O ego é uma arma quando o assunto é música

Uma vez, conversando com Rodrigo Barba, baterista da lendária banda “mais hipster da cidade” Los Hermanos, questionei em tom hilário o fato de Ana Júlia, música que alavancou a banda carioca no cenário nacional e internacional, ter sido escolhia o hit o carnaval soteropolitano do ano de 2000. Ele engoliu a gozação devolvendo um comentário orgulhoso de que aquela exposição demasiada fez com que um beatle gravasse a canção. Pouco antes de morrer, George Harison gravou guitarras para a versão inglesa de Jim Capaldi.

Graças à perspicácia dos quatro hermanos, a banda soube sobreviver a este sucesso, mas não ao ego dos seus componentes. A banda ficou pequena para a produção criativa de Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo e sucumbiu, transformando uma bela fórmula “beba do samba e bote uma guitarrinha marota” em carreiras solos insipídas sem o oxigênio melódico dos hermanos unidos.

Problemas de ego não são um mal que acomete somentes músicos de ego fragilizado. Atinge toda a sociedade humana, no âmbito político, esportivo, religioso etc. Pra onde você olhar verá um conflito de egos na sociedade humana. Mas, na música, esse problema pode se transformar em algo positivo. Disputas, quando centralizadas no âmbito criativo, tendem a impulsionar o som feito por uma banda. O The Police foi assim. Rolling Stones e Beatles, idem. Secos e Molhados, Mutantes, Engenheiros do Hawaii e Raimundos duraram ‘pouco tempo’ porque conflitos internos – ao mesmo tempo que impulsionava o lado criativo – naufragava o conjunto fora dos locais de trabalho.

Mais espertos que os outros, os Los Hermanos não encerraram atividades ou deixou a banda em frangalhos com mutilação de componentes e apenas o ‘nome da banda’ carregando o glamour de empoeiradas canções. Vivemos em tempos musicais em que as novidades não mais vem dar à praia, porque as últimas sereias vivas já são avós. E velhas bandas mantém as atividades em prol do benefício financeiro que massageia o ego e se mostra vivo mais do que nunca o perigo do sucesso. No final das contas, cada um tem que se prover.

O ego é uma arma quando o assunto é música. A mesma arte que defende e enobrece é a mesma que te mata. Grandes bandas como Guns and Roses e RPM naufragaram no vício de estar na crista onda. O tal do poder é fascinante para o não engrandecimento das pessoas. E nos resta torcer pra o mundo da música ganhar mais conflitos egocentristas de pessoas que produzem boa música. Porque estamos carentes de uma boa briga criativa…