Análise: Bolsonaro derrete enquanto Lula prepara vitória em 1º turno

O derretimento, aos olhos e ouvidos da população brasileira, do ex-capitão – atual cabo eleitoral do Valdemar – vai se aumentando. A pesquisa do Ipec oferece a realidade amarga do desmando, da estultice e da falta absoluta de empatia de quem tem por dever de função governar e não fazer motociata.

A soma de todas as vias, nomes que se apresentam como candidatos à Presidência da República, segundo a pesquisa Ipec, não dá um Lula, que dispara na preferência do eleitorado. Os argumentos falaciosos juntados pelo ex-capitão, às expensas de Moro, para rejeitar o ex-presidente, são frágeis diante das experiências atuais do cotidiano do pobre povo brasileiro.

A conversa no séquito do ex-capitão não é mais chegar ao segundo turno da eleição de 2022; é não ter a eleição resolvida no primeiro turno. A pirotecnia de Moro assusta menos que a rejeição galopante.

O efeito das pesquisas não vai tardar.

O desembarque do Centrão está próximo. O discurso dos políticos acostumados a “compor” com o poder instalado está pronto. Lira já acenou para a vocação do Centrão em dar governabilidade em modelo presidencialista. Tenta um semipresidencialismo para se manter como regente do príncipe. Não vai funcionar.

O Centrão conta com um ano derradeiro de governo, em que o ex-capitão, agora um consagrado pato manco, tenta se acomodar com os seus milhões em emendas, e para isso luta desesperadamente para derrubar o veto ao Fundão, onde R$ 5,7 bilhões estão reservados para os partidos fazerem a sua boquinha eleitoral no ano que vem. Estão segurando a pauta de votação – não votam o vale-gás – benesse do governo produzida para recompor as perdas das famílias prejudicadas pela política econômica. O Centrão sabe o que quer.

Vai ser interessante observar aqui e acolá deserções envergonhadas. Haverá desculpas de todo tipo.

Instituições que não estiverem totalmente amordaçadas começarão a dar sinais de vitalidade. É de se esperar que setores, dentro da gestão pública, amedrontados pelo assédio intimidatório, mostrem sinais de resistência. A movimentação no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira) e da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgãos onde servidores deixaram seus cargos em protesto pelo desrespeito às competências técnicas, não deverá ser única.

A insistência melancólica na negação da ciência, na premiação da incompetência como parâmetro para selecionar auxiliares, tem um preço: o desandar da economia, o aumento da pobreza, a corrosão das instituições, o risco à vida de brasileiros e de brasileiras. E agora, para os atuais inquilinos do Palácio do Planalto, tem as notícias de pesquisa eleitoral.

Enquanto isso, pelo Brasil afora, longe dos cafés e rapapés do Congresso Nacional e dos ardis dos gabinetes de ódio, a população sinaliza com um basta. Assim, os números de desaprovação ficam mais robustos e a aprovação se dilui, aparecendo até para os mais recalcitrantes o infortúnio de ter um governo conduzido por um trôpego, um incapaz.

Não tem mágica. Se para alguns, o discurso moralista – imoral na intencionalidade, porque é mais um artefato populista do que uma convicção – ou a gritaria contra o “comunismo”, contra os “esquerdistas” continua sensibilizando aqueles que vivem de teorias conspiratórias, a maioria está procurando se há terra à vista, além do dilúvio bolsonarista.

Diante do desespero da iminente derrota, o exército do ex-capitão poderá usar armas violentas.

Bicho ferido encurralado faz a luta de vida e morte. É preciso deixar um vão para o escape, para a fuga. O vão é a porta de saída. No primeiro turno. Porque, no caso, no nosso caso brasileiro, a ameaça de morte é da democracia.

Neste momento, ainda fica pendente, por exemplo, explicação sobre uso de perfil oficial ou de senha de funcionário federal para sabotagem do ConectaSUS. Mas esse é um outro assunto.

Texto: Olga Curado
Jornalista e colunista do Uol