Ações da Petrobras despencam 8% após Bolsonaro vetar aumento do diesel

O principal indicador da bolsa paulista, a B3, fechou em queda nesta sexta-feira (12), pressionado pela forte queda da Petrobras, após a estatal desistir de elevar o preço do diesel em suas refinarias, atendendo à interferência do governo, e em meio a clima de cautela quanto à articulação política da reforma da Previdência.

O Ibovespa terminou o último pregão da semana com queda de 1,98%, a 92.875 pontos. Veja mais cotações.

Segundo dados preliminares, as ações ordinárias da Petrobras caíram 8,76%, negociadas abaixo de R$ 30 por papel. Já as preferenciais recuaram 8,36%, perto de R$ 25 por ação. Apesar do forte tombo, os papéis da Petrobras ainda acumulam valorização de mais de 15% no ano.

A companhia desistiu na véspera do aumento de 5,74% no do preço do diesel nas refinarias. O recuo na decisão da companhia ocorreu após uma determinação do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro afirmou que não defende práticas “intervencionistas” nos preços da estatal, mas pediu uma justificativa baseada em números, alegando que o aumento era superior à inflação projetada.

“Se me convencerem, tudo bem, se não me convencerem tudo bem. Não é resposta adequada para vocês, não sou economista, já falei. Quem entendia de economia afundou o Brasil, tá certo? Os entendidos afundaram o Brasil”, afirmou o presidente nesta sexta-feira (12), durante inauguração do aeroporto de Macapá.

Para justificar a manutenção do preço, a estatal afirmou que há margem para postergar o aumento do diesel por “alguns dias”. Na outra ponta, CSN e JBS subiam ao redor de 2%. No dia anterior, o Ibovespa recuou pelo terceiro pregão seguido, e caiu 1,25%, com 94.754 pontos.

Temor de ingerência na Petrobras

O recuo na decisão da Petrobras sobre o preço do diesel nas refinarias levantou incertezas quanto à independência da estatal no que tange a sua política de reajustes de combustíveis. O movimento ocorre diante de uma recente insatisfação de caminhoneiros em razão dos valores do diesel e dos fretes.

No ano passado, a categoria organizou uma greve histórica por causa da alta do combustível mais consumido no país, o que abalou a Petrobras, culminando com a renúncia do então presidente Pedro Parente.

Essa intervenção entra em conflito explícito com a política liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. Tanto que a Petrobras negou oficialmente a pressão do Planalto para a mudança de decisão de aumentar o preço do diesel, conforme o Blog do Camarotti.

Em comunicado, a companhia informou que “em consonância com sua estratégia para os reajustes dos preços do diesel divulgada em 25/3/2019, revisitou sua posição de hedge e avaliou ao longo do dia, com o fechamento do mercado, que há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel”.

A política de preços da Petrobras buscando a paridade está em vigor desde 2016, tendo passado por ajustes desde então. O mais recente movimento, anunciado em março, prevê que a companhia pode segurar a cotação do combustível por períodos mais longos nas refinarias, com alterações acontecendo em intervalos não inferiores a 15 dias.

Críticas à interferência

A decisão da Petrobras foi recebida com críticas por lideranças ligadas ao setor de combustíveis. “É impressionante, o governo se diz tão forte, tão liberal, e fica refém dos caminhoneiros. Foi mais um retrocesso e muito ruim para o país, porque deixa de atrair investimento, muito ruim para a Petrobras, porque perde dinheiro, e muito ruim para o governo, porque perde credibilidade”, afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.

Na mesma linha, se manifestou o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). “Existem soluções para atender aos pleitos dos caminhoneiros sem prejudicar os acionistas da Petrobras e preservando os projetos do Roberto Castello Branco para o desinvestimento nas refinarias… O governo está dando uma péssima sinalização para os investidores nacionais e internacionais”, disse.