, município do agreste pernambucano, distante 164 km do Recife. Situado numa área serrana, 785 metros acima do nível do mar, a localidade de 25 mil habitantes preserva construções históricas e tem uma vegetação característica de climas mais frios, com muito verde. O friozinho gostoso, aliás, é um dos pontos atrativos. Vindo do calor sufocante de João Pessoa (PB) em novembro, falo do frio que faz, ao que uma moradora do local me interpela dizendo “Frio? Está só uns 23 graus (Célsius). Normal”, sentenciou ela.

A cidade é extremamente aconchegante e a Praça Otto Sailer, onde as exibições principais do festival acontecem, preserva características da arquitetura e paisagismo clássicos das tradicionais pracinhas do interior: muito arborizada, palmeiras imperiais, fonte e chafariz, bustos de bronze e um maravilhoso coreto onde jovens, crianças, adultos e idosos se reúnem durante todo o dia. Dois trailers-lanchonete, elementos modernos, coexistem com esse cenário.

A tela de projeção do 8º Curta Taquary – Festival Internacional de Curta Metragem, foi montada num pátio da Praça Otto Sailer. As sessões de filmes iniciam a partir das 19h30, mas outras exibições acontecem pela manhã e pela tarde em escolas e outros espaços da cidade, como ginásios e auditórios. Antes dessa programação, foram realizadas mostras itinerantes em cidades circunvizinhas, atingindo um público de 10 mil expectadores. Ao todo, serão exibidos durante o Festival 165 filmes de curta e um longa-metragem provenientes de 25 países. Isso torna o Curta Taquary o maior festival de curtas do Nordeste e um dos maiores do Brasil.

Esse ano, os nomes homenageados do Festival são a atriz paulista Gilda Nomacce e diretor pernambucano Camilo Cavalcanti, diretor do premiado A História da Eternidade, único longa à ser exibido nessa oitava edição do Curta Taquary.

Abertura e sessões

A cerimônia de abertura teve a fala do diretor e idealizador do festival, Alexandre Soares, que deu as boas-vindas a Taquaritinga do Norte e ressaltou a mobilização que deu origem ao Curta Taquary e os esforços que a equipe de organizadores e colaboradores tem feito para levar a iniciativa adiante.

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A apresentação ficou por conta da atriz paraibana Suzy Lopes, que é a mestre de cerimônias do evento. Também subiram ao palco os integrantes do Júri das mostras Diversidade – Olhar Feminino e Curtas Fantásticos, o cineasta paraibano Marcos Vilar e Ivann Willig, gaúcho radicado no Rio de Janeiro (RJ) que é ator, cineasta e atualmente trabalha no núcleo de caraterização de personagens das produções ficcionais da TV Globo. Willig falou do diferencial em participar do Curta Taquary, um festival que, segundo ele, tem algo de singular. “Já participei de outros festivais, mas a hospitalidade daqui é especial”, destacou.

As mostras competitivas iniciaram em seguida, com curtas divididos por temática.

Mostra Olhar Feminino

Os filmes dessa mostra são realizados por cineastas mulheres e alguns deles tem uma abordagem voltada para questões existencialistas, filosóficas, identitárias e de relações culturais onde a questão de gênero constitui o eixo central do enredo, caso de Ensaio (RJ), de Sofia Saadi, O Fim do Verão (PR) de Catoline Biagi e Lua Nova (RJ), de Andréa Prado. A Pedra (GO), de Adriana Rodrigues, enfoca o homem do cerrado com uma narrativa poética embalada por uma trilha sonora clássica e grandiloquente.

Sessão Especial e Curtas Fantásticos          

Na mostra Sessão Especial foram exibidos os filmes A Menina e o Boto (PA), de Paulo Roque, curta filmado em preto-e-branco com aspecto de uma produção antiga, fotografia envelhecida e estética propositalmente anacrônica, remetendo a películas brasileiras outsiders dos anos 1950/60 para contar uma história sobre a lenda do Boto. (SP), de Leandro Tadaschi, narra de forma sensível e lúdica a situação de uma família de ascendência japonesa que muda a rotina após a avó, mãe do pai, vir morar com eles. A vinda da Bá, (expressão japonesa usada para se referir a avó) é vista sob a ótica do caçula da família, um menino de 5 anos. Macapá (MA), de Marcos Ponts é um registro etnográfico-visual sobre as tradições e a religiosidade no interior maranhense, misturando ficção e documentário e com uma boa dose de metalinguagem.

Entre os filmes exibidos na Mostra Curtas Fantásticos o destaque ficou por conta de Não Perturbe (GO), e Mateus Medeiros, sobre um adulto obsessivo por jogos eletrônicos na Internet. Com aspectos cômicos entremeados de elementos de thriller e suspense, o curta envolveu o público. Os outros mais destacáveis são O Céu Sob os Teus Ombros (SP), de Luiz Maximiniano, que utiliza elementos de suspense e surrealismo para narrar a história de um homem que fica preso num milharal e O Taxi de Escher (SP), de Flavio Botelho e Aleksei Abib, que traz narrativas que se misturam em espaços de tempo difusos – que se embaralham para contar uma história. Um verdadeiro caleidoscópio narrativo, criativo e bem realizado.

Oficinas

Durante a oitava edição do Curta Taquary além de exibições de filmes são também realizadas oficinas, laboratórios e seminários temáticos. Entre as oficinas que ocorrem ao longo da programação estão as de Interpretação para cinema, ministrada pela atriz homenageada, Gilda Nomacce, Produção cinematográfica, conduzida pelos cineastas Léo Leite e Lucas Mariz, Animação, com Rosana Urbes à frente e Oficina de Cineclubismo: da prática a criação de um cineclube, sob a batuta de Yanara Galvão. Todas as ações do Festival são gratuitas e abertas à comunidade.

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