Cantor e auxiliar de Romero voltam a trocar farpas por conta do São João de Campina

Alcymar e Marcos Alfredo travam debate

A polêmica envolvendo a ausência de vários artistas nordestinos na edição deste ano do Maior São João do Mundo parece longe de acabar. Nas últimas horas, o cantor Alcymar Monteiro e o jornalista Marcos Alfredo, coordenador de coordenador de Comunicação da Prefeitura de Campina Grande, utilizaram as redes sociais e mantiveram o debate aceso.

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A troca de farpas começou na última quarta-feira (19), quando Alcymar Monteiro postou um vídeo em sua página pessoal no Facebook classificando a programação deste ano do São João de Campina Grande de “festival dos horrores”.

Horas depois, o auxiliar do prefeito Romero Rodrigues (PSDB) foi às redes sociais para se contrapor às queixas do cantor Alcymar Monteiro, apontado como um dos ícones do forró. “Ninguém pode ter lugar cativo na programação do São João”, publicou Marcos Alfredo em sua página no Facebook.

Na noite desta sexta-feira (21), Alcymar voltou a usar as redes sociais, desta vez para rebater o jornalista Marcos Alfredo e acusar a gestão do prefeito Romero Rodrigues de praticar um crime contra a cultura nordestina.

“E digo mais, coordenador… O que a gestão a qual o senhor faz parte está fazendo com o São João de Campina Grande é crime de lesa-cultura. O senhor não pode, sob o guarda-chuva de ‘popularidade de ídolos’ calar a voz de dezenas de artistas que têm um compromisso com a cultura nordestina”, comentou Alcymar.

Na manhã deste sábado (22), foi a vez de Marcos Alfredo voltar usar o Facebook para se reportar às críticas de Alcymar Monteiro. “Alcymar e tantos outros que estão a criticar o Maior São João do Mundo, que este ano está sob a batuta da empresa Aliança, o fazem por uma lógica natural: estão defendendo o trabalho e a carreira deles, o ganha-pão sagrado, com seu verniz cultural e proposta de preservação das raízes”, disse o jornalista.

Seguem abaixo as postagem feitas por Alcymar Monteiro e Marcos Alfredo:

Alcymar

#DevolvamMeuSãoJoão

Caro Coordenador de Comunicação de Campina Grande, Marcos Alfredo Alves,

Teria dado como encerrada a polêmica sobre o “São João” de Campina Grande, mas sua réplica, e minha presença hoje no Festival Viva Dominguinhos não me permitiram ficar sem uma tréplica.

E por qual motivo a minha presença nesse Festival, que se realiza anualmente na cidade-mãe do Mestre Dominguinhos, Garanhuns, me fez escrever essa resposta? Um motivo singelo: esse evento desmonta completamente a falácia de vocês que falam em “modernizar” a grade das festas juninas, como se isso fosse garantia de maior público e renda para a cidade.

Coordenador, o senhor e o prefeito, conjuntamente a empresa pernambucana Aliança, partem de uma falsa premissa de que uma grade recheada de “atrações nacionais” invalida a presença de figuras históricas da música nordestina que, ao contrário do que o senhor disse, se não têm com certeza deveriam ter cadeira cativa no seu São João.

Coordenador, o senhor fala em terceirizar despesas. E a partir daí já me perdeu no seu texto, tão bem escrito… Me perdeu pelo fato de sua visão de mundo, e creio que a de seu chefe, colidir tão frontalmente com a minha: enxergar o investimento em cultura popular como meramente uma rubrica orçamentária, uma “despesa”.

Coordenador, cultura não é despesa. Cultura é dever. Dever constitucional. Cultura é direito humano fundamental. Está no artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, se o senhor não sabe. Cultura é a forma pela qual passamos nossas histórias, nossas danças, nossas músicas, nossa linguagem; enfim, nossa identidade, aos nosso filhos e netos. Cultura é, portanto, tão importante e essencial quanto saúde.

Muito me magoa sua ideia de que eu ou algum de meus colegas de profissão publicou qualquer crítica por estar somente “de fora da grade”. Pessoalmente publiquei um vídeo falando da desvalorização do ritmo forró, intrínseca e indissociavelmente ligado ao São João, em detrimento a ritmos exógenos à nossa realidade.

