“PT tenta dissociar partido de Dilma para sobreviver”, diz cientista político da UFPB

O programa partidário do Partido dos Trabalhadores (PT), exibido em rede nacional na noite desta terça-feira (5), deu destaque especial ao ex-presidente Lula (PT), principal nome do partido para a sucessão presidencial em 2018. Com Dilma em baixa e sem possibilidade de uma terceira reeleição, o ex-presidente vem se credenciando para tentar seu terceiro mandato, o que seria inédito na história do país.

Durante o programa, os apresentadores destacaram ações do Governo Federal para combater a corrupção, e que foi o partido que mais lutou para que os políticos que cometeram crimes de corrupção fossem punidos. “Os filiados ao PT que forem condenados serão mandados embora do partido, mas não se pode criminalizar o partido todo por conta de erros graves de alguns filiados”, disse o presidente nacional do PT, Rui Falcão, em depoimento no programa.

Para o cientista político da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), José Artigas de Godoy, Lula sempre teve as credenciais necessárias para disputar o cargo e sempre foi um ‘manancial político’ a disposição do PT. “Neste momento de crise institucional, é importante para o partido garantir sua identidade, e Lula tem sua identidade muito mais ligada ao PT do que Dilma, que hoje está vinculada em um governo de coalizão, ao lado do PMDB, do agronegócio, de banqueiros, que não estão alinhados com o PT”, analisou.

Artigas diz que o partido busca retornar a suas bases originais, relacionada aos movimentos sociais e de juventude, e que o program partidário do PT parte de um discurso de recomposição da legenda, deixando claro o apoio parlamentar ao Governo Federal, mas se dissociando de Dilma.

Dilma desagrada bases

O cientista político disse ainda que o destaque no ex-presidente Lula e o distanciamento do governo da presidenta Dilma tem relação com a relação complicada que tem se estabelecido entre o Governo Federal e o PT. A tendência que domina o partido, ‘Construindo Um Novo Brasil’, a mesma do ex-presidente, foi alijada dos principais postos no Governo Federal, incluindo a saída dos ministros da casa-civil e educação. As discussões mais recentes sobre o ajuste fiscal teriam atingido ainda a Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT.

“Dilma tem um ministério com pouca solidez, delegou a política econômica a Joaquim Levy, o que foi um tiro no peito do PT, que perdeu o controle da fazenda e do planejamento. Além disso, o desgaste por conta dos escândalos de corrupção, a inabilidade de formar uma coalizão para governabilidade e o relacionamento com o PMDB tem tornado as coisas ainda mais difíceis. O PT hoje tem um caminho que vai cada vez mais distante do Governo Dilma, mantendo-se como sua principal base de sustentação, mas almejando independência, até para mesmo para poder sobreviver”, finalizou.