Anielle Teixeira, a menina que não pode mais ver o mar – Por Valquiria Alencar

A Paraíba começa o dia com uma notícia chocante e revoltante: a violência sexual e assassinato de Anielle Teixeira, 11 anos, desaparecida desde o último domingo (5). Seu corpo desnudo e exposto num matagal. Mais uma vítima, mais um número nas estatísticas, mas também mais um predador sexual nas ruas.

Como tantas outras adolescentes vítimas de predadores sexuais, que, muitas vezes, são da família ou estão próximos, Anielle é mais uma vítima da cultura do machismo, que “confere” ao macho o direito de violentar qualquer mulher, não importa a idade, que se encontre numa posição de desvantagem frente a ele, em qualquer circunstância e, portanto, satisfazer seus desejos e fantasias sexuais.

O estupro em si é um ato de poder e o assassinato é a manifestação da covardia, do desejo de permanecer anônimo para continuar sua sanha perversa e cruel impunemente. Quantas vítimas esse cafajeste não terá feito? Mas, é a própria sociedade que confere aos homens esse poder, quando pais e mães educam seus filhos, dizendo que “são machos, tudo podem”! É momento de reflexão e de mudança de paradigmas culturais.

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Toda e qualquer violência sexual deve ser vista sob a ótica de gênero, pois a menina é a principal vítima dos abusadores sexuais e estupradores, tanto pela desvalorização do feminino (“mulher é pra ser usada”) ou pela situação de desamparo e desproteção das suas vítimas, independente de classe social.

Anielle foi assassinada, sua vida ceifada, seus sonhos de adolescente estrangulados! Que a sua morte não só nos comova, mas também acorde em cada uma de nós, mulheres, o sentimento de sororidade para com todas as meninas e mulheres vitimadas pela violência sexual, de luta por justiça para o assassino de Anielle, pois ela não pode mais ver o mar!

  • Texto: Valquiria Alencar de Sousa
  • Ex-coordenadora da Redexi e presidente do Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente (Cendac)