Coordenador, sem nenhuma falsa modéstia e do alto dos meus mais de 35 anos de carreira artística lhe digo uma coisa: se Alcymar Monteiro, Santanna, Genival Lacerda (e seus 50 anos de carreira!) Jorge de Altinho, Zé Ramalho, Flávio Leandro, Petrúcio Amorim, Geraldo Azevedo, e tantos outros ficaram de fora de Campina Grande, a perda é de vocês. Aliás, de vocês não, do POVO de Campina Grande sim.

E digo mais, Coordenador. E digo com todas as letras, para que fique consignado para a história e bem claro. O que a gestão a qual o senhor faz parte está fazendo com o São João de Campina Grande é crime de lesa-cultura. O senhor não pode, sob o guarda-chuva de “popularidade de ídolos” calar a voz de dezenas de artistas que têm um compromisso com a cultura NORDESTINA.

Há espaço para todos os ritmos em todos os locais. Não sou ingênuo para achar que grandes eventos de massa não são regidos também por interesses comerciais. Mas não podem ser regidos SÓ por interesses comerciais. O senhor fala em parceria público-privada, em profissionalização, todas palavras muito bonitas para qualquer empresa que cuide de qualquer área PRIVADA. Aqui não, Coordenador. O senhor está cuidado de um bem imaterial DO POVO. O senhor está cuidando da herança que essa geração deixará para a próxima. Cultura nunca deu nem nunca daria “lucro”. O “lucro” da cultura é saber que os valores dos seus pais, Coordenador, estão imbuídos no senhor através daquela fogueira que, espero, o senhor tenha pulado, ouvindo Luiz Gonzaga, comemorando com sua família em idos passados.

O senhor ainda faz uma pergunta aberta, querendo saber se as críticas ocorreriam se os artistas que criticam estivessem na grade. Faço questão de vestir a carapuça e lhe dizer com toda franqueza: sim. Enquanto dirigentes públicos buscarem o aplauso momentâneo de grupos que se locupletam da cultura, que estão ali apenas pela força e poder do dinheiro, serei um crítico feroz. Sou compadre de Luiz Gonzaga, e meu compadre me disse que “Moda é igual sapato velho. Todo ano a gente joga fora”.

Então, Coordenador, ficamos assim. Eu daqui do meu lado defendendo a bandeira do que acredito como verdadeira cultura, mesmo indo de encontro ao que está “na moda”. Estarei eu aqui, cantando para mais de 50.000 pessoas em Garanhuns, em honra ao Mestre Dominguinhos. E o senhor, daí, “profissionalizando” o “São João” de Campina Grande. Fazer uma grade de São João por conveniência não engrandece currículo de político algum. Desmerecer artistas que deram e dão o sangue e a vida pela cultura NORDESTINA é digno de vergonha. Não é digno de censura pois censura é o esconderijo dos covardes.

Parafraseando Vandré também, queria dizer que “somos todos iguais, braços dados ou não”. Que tenho certeza que no fundo da alma dos atuais gestores de Campina Grande o que eles fazem está certo, e é o melhor para o povo. Do contrário não conseguiria viver nesse mundo. Não aceitaria pensar que gestores públicos estão pensando primeiro em cifrões e não em seus deveres com seus governados. Me entristece apenas saber que o estrago já estará feito, e será de difícil reparo, quando os senhores enxergarem o quão cegos e errados estão.

O que me preocupa é aquela criança de 5 anos, em formação de personalidade, que vai pela primeira vez com os pais ao Parque do Povo. Ela se verá no palco? Estará no palco uma representação de uma cultura dela, que ela possa se identificar, gostar, preservar e levar para seu futuro? Não. Estará no palco a representação momentânea e efêmera desses tempos loucos, de poucos valores e muitas desvirtuações que vivemos. Estará no palco a escolha de um gestor público pela moda, e não pela cultura. Estará no palco, ao vivo e a cores, a morte da cultura nordestina-brasileira. Aplaudida e cantada, uníssono.

Alcimar Monteiro, Garanhuns, 21/04/2017

Marcos Alfredo

Com carinho, uma nova resposta a Alcymar

Não sou dado a alimentar polêmicas, mas o texto muito bem escrito pelo cantor e compositor Alcymar Monteiro e espalhado nas redes sociais, na noite desta sexta-feira, dirigido diretamente à minha pessoa, me permite destacar alguns pontos de vista que, acredito, podem servir de reflexão para todos os que têm compromisso com um legado importante como é o Maior São João do Mundo.

