Aplicativo popular na China torna dinheiro obsoleto

Sabe Whatsapp, Facebook, Twitter, Apple Pay? Junte-os e multiplique por 980 milhões de usuários. Este é o universo do aplicativo possivelmente mais popular da China. O WeChat, ou Weixin (como os chineses o chamam), começa a estender os seus tentáculos pelo mundo e a ocupar espaços antes compartilhados pelos seus equivalentes mais antigos do Ocidente. Com 19 anos, a Tencent, gigante da internet e dona do app, é um dos casos mais bem-sucedidos de investimento em novas tecnologias do país. Tornou-se recentemente a primeira empresa asiática a bater os US$ 500 bilhões em valor de mercado. No país que inventou o papel, o papel-moeda — e até mesmo o cartão — é cada vez mais dispensável, em boa medida por causa do WeChat.

Na tradicional feira de Sanyuanli, antes mesmo de anunciar o valor da compra, o vendedor aponta para o quadradinho com o código QR colado de improviso ao lado das abóboras. Basta mirar o celular (inseparável de chineses de todas as classes), e a conta está paga. O mendigo que canta em uma das áreas mais nobres da capital, em frente à butique Mercedes, também tem o seu código QR em lugar de destaque. Ele não dispensa o WeChat para receber os trocados. Na verdade, quase ninguém abre mão na China moderna. Nem as grandes empresas nem o governo chinês.

“Eu não ando mais com dinheiro na bolsa. Corre-se o risco de perder as notas ou de ganhar uma falsa”, diz a professora de chinês Su Li, que recebe a mensalidade dos seus alunos particulares pelo app.

Entre as mil e uma utilidades do aplicativo, estão traduzir textos, fazer chamadas de vídeo, comprar bilhetes de avião, trem e metrô, ler notícias, jogar na internet, pedir comida e até procurar um namorado.

Se, por um lado, a China tem toda essa tecnologia e é o país com o maior número de internautas do mundo, é também um dos que tem as regras mais duras de vigilância e controle na rede. A Grande Muralha da China é o nome como ficou conhecido o gigantesco firewall que seleciona a que sites e conteúdos os chineses têm acesso. Estão proibidas plataformas populares mundo afora, como Facebook, Instagram, Twitter, Google e YouTube. Por isso, para cada uma delas, há um equivalente chinês igual ou bem melhor.

Inovação é segredo do sucesso
Os chineses gastam 1,7 bilhão de horas por dia nos aplicativos da Tencent — o equivalente a 75 milhões de dias, ou 205 mil anos. Tudo isso em apenas 24 horas. De acordo com o balanço do terceiro trimestre de 2017, a base de usuários do WeChat cresceu 15,8%. Eles enviam 38 bilhões de mensagens diariamente. O WeChat já pode, até, ser considerado icônico: desde setembro faz parte do acervo do Museu Victoria & Albert, em Londres, especializado em design. Como se coloca um app em um museu? A instituição instalou uma vitrine onde um celular fica ligado no WeChat.

Os bons resultados não vêm apenas do aplicativo. Só o braço de games da companhia teve um aumento de 48% no faturamento do período em relação aos três primeiros meses de 2016, batendo pouco mais de US$ 4 bilhões.

“O que está por trás da popularização do WeChat são as tecnologias únicas desenvolvidas pela empresa”, diz a especialista em marketing de empresas da Cheung Kong Graduate School of Business (CKGSB), em Pequim, Juliet Zhu.

A Tencent é uma das milhares de start-ups chinesas de inovação que vêm se lançando no mercado local e internacional. E é isso o que o governo do presidente Xi Jinping, que anunciou o início de uma nova era para o seu país durante o 19º Congresso do Partido Comunista em outubro, quer ver.

Mas nem todos os casos têm o sucesso retumbante da gigante da internet, hoje a maior inimiga do grupo Alibaba na China. Para Zhu, existe um mercado enorme para inovação e novas tecnologias, embora o índice de sobrevivência de muitas empresas seja “brutalmente pequeno”. Isso porque não adianta só copiar as boas ideias, diz: “O que define quem sairá ganhando é a inovação, a compreensão muito precisa do mercado. É preciso persistir constantemente na inovação.”

Segundo Zhu, o mercado chinês tem espaço para que diferentes produtos sejam lançados. Ela explica que hoje a população não quer apenas as marcas de prestígio do Ocidente, mas qualidade de vida e produtos únicos a preços razoáveis. Fonte: Época.