Opinião: A capital inexistente no circuito do cinema de rua privilegia atmosfera plastificada

João Pessoa é uma das poucas capitais brasileiras que não dispõe de um único cinema de rua – isto é, sem estar instalado num complexo de um Shopping Center – ou sala de exibição alternativas, com programação definida por uma lógica diferente do circuito comercial e mainstream.

Temos sim, exibições de filmes de arte e de perfil diferenciado em espaços alternativos, mas elas praticamente se restringem aos cineclubes e a sessões muito esporádicas. Além disso, não são profissionais, não dispõem da estrutura física e dos equipamentos necessários para uma projeção audiovisual nos moldes do circuito de exibição comercial.

As projeções de cinema nos festivais e mostras conseguem isso, mas são eventuais e não suprem nem um décimo da demanda de público. Quem busca ao longo do ano, em João Pessoa, uma sala de cinema que exiba títulos fora dos padrões seletivos comerciais sem perda na qualidade da projeção tende a se decepcionar.

É estarrecedor que uma cidade com uma cultura audiovisual tão pujante e expressiva se veja à mercê da falta de incentivos públicos e privados que viabilizem tanto uma programação alternativa de cinema, quanto um local de perfil distinto dos multiplex e sua atmosfera plastificada.

Nem sempre foi assim, é verdade. Excetuando a fase anterior ao advento do videocassete e da TV (anos 1970 para trás), quando as salas de cinema eram muitas em todo o Brasil, tínhamos lugares como o Cine Bangüê, funcionando no Espaço Cultural José Lins do Rêgo e que exibia comercialmente filmes de arte e era ponto de encontro de cinéfilos, artistas, intelectuais e do público em geral. Nos anos 1980 exibiu obras como O Beijo da Mulher Aranha, Uma Janela Para o Amor, Maurice, dentre outros.

Há hoje uma anunciada reabertura do Cine Banguê, como parte da reforma do Espaço Cultural, vinculado ao Governo do Estado. Foi antecipadamente anunciada – extraoficialmente – a realização do Fest Aruanda, maior festival de cinema de João Pessoa e da Paraíba, nesse espaço. Entretanto, até a presente data em que escrevo esse texto não há previsão de conclusão das obras, inauguração do Sala, tampouco sobre a programação e sua forma de funcionamento.

No âmbito do Governo municipal inexiste uma sala de projeção de cinema e não há qualquer perspectiva de que venha sequer a ser construída.  Da iniciativa privada também não há projetos para recuperação de cinemas históricos ou apoio a construção e manutenção de salas alternativas.

Enquanto isso quem mora em João Pessoa e aprecia o cinema numa perspectiva mais cult, com programação diferenciada, quem produz filmes que são premiados e exibidos em todo o Brasil e fora do país, inclusive, e que não encontra espaço de exibição, em síntese, quem busca por uma outra lógica de exibição cinematográfica se vê perdido, órfão, sem nenhum lugar para ir. Por um espaço alternativo de cinema na Cidade da Parahyba, para além do shopping e que seja um ponto de encontro dos amantes da Sétima Arte!