Apesar dos preços altos, alimentação orgânica tem mais adeptos; saiba por que

A Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos começa hoje (24) em todo o país e, mesmo custando mais que os produzidos de modo convencional, os alimentos orgânicos já tem um nicho de consumidores fiéis. O principal argumento para a opção é a melhoria da qualidade de vida e da saúde.

A funcionária pública Aparecida Araújo trocou os alimentos produzidos com insumos químicos por orgânicos há dez anos e diz que sente os efeitos na saúde.

“Os produtos químicos acabam acarretando doenças, o orgânico é mais fresquinho, mais conservado. Eu tenho 51 anos e minha preocupação é retardar o uso de medicamentos”, disse.

Aparecida diz que vale a pena pagar um pouco mais pelos orgânicos, pois seu modo de produção também é mais sustentável para o meio ambiente, além de estimular a agricultura familiar.

Segundo o engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal, Rafael Lima de Medeiros, o custo do orgânico para o consumidor é, em média, 250% mais caro que o alimento tradicional. Algumas hortaliças têm o preço muito próximo, outros, como tomate e morango, já apresentam uma diferença maior.

“Isso se justifica porque o agricultor orgânico tem que trabalhar com insumos mais caros, fertilizantes não tão solúveis, a hortaliça fica mais tempo na terra, demora mais pra ficar pronta. Existe também um custo com a certificadora que exige que o produtor seja socialmente justo, com todos os empregados com carteira assinada. Tudo isso acaba encarecendo”, argumenta.

Ele diz, ainda, que o custo para o agricultor é maior, mas a lucratividade em relação ao convencional também tende a ser mais alta, já que o produto orgânico não está tão sujeito à sazonalidade do mercado, pois a demanda é constante. “Na época da seca, o tomate custa R$ 10 a caixa e, na fase da chuva, chega a valer R$ 120. O preço do tomate orgânico é R$ 80 o ano todo, não varia muito para o agricultor”, pondera.

A Agência Brasil visitou o Mercado Orgânico da Central de Abastecimento do Distrito Federal e encontrou lá a aposentada Dilma Moura. Ela conta que encontrou resistência dos filhos, mas diz que perdeu 10 quilos de dois anos para cá ao mudar para a alimentação orgânica.

“Busquei especialistas, nutricionistas, deixei os remédios e passei a tomar mais vitaminas, orientada pelos médicos, e isso causou uma mudança radical na minha vida. A alimentação saudável controla o estresse, ajuda a dormir e você se sente melhor para fazer exercícios. É um produto de muita aceitação, dizem que é mais caro, mas não consigo ver isso diante de tantos benefícios para a saúde”, conta.

Segundo a presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco, é necessário ampliar a produção e o acesso a esses alimentos.

“Precisamos ampliar as bases da produção agroecológica no Brasil. Para que isso se efetive devemos ampliar o crédito, o seguro agrícola, todos os instrumentos de política agrícola e de assistência técnica”, disse

A presidente do Consea defende a popularização das feiras agroecológicas pelo país. “Precisamos dos chamados circuitos curtos de mercado. Isso dinamiza a economia local, traz uma relação mais direta do agricultor com o consumidor. Nos bairros populares, necessitamos ter sacolões, precisamos expandir esses equipamentos de alimentação pública. Isso é que vai garantir um consumo maior com preços também mais acessíveis para essa população”, argumenta.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) disponibiliza uma lista com alguns pontos de venda de alimentos orgânicos no Distrito Federal. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor também tem um mapa online de feiras orgânicas pelo país.