Paraibanos protestam contra coordenador de saúde mental nesta sexta-feira

Na tarde desta sexta-feira (18), um grupo de representantes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), psicólogos e demais servidores da área psiquiátrica estadual, convocados pela coordenadora de saúde mental do Estado, Shirlene Lima, se reuniram em protesto em frente a sede do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, em João Pessoa, contra a nomeação de Valencius Duarte Filho como coordenador nacional de saúde mental do Ministério da Saúde, e, também, para que sejam extintas as instituições manicomiais.

Valencius foi diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras de Paracambi, hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro, fechado em 2012 após denúncias de violações de direitos.

A assistente social e coordenadora do CAPS I de São João do Cariri, Gerlane Bandeira, que ocupava a linha de frente do ato, explicou as razões da manifestação. “Esse protesto é pela luta antimanicomial. Estamos lutando para que os pacientes sejam atendidos em hospitais gerais e também, por hoje, termos um coordenador de saúde mental a nível de Brasil que não é a favor da expansão dos CAPS. A gente foi chamado pela coordenadora de saúde mental do Estado, para que nos engajássemos nesse movimento”, elucidou a coordenadora.

Reforma psiquiátrica e luta antimanicomial são mobilizações que propõem um olhar especial aos cuidados da saúde mental, na perspectiva de abandonar o modelo manicomial, que ainda é centrado no manicômio, considerado invasivo.

“A gente está pedindo a sensibilidade do gestor maior que é o coordenador nacional de saúde mental, Valencius Duarte Filho que é um psiquiatra e que foi dono de uma das casas manicomiais de grande porte, que ele se sensibilize e deixe que a gente permaneça com nossos CAPS abertos, pra dar uma maior assistência a essa clientela que precisa ser tratado como gente”, clamou Gerlane.

O representante do CAPS AD David Capistrano, do bairro do Rangel e poeta Fábio Morais, chegou a mandar carta ao coordenador nacional de saúde mental e ex-diretor e defensor de manicômios Valencius Duarte Filho. “Enquanto usuário AD sempre fui favorável, tendo em vista que a partir dessa reforma os dependentes químicos e as pessoas com transtornos mentais começaram a ser tratadas de uma forma mais humana e digna, enquanto os manicômios, na verdade excluem, desumanizam, coisificam as pessoas que tem esse problema. Então, antes de conhecer o CAPS-AD eu era um alcoolista completamente entregue a bebida. Hoje, graças ao CAPS eu sou sóbrio, completamente estabilizado, reconstrui minha vida, reconquistei muitas coisas que havia perdido e isso graças a reforma psiquiátrica que deu origem aos CAPS. Manicômio não!”, afirmou.

Para Roberto Maia, da frente paraibana da luta antimanicomial, não há mais necessidade de se ter manicômios no Brasil.”A gente tá lutando exatamente pra dar autonomia pra esses usuários, eles tem uma rede de CAPS e a gente quer desconstruir os manicômios. Hoje em dia a gente tem uma dificuldade do ministério da saúde, nossos colegas estão contra o ministro da saúde hoje, porque o ministro contratou uma pessoa que fundou os manicômios no Brasil e foi diretor, pra coordenar a saúde mental do país. Então nós estamos aqui pra reivindicar essa coordenação e pra reivindicar que a gente quer inclusão social e direitos das pessoas que vivem qualquer tipo de conflito de saúde”, explicou.

Roberto explica como é feito o tratamento dentro dos manicômios e revela que o critério para seleção continua muito falho. “O tratamento ainda é extremamente medicamentoso, ou seja, não se leva em consideração a subjetividade desse sujeito, a vida desse sujeito, então ele é medicamentoso no sentido de não ter nenhum tipo de terapia ocupacional, como tem no CAPS, e geralmente eles ficam excluídos dentro desses espaços, e a gente tem por exemplo um CAPS 24h que eles podem ficar até 15 dias dentro do CAPS e depois voltar pra casa, então hoje não tem mais sentido ter manicômio no Brasil”, disse.

“Em todo o Brasil, em quase todas as capitais ainda existem manicômios. O que nós estamos fazendo, e a reforma é pra isso, é pra desinstitucionalizar os manicômios, que é pra ir pra residência terapêutica. Por exemplo, em João Pessoa já tem residência terapêutica, que é diferente de comunidade terapêutica. O que é residência? Residência terapêutica é uma residência que o governo paga pra essas pessoas ficarem quando perdem o vínculo familiar e afetivo. Tirar essas pessoas do manicômio pra ir pra essa residência e ser acompanhado por uma equipe multiprofissional. Então já existem saídas além dos muros do manicômio. Geralmente, as pessoas que são internadas, vem através de surto psicótico ou esquizofrenia. Dependentes químicos que deveriam ir pro CAPS álcool e droga, e as vezes até a questão da orientações sexuais. Por exemplo, tem gente da década de 90 que estão internados em manicômios porque são homossexuais, e aí perderam o vínculo afetivo e começaram a tomar remédio e desenvolver surto psicótico”, ressaltou Roberto.