Os 15 melhores filmes do ano: Colunista faz balanço do cinema em 2015

O ano de 2015 foi excepcional para o cinema. Filmes icónicos, divertidos, comoventes, superproduções apoteóticas, retorno de grandes franquias e sagas, novos fenômenos e diversos representantes de outros nichos cinematográficos. Pude assistir a vários desses filmes, mas também deixei de ver outros tantos. Faço essa lista trazendo os 15 melhores filmes de 2015 com base nas obras que assisti até o dia 30 de dezembro de referido ano, às 14hs, quando redigo esse texto especial.

Entre os integrantes dessa seleta lista, num ano particularmente frutífero para a Sétima Arte, com muitos roteiros criativos e envolventes, estão 13 longas-metragens de ficção e dois documentários, um total de 10 filmes estrangeiros e 5 brasileiros, incluindo o que encabeça a seleção. Uma das características interessantes de se destacar sobre 2015 é a quantidade filmes expressivos protagonizados por mulheres ou em que elas tem função-chave na narrativa. Das 10 ficções selecionas, 7 tem mulheres como personagens centrais e dois desses foram também dirigidos por mulheres, além de 1 outro.

Os filmes dessa lista foram vistos, a maior parte, numa sala de cinema – alguns mais de uma vez. Outra parte em festivais e uma minoria em casa, na TV. Um bom sinal de que a programação dos cinemas comerciais de João Pessoa tem se diversificado mais – embora esteja muito distante de ser minimamente razoável. Em 2016, que a luz da projeção do cinema possa irradiar cada vez mais e sublimar corações e mentes. Feliz Ano Novo! E, sem mais delongas, vamos aos 15 melhores de 2015!

 

1. A História da Eternidade (Brasil, 2015. Direção: Camilo Cavalcanti)

Um mergulho humano e emocional na história de três mulheres que vivem num ambiente repressor, um Sertão isolado, anacrônico e sensorial. Querência (Marcélia Cartaxo), Das Dores (Zezita Matos) e Afonsina (Débora Ingrid), cada uma busca, à seu modo, um escape, um modo de dar vazão aos seus sentimentos. O desejo une e liberta elas. Em seu longa de estreia, o pernambucano Camilo Cavalcanti trouxe às telas uma das experiências cinematográficas mais belas, intensas e profundamente sensoriais do cinema. É um filme universal, sobre a força libertadora do amor e do desejo.

2. Mad Max – A Estrada da Fúria (EUA, 2015. Direção: George Miller)

Esse blockbuster que foi anunciado como uma releitura dos filmes-ícones dos anos 1980, marcantes pela presença da cantora Tina Turner e do então jovem astro Mel Gibson. Mas ao contrário dos originais, o filme tem mais que uma pegada apocalíptica e apoteótica, é um blockbuster inteligente, bem realizado, com uma Charlize Theron arrasadora como a Furiosa, a verdadeira protagonista do filme. O Max do Tom Hardy, embora involuntariamente feito coadjuvante, está bem e as sequências são eletrizantes e tecnicamente irretocáveis. O viés político é um dos pontos fortes desse remake – se é que pode ser chamado assim. Em todo caso, uma excepcional reconstrução narrativa e temática de uma obra que era no máximo boa. Acho que essa dinâmica deve se firmar com uma tendência entre as refilmagens.

3. A Pele de Vênus (França, 2013. Direção: Roman Polanski)

Teatro e cinema se misturam e se confundem assim como os papéis de dominação que se alternam ao longo dessa obra-prima moderna de Polanski. Com apenas dois atores em cena, o filme envolve e gera dúvida, expectativa e êxtase. Baseado num espetáculo do circuito off-Broadway, que por sua vez se baseou-se no romance de Leopold von Sacher-Masoch, A Vênus das Peles (Venus in Furs), escrito em 1870.  O Conceito de masoquismo surgiu daí. No filme de Polanski, Thomas (Mathieu Amalric), diretor de teatro e Vanda (Emmanuelle Seigner), uma atriz desbocada duelam num jogo psicológico cheio de reviravoltas e metalinguagem. Lançado em 2013, chegou aos cinemas brasileiros apenas em 2015.

