Para cada ato que ela fazia, sentia os olhos daquela que a lembra sempre que vive em transgressão. Ela só queria amar, estar com quem ama, nem que fosse por um instante. Aqueles olhos inquisidores, que não perde nenhuma postagem no Instagram, por exemplo, poderiam ser bloqueados. Não são. Representa a lembrança de que alguma coisa está fora de ordem.

Ultimamente, pessoas dizem que ela é acima da média. No trabalho, que é uma de suas fugas da realidade. Ela discorda. Quem seria ela em meio a constelação de estrelas midiáticas, que sabem se expressar, em texto, imagem e som? “Eu sou alguém e ao mesmo tempo, ninguém”, refletiu.

A inquisição a faz questionar: por que ele? Aonde vais chegar?

Ela não sabe. Apenas quer viver e sonhar.

Ela se acha gorda, feia e nem um pouco sensual. Tem saudade e também sente vergonha dele. Será que ele está olhando minha desproporção corporal? Estou sem maquiagem e não estou bonita, será por isso que tirou o óculos, para não enxergar? Questionamentos paranóicos que pairam na cabecinha dela exatamente no momento em que tudo deveria ser flores.

Ela diz que não é ninguém, não é especial, não é significante. Se vê como uma poeira no deserto. Imperceptível. Abre a caixa de pandora e lá estão guardadas todas as declarações que ouviu e não prestou atenção. “Ela foi o melhor beijo da minha vida”, disse Fulano, ao que Beltrano intervém. “Ela foi a grande paixão da minha vida”.

Ela procura amor onde não há. Às vezes queria que ele sentisse piedade, e dissesse, mentindo, que também a ama. Natural para quem se deprecia tanto.

Esta é a história de alguém, que se sente ninguém e que me comoveu ontem à noite, no meu trajeto para casa, dentro do ônibus. Ela desaguava ao telefone, mal sabia ela que o ambiente ficou pesado por inteiro. Chorei por ela. Queria abraçá-la e dizer: você é forte e é muito mais do que esta comiseração que provocas. Tu és linda. Apenas se ame e aceite isso. A felicidade é logo ali.