Opinião: Dilma, Operação Lava Jato e os ‘Cavaleiros da Távola Sebosa’

A revista “Carta Capital” que está nas bancas divulga “documentos que revelam bastidores ilegais da Operação Lava Jato”. Documentos que estão para o mérito das investigações assim como estão os grampos vazados com Lula chamando palavrões. Pura pirotecnia politiqueira. A história há de fazer justiça à Operação Lava Jato, ao que ela representa, aos seus arquitetos, engenheiros, administradores e executores. Se hoje, ao calor da crise, sob o impacto do fogo das paixões partidárias em conflito, crescem as contestações às nuances heterodoxas dos seus métodos investigativos, amanhã o respirar dos pulmões democráticos da nossa sociedade será mais leve.

O viver institucional será de mais respeito. Com mais dignidade. Essa é uma esperança justa. E até factível. Assim, é bom lembrar, sempre que possível, do que já se conquistou a partir de sua deflagração.

O início do desmonte pela Lava Jato de uma das mais complexas e robustas redes de corrupção de que se tem notícia no Brasil é conquista inegável não só do país, mas do Continente.

Essa rede armada para desfrute de uma cleptocracia interpartidária, com seus fios, franjas e punhos que se espicham qual câncer em metástase no aparelho de Estado, favoreceu os vampirocratas no ataque histórico que fizeram à Petrobras. Hoje, balança forte ao peso da própria podridão, mas principalmente devido ao canhonaço da Lava Jato. E vai cair. Sua tecelagem foi iniciada com os fios do mensalão. O empunhamento e as franjas aconteceram por obra e graça do petrolão. Repito: apodreceu. Está aos pedaços.

Além do bombardeio das forças anticorrupção, importantíssimo também a partir da Lava Jato é o difícil, mas em andamento, processo de repatriação dos recursos desviados, propinados e remetidos a contas secretas em paraísos fiscais.

No ano passado, o Brasil recuperou US$ 124,9 milhões rapinados pelos Cavaleiros da Távola Sebosa. Trocando em real, dá uns R$ 446 milhões.

Essa informação foi liberada no final de semana pelo Ministério da Justiça e mancheteada na imprensa nacional. Muita gente viu. Um trabalho a cargo do Departamento de Recuperação de Ativos de Cooperação Jurídica do Ministério. Um marco construído a partir da Lava Jato. Sobre isso, o diário Folha de S. Paulo divulgou que entre os anos de 2005 e 2014 o mesmo departamento só havia recuperado US$ 14,9 milhões. Insisto. A história há de fazer justiça à operação Lava Jato.

UMA QUESTÃO DE RESPEITO

Ao iniciar essa conversa, me referi a um ato de justiça. Pois são desse tipo as referências elogiosas do governador Ricardo Coutinho, da Paraíba, à presidente Dilma Rousseff.

Ricardo Coutinho, após reunião com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, na semana passada.

Com o tratamento digno que dispensa à presidente, Ricardo faz justiça a uma parceria produtiva, que deu certo política e administrativamente, estabelecida entre o Palácio da Redenção e o Palácio do Planalto.

E a dignidade é, e sempre será, um reforço ao mundo espiritual da ética. Eu digo espiritualidade naquele sentido histórico da ideia de se estar consciente em liberdade para decidir pelo bem.

Pensemos agora na voracidade com que a Operação Lava Jato avançou contra os Cavaleiros da Távola Sebosa do Partido dos Trabalhadores nesse escândalo do petrolão. E a partir desse quadro, avaliemos o comportamento da presidente Dilma diante de todo o processo. Dá para vislumbrar claramente a atitude digna da presidente contra o voo livre da impunidade inscrito na história da politicalha brasileira, e na perspectiva de um elitismo que transformava em intocáveis os que se consideravam acima da lei, a galera do “você sabe com quem está falando?”.

Dilma Rousseff em momento algum se rendeu às pressões para bloquear o avanço da Operação Lava Jato. Poderosos foram pra cadeia. E isso é fato. Em qualquer ângulo de visão nesse cenário de crise política e econômica que resultou na abertura do processo de impeachment contra ela, a presidente não cedeu e não atrapalhou as investigações. Se está valendo a delação de Delcídio Amaral de que ela participou da fraude de Pasadena, então ela teria interesse em barrar a Lava Jato. Não o fez. Se vale a afirmação de que ela só se manteve firme porque queria figurar na história como a líder que mais botou corrupto na cadeia, o que seria manobra personalista de marquetagem, ainda assim o Brasil fica no lucro. E se, como dizem, Dilma não passa de um poste amestrado de Lula, então ela se rebelou e não atendeu ao comando remoto do titereiro. Dilma corre duplo risco de ser impedida. No Senado e no TSE. Se tais processos forem sua nêmesis, seus opróbrio e ocaso, mesmo assim a história lhe fará justiça.