Anayde Beiriz: uma visionária da liberdade e do direito de amar

Anayde Beiriz: uma visionária da liberdade e do direito de amar
Andyde Beiriz – Foto: Rogerio Almeida

Em 18 de fevereiro de 1905, nascia uma estrela, estrela que veio para brilhar e para iluminar caminhos, desenhar veredas, descortinar horizontes, a professora Anayde Beiriz.

Nasceu na Parahyba (João Pessoa), há 110 anos. Era filha do tipógrafo do jornal A União, José da Costa Beiriz e da dona de casa, Maria Augusta de Azevedo. Em maio de 1922, concluiu o curso de professora na Escola Normal, que funcionava onde hoje é o Tribunal de Justiça da Paraíba, na Praça dos Três Poderes, sendo a primeira aluna da turma. Foi lecionar na escola de pescadores Z2, em Cabedelo, vila portuária do estado.

Em 1925, ganha um concurso de beleza promovido pelo jornal carioca, Correio da Manhã. Gostava de literatura e de poesia, incentivada pelo pai. Então, começou a frequentar as tertúlias literárias da casa do médico José Maciel, onde conviveu com intelectuais da época. Anayde se destacava como declamadora ao lado de Adamantina Neves, Amelinha Teorga e Odete Gaudêncio.

Vanguardista, já assumia a defesa dos direitos das mulheres, principalmente do voto feminino e da liberdade de expressão. O direito de amar sem restrições. Uma artista de vanguarda, que já se pronunciava publicamente e através da sua poesia em favor das mulheres, uma precursora do feminismo. Através de Anayde, os ecos do movimento de 1922, o modernismo, chegavam à Parahyba.

Segundo o escritor e médico, Marcus Aranha, (2005), Anayde também foi jornalista da imprensa nanica como colaboradora constante da “Revista da Cidade”, no Recife e na revista “Era Nova”, editada na Parahyba, por Severino Lucena. E nessa bela e promissora trajetória de vida intelectual, em 1928, Anayde inicia um romance com João Dantas, advogado, adversário e inimigo político de João Pessoa, presidente da Paraíba. Essa guerra política culminou com a tragédia do assassinato de João Pessoa por João Dantas, em 26 de julho de 1930, no Recife. Anayde foi perseguida, execrada como sendo pivô dessa tragédia.

Mas, falemos de Anayde, do seu espírito indomável, da sua capacidade literária, da sua visão futurista de igualdade para as mulheres e de libertação das amarras da escravidão social e familiar a que as mulheres da sua época eram submetidas. Uma visionária da Liberdade, através da palavra e da poesia, Anayde previu um mundo novo para as mulheres fortes e corajosas e apelava para que não se dobrassem à força dos preconceitos e da hipocrisia.

Sua morte foi consequência do patriarcado, da intolerância, do falso moralismo e das desigualdades. Comungo com o poeta, Lau Siqueira (1987), “Anayde foi assassinada naquele 22 de outubro”, de 1930. Até na morte ela não foi poupada, foi enterrada como indigente, como uma desconhecida, no cemitério de Santo Amaro, em Recife, sem registro nenhum, nem ao menos, o seu nome. Seus restos mortais nunca foram resgatados pelas autoridades paraibanas, o silêncio foi o gesto simbólico de total apoio às atitudes do então presidente da Paraíba, ao expor publicamente, a Rua Duque de Caxias, as cartas de amor e de paixão de Anayde e seu amado.

Sua vida foi breve, mas o seu exemplo permanece. Por décadas, seu nome foi apagado da história da Paraíba, mas, sua memória vem sendo recuperada pelas mulheres, de várias formas, em vários espaços. E a lição fica: a intolerância e o preconceito fazem vítimas, em todas as épocas! Salve, Anayde!

  • Valquíria Alencar
  • Feminista, professora e presidente do Cendac