Opinião: Paralisações de serviços essenciais e o risco de JP se tornar sucupira

“Não podemos deixar que João Pessoa se torne Sucupira!”, do vereador Raoni Mendes, fazendo analogia entre as gestões do prefeito Luciano Cartaxo na capital paraibana e a eterna Sucupira, cidade fictícia da peça ‘O bem amado’, de Dias Gomes, comandada pelo icônico prefeito Odorico Paraguaçu.

 

A sessão ordinária na Câmara de João Pessoa (CMJP), desta quarta-feira (30) só teve espaço para quem tinha muita força no ‘gogó’, como minha mãe já dizia. Foi grito para todos os cantos e recantos da Casa de Napoleão Laureano, o que rendeu pautas para a ‘Folha de Sucupira’.

Das galerias, servidores da Educação e Saúde de João Pessoa vaiavam, gritavam, para suplicar ajuda dos vereadores, eleitos para representá-los.

Do plenário, pouca disposição para debater os assuntos de interesse das categorias ou transparência.

Explico: os médicos da rede pública de Saúde foram novamente à CMJP cobrar que o projeto de autoria do Executivo municipal, que tratava da incorporação de uma gratificação às aposentadorias, entrasse na ordem do dia. E conseguiram. Só não conseguiram a vitória, que seria a aprovação das emendas apresentadas por alguns parlamentares, que atendiam parte das reivindicações da categoria. Em meio à frustração da derrota, a classe médica bradava que a votação fosse nominal. Algo que tanto o presidente da Casa, Durval Ferreira (PP), como alguns parlamentares da situação fizeram questão de barrar.

Quando viram que não tinha mais jeito apelar para os vereadores, o médicos entoaram o plano B pelas galerias da CMJP: “Greve, greve, greve”. #ficaadica

Neste vídeo, deu para se perceber que houve exaltação, mas também a urgência de alguns vereadores em mostrar ‘trabalho’, principalmente aqueles que não víamos há quase três anos. O ano eleitoral produz alguns milagres.

Já os servidores da Educação não fizeram cerimônia em demonstrar o descontentamento com os últimos diálogos e notícias da gestão do prefeito Luciano Cartaxo. Servidores decidiram realizar greve a partir da próxima segunda-feira (04). Até porque, o reajuste será de 0% para a categoria e para eles, a Prefeitura de João Pessoa tem dinheiro para dar um reajuste mínimo, desde que seja acima de 0%.

Mas não é só de aumento de salários que os professores se revoltam. São com coisas mínimas como papel higiênico, folha de papel ofício, lápis que faltam nas escolas municipais, ou, até mesmo, pasmem, a falta de funcionalidade dos equipamentos de climatização. E olha que esta é a gestão que mais se climatizou escolas e creches… e entra no rol de “obras inauguradas”.

Em tempo: ainda há os agentes de endemias, vinculados à Secretaria de Saúde de João Pessoa. Ora, desde dezembro que eles pedem a liberação de uma gratificação, que já está nas contas da PMJP, mas até agora nada… Recurso do governo federal, para fomentar o combate ao mosquito da dengue. Eles também ameaçam  parar.

Enquanto tudo isso efervescia, a Comunicação da PMJP divulgava que “servidores participavam de uma celebração de Páscoa”, junto com o prefeito Luciano Cartaxo, no Centro Administrativo Municipal (CAM), em Água Fria. É preciso sempre manter a propagação da eficiência da gestão. Mas não acredito que esta tenha sido a melhor das estratégias.

Me parece que o pedido da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lagoa, além da conjuntura política colapsada nacional, ressurgiu em diversos setores do funcionalismo público municipal a fome de mudança, de reivindicação de direitos e de cobrança de deveres.

Para além de uma João Pessoa prestes a ficar paralisada em serviços essenciais, é preciso tirar o lado positivo: é hora do prefeito rever seu planejamento. Antes que tudo se torne Sucupira.