Oscar 2017: ‘Moonlight’ derrota ‘La La Land’ em confusão digna de Miss Universo

Repetiu-se no Oscar o escândalo do Miss Universo, quando o prêmio do concurso foi entregue à concorrente errada. Warren Beatty e Faye Dunaway, que apresentavam a categoria principal, anunciaram que o melhor filme era La La Land, mas quem ganhou foi Moonlight – Sob a Luz do Luar.

Formou-se o maior tumulto no palco. Indicado em 14 categorias, o musical de Damien Chazelle venceu em seis – melhor fotografia, direção de arte, trilha, canção (City of Litghs), atriz (Emma Stone e direção). Perdeu como filme. A vitória dividida foi a definitiva polarização que marcou toda essa 89.ª edição do prêmio da Academia.

 

Desde o anúncio dos indicados, em meados de janeiro, o Oscar 2017 seguiu uma trajetória peculiar. No início, a polarização era entre La La Land e Manchester à Beira-Mar, de Kenneth Lonergan. Após a posse do presidente Donald Trump e sob o efeito da campanha ‘Oscar so White’, que desde o ano passado vinha protestando contra a supremacia branca e a ausência de afro-americanos, houve nova polarização – entre La La Land e Moonlight – Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins. Havia a expectativa de que o Oscar marcasse uma tomada de posição de Hollywood contra o presidente Donald Trump. Ela veio, mas por etapas.

Primeiro, e logo na abertura, foi o mestre de cerimônias pedindo um aplauso para a ‘superestimada’ Merryl Streep – como a chamou o presidente – e o Dolby Theatre inteiro se levantou. Meryl não precisou levar mais um Oscar de atriz para que o desagravo fosse feito, perante milhões de telespectadores de 200 países conectados na cerimônia. Depois, e foi a cereja do bolo, o Oscar de filme estrangeiro – que parecia fava contada para a alemã Maren Ade, por Toni Erdmann – foi para o iraniano Asghar Farhadi, de O Apartamento. O filme certo para o momento. Farhadi, que já foi premiado por A Separação, não compareceu à cerimônia, mas enviou uma declaração, solidarizando-se com os habitantes de sete países de maioria muçulmana, incluindo o Irã, vetados de entrar nos EUA por um decreto de Trump que a Suprema Corte considerou inconstitucional.

A sequência virou festa. Todo mundo ironizou o hábito de Mr. Trump de twittar. Os prêmios foram se diversificando. Melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali) e roteiro adaptado para Moonlight, melhor ator (Casey Affleck) e roteiro original para Manchester à Beira-Mar. Negro e islâmico, Ali foi muito mais explosivo em seus agradecimentos anteriores (no Globo de Ouro e no Actors Guild). Viola Davis, melhor coadjuvante por Um Limite entre Nós, tem falado muito mais contra a pobreza e a discriminação em entrevistas. Defendeu o sonho, mas silenciou sobre Trump. No limite, houve o esperado protesto, mas a cerimônia foi morna. Mas começou bem, e inesperada.

Justin Timberlake, à frente de um corpo de baile, avançou pelos corredores do Dolby Theatre e ganhou o palco. Contagiou todo o público. Canto e dança. Uma ode à glória dos musicais – e a La La Land. Ladies and gentleman, o seu mestre de cerimônias. Palmas para Jimmy Kimmel, o humorista e apresentador que já foi beijado na boca – ao vivo – por Charlie Sheen e Johnny Depp. Kimmel é meio paradão, mas disse coisas engraçadas. “A cerimônia está sendo transmitida ao vivo para mais de 200 países, que podem nos odiar à vontade.” Provocou uma gargalhada de Isabelle Huppert, ao dizer que estava indicada por Elle, um filme que ele, como a maioria do público norte-americano, não viu, mas deve ser muito bom. Cutucou Trump ao longo das 3h30 de cerimônia.

Ezra Edelman e Carolina Waterlow, que dividiram o Oscar de melhor documentário por OJ, Made in America, disseram que o julgamento de O. J. Simpson representou uma espécie de perda de inocência na forma como homens negros são tratados pela polícia e, em última análise, pela Justiça criminal dos EUA. “Acho que definitivamente canalizei quem eu sou, minha visão de mundo, meu relacionamento com O.J.”, disse Edelman. O cineasta comentou ainda que temia a perda da perspectiva histórica. “Estávamos perdendo o contexto que nos ajudasse a entender como chegamos a esse momento e onde hoje estamos depois desse julgamento.” Perfeito para recolocar esse Oscar na suas perspectiva histórica e social. As informações são do Estadão.

Confira a lista completa dos ganhadores do prêmio (em negrito):

Melhor Filme

A Chegada

Até o Último Homem

Estrelas Além do Tempo

Lion: Uma Jornada para Casa

Moonlight: Sob a Luz do Luar

Um Limite Entre Nós

A Qualquer Custo

La La Land: Cantando Estações

Manchester à Beira-Mar

Melhor Diretor

Denis Villeneuve – A Chegada

Mel Gibson – Até o Último Homem

Damien Chazelle – La La Land: Cantando Estações

Kenneth Lonergan – Manchester à Beira-Mar

Barry Jenkins – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor Atriz

Isabelle Huppert – Elle

Ruth Negga – Loving

Natalie Portman – Jackie

Emma Stone – La La Land: Cantando Estações

Meryl Streep – Florence: Quem é Essa Mulher?