Curto e admiro a carreira de Alcymar Monteiro. E não é de hoje. Para mim, é um dos baluartes da resistência cultural da música nordestina. Nunca se dobrou aos modismos e não me surpreendeu nem um pouco estar ele fazendo essa defesa apaixonada do que considera verdadeiro e basilar. Humildemente, peço desculpas se, em qualquer contexto, eu possa ter agredido o artista ou seus valores. Ao final, registre-se, tudo não passa de uma defesa de ideias e conceitos, sobre os quais pretendo aqui pontuar com a sinceridade de sempre.

Ponto de partida: esse debate parte de uma premissa errática. O Maior São João do Mundo nunca se limitou ao Parque do Povo. Incorre em um grande equívoco quem imaginar que o palco principal resume, concentra, representa tudo que é cultura da festa. Compreende-se, até certo ponto: por sua força midiática, a grade artística ocupa espaço desmesurado na vida das pessoas, que têm o livre arbítrio para prestigiar o que lhes aprouver nas apresentações gratuitas do Parque.

Alcymar e tantos outros que estão a criticar o Maior São João do Mundo, que este ano está sob a batuta da empresa Aliança, o fazem por uma lógica natural: estão defendendo o trabalho e a carreira deles, o ganha-pão sagrado, com seu verniz cultural e proposta de preservação das raízes. Aplaudo e não tiro a razão deles. Só não concordo com a suprema presunção do artista de que, sem ele e outros de sua lista, a sobrevivência do evento está comprometida, como estaria irremediavelmente ferido de morte o nosso São João deste ano.

O Maior São João do Mundo tem cultura nordestina bem representada no palco principal, sim. Gente da melhor estirpe cultural e que está sendo conscientemente esquecida pela linha dos argumentos de Alcymar. Não merecem respeito e reverência artistas como Flávio José, Elba Ramalho, Biliu de Campina, Os 3 do Nordeste, Dorgival Dantas, Coroné Grilo, Capilé e Amazan, para citar alguns? Os que seguem esse mesmo perfil e ainda não foram anunciados para o Palco Parafuso, na parte inferior e onde estão concentrados os grandes pavilhões de restaurantes e bares da festa, serão ignorados por não fazerem parte da casta dos privilegiados de primeira grandeza representados por Alcymar?

O Maior São João do Mundo tem cultura nordestina autêntica e de qualidade, sim, nas ilhas de forró espalhadas no Parque do Povo, onde trios de nossa terra manterão acesa a música regional genuina. As dezenas de grupos desses artistas contratados, que não têm simpatizantes nas grandes mídias ou bem estruturadas assessorias, não merecem aplausos e reconhecimento pela resistência cultural que representam o ano todo?

O Maior São João do Mundo tem cultura nordestina legítima, sim, nos espaços para as comidas típicas – que este ano ganham destaque na área inferior do Parque do Povo. Nas apresentações das quadrilhas juninas, que atraem milhares de turistas. No Trem Forroviário, com seu passeio bucólico ao Distrito de Galante, ao som de um trio de forró em cada vagão. Na decoração junina nas ruas, nos estabelecimentos comerciais, escolas e nas milhares de casas de campinenses que recebem parentes e visitantes. Nas missas da Catedral, onde artistas convidados se envolvem com o ato religioso de celebração aos santos da época. Nos eventos paralelos, apoiados pela Prefeitura, como Corrida da Fogueira, Corrida do Jegue, a disputa no Pau de Sebo e tantos outros.

Portanto, renovando meu respeito e admiração por Alcymar Monteiro, digo ainda que, para uma festa que este ano completa 34 anos de existência (tão longeva quanto a carreira do cantor), o Maior São João do Mundo continuará firme, forte e renovado, preservando a cultura que vai além de uma grade artística do palco principal do Parque do Povo.

Em 2017, graças ao novo modelo, o município economizará o bastate para construir um moderno e bem estruturado Hospital da Criança e do Adolescente. É uma conquista importante que o prefeito Romero Rodrigues, tão atacado pelo artista, assegura para aquela criança de 5 anos, citada pelo próprio Alcymar no seu texto endereçado a mim. Durmo com a consciência tranquila de que, com ajustes naturais nessa necessária transição, faremos este ano o Maior São João do Mundo de todos os tempos.

Sucesso sempre, Alcymar! Você merece.