4. Que Horas Ela Volta? (Brasil, 2015. Direção: Anna Muylaert)

Um filme que ganhou as plateias do Brasil e do mundo, sucesso de crítica e de público. Não entrou na lista dos pré-selecionados ao Oscar 2016 de filme em língua estrangeira mas conquistou o coração de centenas de milhares de pessoas com uma história tocante e muito bem conduzida, uma crônica emocional sobre as relações afetivas e sociais entre uma mãe e uma filha com visões de mundo muito distintas, que representam duas perspectivas diferentes de Brasil. Uma obra belíssima e fundamental para entender o país em que vivemos.

5. Selma – Uma Luta Pela Igualdade (EUA, 2014. Direção: Ava DuVernay)

Selma foi o grande preterido do Oscar 2015, recebendo apenas duas indicações – melhor filme e melhor canção original, vencendo na segunda categoria com a belíssima Glory. É consenso que o filme merecia bem mais destaque, tanto pela história que conta, das marchas de Martin Luther King pelos direitos civis dos negros nos EUA, quanto pela sua qualidade estética e narrativa. A diretora Ava DuVernay constrói uma atmosfera de drama intimista e abdica, em certa medida, dos arroubos dramáticos e do típico historicismo de filmes do gênero. Apresenta uma história real e emocionante de forma sóbria, mas envolvente assim mesmo. Um belíssimo filme para ser visto e refletido.

6. O Sal da Terra (Brasil/França, 2015. Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado).

Aclamado pela crítica, esse belíssimo documentário, co-produção entre Brasil e França alcançou um conceito notável mundo afora. Sobre a trajetória do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, o filme impressiona pelo cuidado estético, a consistência narrativa e sobretudo a pela carga emotiva das imagens e histórias retratadas. Dirigido pelo prestigiado cineasta alemão Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, filho do personagem-protagonista do filme, O Sal da Terra é uma das produções mais densas, belas e corrosivas do cinema moderno. Por todos esses fatores, conquistou uma indicação ao Oscar 2016 na categoria melhor documentário.

7. Star Wars Episódio VII – Um Novo Despertar (EUA, 2015. Direção: J.J. Abrams)

Assistir ao novo Star Wars, o Episódio VII, é ser arrebatado pela força de uma saga que, renovada – mantendo os elementos clássicos que falam diretamente à memória afetiva de milhões de fãs de várias gerações – ainda envolve, instiga e tem uma vitalidade cinematográfica impressionante. O inédito protagonismo de uma mulher, a Rey, esplendidamente personificada pela britânica Daisy Ridley, e o co-protagonismo de um negro, o também britânico John Boyega, foram ingredientes que trouxeram um diferencial e um plus a mais para uma saga que já acumula quase 40 anos de existência, com um vasto númeuro de fãs-entusiastas ao redor do mundo. Em menos de 20 dias da estreia, já ocupa um lugar entre as dez maiores bilheterias da história. Tem tudo para superar Avatar, de James Cameron, e se tornar a maior bilheteria do cinema em todos os tempos.

8. Sicario – Terra de Ninguém (EUA, 2015. Direção: Denis Villeneuve)

O novo filme do cineasta Denis Villeneuve aborda o combate ao narcotráfico com várias nuances dramáticas e desperta reflexões sobre até onde vão os limites e a ética na batalha contra uma força que não conhece nenhum empecilho ético, moral ou humanitário para perpetrar seu poder e sua violência. Emily Blunt encarna a protagonista, uma policial do FBI que se integra a uma ação conjunta entre a polícia dos EUA e forças táticas do México no combate ao narcotráfico. O filme destrincha as sutilezas e a linha deveras tênue entre fazer a coisa certa e se deixar levar pelo jogo de interesses. Um filme de atuações fortes, linguagem contundente e com uma denúncia social e política incisiva. Vigoroso, bem construído, dinâmico, emocional e impactante. Mais uma mostra do talento de Villeneuve e de seu futuro promissor.

9. Mapa Para as Estrelas (EUA, 2014. Direção: David Cronenberg)

A Hollywood hiperbólica e incendiária de Cronenberg mostra as personagens em combustão, perdidos à deriva da própria vulnerabilidade. Com uma performance magistral da Julianne Moore, que transita entre o histrionismo estilizado e várias modulações dramáticas (e que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes), um roteiro sagaz, atuações seguras do restante do elenco e uma abordagem forte e corrosiva, o filme é uma das obras de cinema autoral mais expressivas do ano.