Melhor Ator

Casey Affleck – Manchester à Beira-Mar

Andrew Garfield – Até o Último Homem

Ryan Gosling – La La Land: Cantando Estações

Viggo Mortensen – Capitão Fantástico

Denzel Washington – Um Limite Entre Nós

Melhor Ator Coadjuvante

Mahershala Ali – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Jeff Bridges – A Qualquer Custo

Lucas Hedges – Manchester à Beira-Mar

Dev Patel – Lion: Uma Jornada para Casa

Michael Shannon – Animais Noturnos

Melhor Atriz Coadjuvante

Viola Davis – Um Limite Entre Nós

Naomie Haris – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Nicole Kidman – Lion: Uma Jornada para Casa

Octavia Spencer – Estrelas Além do Tempo

Michelle Williams – Manchester à Beira-Mar

 

Melhor Roteiro Original

Taylor Sheridan – A Qualquer Custo

Damien Chazelle – La La Land: Cantando Estações

Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou – The Lobster

Kenneth Lonergan – Manchester à Beira-Mar

Mike Mills – 20th Century Women

 

Melhor Roteiro Adaptado

Eric Heisserer – A Chegada

August Wilson – Um Limite Entre Nós

Allison Schroeder e Theodore Melfi – Estrelas Além do Tempo

Luke Davis – Lion: Uma Jornada para Casa

Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor Animação

Kubo e as Cordas Mágicas

Moana: Um Mar de Aventuras

Minha Vida de Abobrinha

A Tartaruga Vermelha

Zootopia: Essa Cidade é o Bicho

 

Melhor Documentário em Curta-Metragem

Extremis

4.1 Miles

Joe’s Violin

Watani: My Homeland

Os Capacetes Brancos

Melhor Documentário em Longa-Metragem

Fogo no Mar

Eu Não Sou Seu Negro

Life, Animated

O.J.: Made in America

13ª Emenda

 

Melhor Longa Estrangeiro

Terra de Minas (Dinamarca)

A Man Called Ove (Suécia)

O Apartamento (Irã)

Tanna (Austrália)

Toni Erdmann (Alemanha)

Melhor Curta-Metragem

Ennemis Intérieurs

La Femme et le TGV

Silent Nights

Sing

Timecode

Melhor Curta em Animação

Blind Vaysha

Borrewed Time

Pear Cider and Cigarettes

Pearl

Piper

Melhor Canção Original

“Audition (The fools who dream)” – La La Land: Cantando Estações

“Can’t stop the feeling” – Trolls

“City of stars” – La La Land: Cantando Estações

“The empty chair” – Jim: The James Foley Story

“How far I go” – Moana: um mar de aventuras

Melhor Figurino

Joanna Johnston – Aliados

Colleen Atwood – Animais Fantásticos e Onde Habitam

Consolata Boyle – Florence: Quem é Essa Mulher?

Madeline Fontaine – Jackie

Mary Zophres – La La Land: Cantando Estações

Melhor Maquiagem e Cabelo

Eva Von Bahr e Love Larson – A Man Called Ove

Joel Harlow e Richard Alonzo – Star Trek: Sem Fronteiras

Alessandro Bertolazzi, Giorgio Gregorini e Christopher Nelson – Esquadrão Suicida

Melhor Mixagem de Som

Bernard Gariépy Strobl e Claude La Haye – A Chegada

Kevin O’Connell, Andy Wright, Robert Mckenzie e Peter Grace – Até o Último Homem

Andy Nelson, Ai-Ling Lee e Steve A. Morrow – La La Land: Cantando Estações

David Parker, Christopher Scarabosio e Stuart Wilson – Rogue One: Uma História Star Wars

Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Mac Ruth – 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

Melhor Edição de Som

Sylvain Bellemare – A Chegada

Wylie Stateman e Renée Tondelli – Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

Robert Mackenzie e Andy Wright – Até o Último Homem

Ai-Ling Lee e Mildred Iatrou Morgan – La La Land: Cantando Estações

Alan Robert Murray e Bub Asman – Sully: O Herói do Rio Hudson

Melhores Efeitos Visuais

Craig Hammack, Jason Snell, Jason Billington e Burt Dalton – Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

Stephane Ceretti, Richard Bluff, Vincent Cirelli e Paul Corbould – Doutor Estranho

Robert Legato, Adam Valdez, Andrew R. Jones e Dan Lemmon – Mogli: O Menino Lobo

Steve Emerson, Oliver Jones, Brian McLean e Brad Schiff – Kubo e as Cordas Mágicas

John Knoll, Mohen Leo, Hal Hickel e Neil Corbould – Rogue One: Uma História Star Wars

Melhor Design de Produção

Patrice Vermette (design de produção) e Paul Hotte (decoração de set) – A Chegada

Stuart Craig (design de produção) e Anna Pinnock (decoração de set) – Animais Fantásticos e Onde Habitam

Jess Gonchor (design de produção) e Nancy Haigh (decoração de set) – Ave, César!

David Wasco (design de produção) e Sandy Reynolds-Wasco (decoração de set) – La La Land: Cantando Estações

Guy Hendrix Dyas (design de produção) e Gene Serdena (decoração de set) – Passageiros

Melhor Montagem

Joe Walker – A Chegada

John Gilbert – Até o Último Homem

Jake Roberts – A Qualquer Custo

Tom Cross – La La Land: Cantando Estações

Nat Sanders e Joi McMillon – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor Trilha Sonora

Mica Levi – Jackie

Justin Hurwitz – La La Land: Cantando Estações

Dustin O’Halloran e Hauschka – Lion: Uma Jornada para Casa

Nicholas Britell – Moonlight: Sob a Luz do Luar

Thomas Newman – Passageiros