Anatel e Embraer vão investigar se 5G atrapalha operação de aeroportos

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a fabricante brasileira de aviões Embraer farão um estudo detalhado sobre a possibilidade de o 5G, a quinta geração de telefonia móvel, interferir nos sistemas de navegação de aviões no país.

Essa suspeita está dando dor de cabeça nos reguladores, empresas de telefonia e companhias aéreas em todo o mundo. O risco, segundo especialistas, está em uma eventual interferência do sinal do 5G nos sistemas de aproximação de aeronaves de aeroportos, o que poderia reduzir a segurança das operações, particularmente aterrissagens guiadas por aparelhos.

A preocupação está nos altímetros que operam por rádio nas aeronaves e que usam frequências próximas ao 5G. Trata-se dos equipamentos que calculam a distância exata do avião em relação ao solo, usados especialmente em operações de pouso por instrumentos, quando o piloto não tem visibilidade total da pista, para evitar acidentes e colisões. Frequências são como avenidas por onde transitam dados.

O sinal amarelo foi aceso nos EUA, com dúvidas levantadas por companhias aéreas e fabricantes de aviões. Mas, como há diferenças entre os países, é necessário fazer testes de acordo com as realidades locais.

A Embraer vai disponibilizar aviões e pistas de pouso para os testes supervisionados pelos técnicos da Anatel, que serão feitos ao longo deste ano. Ainda não há data definida para o início das avaliações. Fontes dizem que devem começar “nas próximas semanas”, mas a Anatel não deu nem previsão sobre quando os primeiros resultados poderão ser conhecidos, pois estes dependem da evolução dos dados coletados.

Frequências próximas

Os estudos conduzidos pelo órgão regulador do setor de telecomunicações brasileiro, porém, não devem interferir no cronograma de implementação das redes móveis de 5G no país, cuja operação está prevista para começar até o fim do primeiro semestre de 2022 em todas as capitais.

Isso por conta das características das faixas de radiofrequência escolhidas para o 5G no país, que foram leiloadas pelo governo em novembro do ano passado, avaliam técnicos envolvidos no assunto.

A suspeita de interferência do 5G nos altímetros ocorreria na faixa de 3,5 GHz, considerada a principal para a operação comercial da nova tecnologia, que promete internet móvel muito mais veloz que a do atual 4G. Tecnicamente, essa faixa é chamada de Banda C.

Nos EUA, a suposta interferência teria maior chance de acontecer por causa da largura da faixa adotada para a Banda C do 5G naquele país, que vai até 3,98 GHz. Isso é bastante próximo da frequência dos altímetros, que operam entre 4,2 GHz e 4,4 GHz.

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No Brasil, as operadoras estão licenciadas a operar apenas até a faixa de 3,7 GHz. Ou seja, haveria uma faixa de segurança maior, o que reduziria os riscos de interferência nas aeronaves.

— Esse maior distanciamento em frequência no Brasil, chamado de banda de guarda, acarreta melhores condições para a convivência e menor risco de interferências no território brasileiro — disse Moisés Moreira, conselheiro da Anatel e presidente do Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência.

Nos EUA, diante das preocupações apresentadas por Boeing e Airbus, as duas maiores fabricantes de aviões do mundo, aéreas e órgãos reguladores como a agência de aviação civil americana, a FAA, a operação do 5G em áreas próximas a aeroportos será atrasada em até seis meses para mais estudos.

Uma análise da indústria aeronáutica afirma que a interferência pode afetar centenas de milhares de voos todos os anos nos EUA, atrasando pousos ou fazendo com que aviões sejam desviados.

A França tem alguns limites para as operações do 5G em vigor em 17 aeroportos onde os pilotos têm menos visibilidade durante o pouso. No Japão, há restrições ao uso da tecnologia em áreas de aproximação de aeronaves comerciais.

Em busca de soluções

No Brasil, além de avaliar a eventual possibilidade de interferência entre frequências, o estudo vai analisar possíveis medidas para mitigar os riscos e manter tanto as redes móveis quanto as operações aéreas. Técnicos do setor aéreo ressaltam que é preciso ter total segurança para as operações dos aeroportos. Mesmo que os riscos no Brasil sejam menores, eles precisam ser estudados.

A Embraer informou que tem colaborado com as autoridades aeronáuticas competentes e orientado seus operadores para garantir o mais alto grau de segurança da operação das aeronaves nesse cenário. “Importante destacar que estamos em contínua cooperação com a Anatel e que o problema em questão se aplica unicamente às operações no território norte-americano”, diz nota da fabricante.

Procurada, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) afirmou que está atenta às informações e que se colocou à disposição da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para contribuir com estudos e análises sobre eventuais impactos no Brasil.

A Anac disse que monitora o assunto de perto e que tem auxiliado a Anatel no trabalho de convivência entre faixas futuras do 5G e radares aeronáuticos.

Procurada, a Boeing encaminhou um conjunto de notas da FAA e da Airlines for America, que reúne aéreas americanas. Nelas, o órgão regulador dos EUA diz que está trabalhando com as empresas de telefonia para encontrar uma solução, mas alerta que pode restringir as operações do 5G em áreas com risco de interferência. A Airbus não respondeu.

Do O Globo.