10. Birdman. Ou A inesperada Virtude da Ignorância (EUA, 2014. Direção: Alejandro Gonzalez Iñarritu)

Um mergulho nos bastidores do mundo da fama e nos dilemas intrínsecos a ele, como Arte X Indústria, mainstream X cult, o sentido de ser e de estar num meio altamente competitivo e conseguir ser relevante, dentre outros. Com uma linguagem ousada, roteiro inteligente e criativo – com sacadas geniais, o filme do mexicano Iñarritu foi um dos notáveis achados da cinematografia moderna. Teve seus méritos reconhecidos e foi o grande vencedor do Oscar 2015, levando 4 prêmios, incluindo direção e Melhor Filme.

11. Vício Inerente (EUA, 2014. Direção: Paul Thomas Anderson)

Repetindo a bem-sucedida parceria com Joaquin Phoenix, que protagonizou O Mestre (2012), Paul Thomas Anderson reconstrói a atmosfera de psicodelia e erotismo gráfico dos anos 1970 para contar uma história com vários vértices e cujo eixo central se alicerça na figura da personagem de Phoenix, Larry “Doc” Sportello, um detetive particular imerso numa série de tramas entrelaçadas que tem como elo Shasta Fay Hepworth (Katherine Waterston), sua namorada intermitente. PTA reafirma sua marca realizando filmes de autor e com poucas concessões. Vício Inerente é mais uma obra de destaque do cinema hollywoodiano outsider, apesar de também carregar um hibridismo mainstream – mas pelo realizador e pelo elenco que pela proposta em si. Uma obra com identidade e proposta cinematográficas bem delimitadas e com razoável valor estético.

12. Chico – Artista Brasileiro (Brasil, 2015. Direção: Miguel Faria Jr.)

O documentário-musical de Miguel Faria Jr. sobre um dos ícones da música e da cultura brasileiras traz uma narrativa confessional e ao mesmo tempo leve e vibrante. A personagem, que é um verdadeiro mito vivo, é humanizada, ora descontruindo a aura célebre que o envolve, ora enfatizando os elementos que compõe a persona artística de Chico Buarque e fazem dele um artista excepcional – e brasileiríssimo. Um filme emocional, seguro e bem realizado.

13. O Homem Irracional (EUA, 2015. Direção: Woody Allen)

Um legítimo representante do melhor do cinema de Woody Allen. Um filme consistente, envolvente e auto-referenciado na filmografia do próprio diretor e suas reflexões existenciais. Tudo bem ao estilo irônico e meio estoicista, com boas sacadas de humor negro. Joaquin Phoenix está excelente como de costume, num personagem que parece cair como uma luva para ele. Depois do fraco Magia ao Luar, o diretor escalou Emma Stone novamente e dessa vez acertou em cheio no tom da protagonista. É divertido, convincente, bem bolado e competentemente dirigido, com a mão de Mr. Allen muito marcada.

14. Numa Escola de Havana (Cuba, 2014. Direção: Ernesto Daranas)

Cinema com C, maiúsculo, de Cuba. Filme de uma sensibilidade singular, centrado na história de uma professora com mais de meio século de magistério, dedicada e comprometida com sua função, e de Chala (Armando Valdes Freire), um legítimo garoto-problema. Filho de mãe drogada e alcoólatra, à deriva de sua vulnerabilidade, ele ajuda a organizar brigas entre cães para trazer dinheiro para casa enquanto estuda numa escola regular e arruma encrencas. O filme mostra as relações humanas, socioculturais e, em certa medida, políticas, numa Cuba contemporânea e extremamente paradoxal. Com muita delicadeza um olhar apurado para os dilemas humanos, a produção é tecnicamente bem cuidada e artisticamente muito expressiva.

15. Chatô – O Rei do Brasil (Brasil, 2015. Direção: Guilherme Fontes)

Fechando a lista, o filme brasileiro mais aguardado de todos os tempos. Foram 20 anos de mistério, polêmicas e muita especulação a respeito da cinebiografia de Assis Chateubriand, adaptação homônima do livro do escritor Fernando Morais. Tendo finalmente estreado, o filme surpreendeu pela qualidade estético-narrativa e pela ousadia. A forma como Guilherme fontes construiu a narrativa do filme, junto às excelentes sacadas do roteiro e performances grandiosas do elenco – destaque para Marco Ricca no papel-título e para Andréa Beltrão, co-protagonista, ambos brilhantes em cena – produziram uma cinebiografia diferente de tudo que já foi feito no cinema brasileiro. Um filme envolvente, dinâmico, com linguagem arrojada e cuja história permanece atual e dialoga de forma muito latente com a conjuntural cultural e política do Brasil de hoje.