O segredo de Wesley Safadão não estava no cabelo – ele cortou, e continua um fenômeno. O carisma? Ajuda. Mas o verdadeiro alicerce da carreira do forrozeiro é bem menos citado: o time de compositores por trás de seus hits, que agora ele planeja exportar para fora do Brasil.

Do camarote ao ar-condicionado no 15, nada disso foi escrito por Safadão. “Para ser bem sincero, nunca parei para compor”, diz ao G1.

A falta de inspiração é compensada pelo talento para os negócios. Desde os tempos da Garota Safada, sua primeira banda, o cantor cearense administra a WS Edições Musicais. Com ela, consegue manter uma rede estruturada de fornecedores de músicas. Funciona assim:

  • Compositores negociam diretamente com a empresa do cantor o valor dos direitos da obra
  • A WS passa a administrar as transações comerciais relacionadas à música, e Safadão ganha o direito de executá-la durante determinado período de tempo
  • Se uma empresa tem interesse em usar a canção em uma propaganda, por exemplo, a WS comunica os compositores e negocia o preço
  • Sobre o valor, a WS tem direito a uma porcentagem, “tipo, 20%”, estipula o cantor. “E 80% vai para os compositores”

“O que seria de Wesley se não fosse…”. Safadão não termina a frase, mas deixa claro que sabe bem a importância dos que escrevem seu sucesso. “Hoje a gente tem muitos amigos compositores, e temos que ser gratos”, fala, quase sempre no plural.

Não que ele também não participe do processo. O músico tem o hábito de fazer encomendas aos parceiros. “Em ‘Meu coração deu PT’, por exemplo, cheguei para dois compositores [Renato Moreno e Paula Mattos] e disse: ‘Quero uma música que fale disso’. No outro dia, chegaram na minha casa com ela.”

Go, Safadão

O passado de Safadão não tem mesmo nada de camarote ou vodca Ciroc. Sem qualquer garantia, sua família gastou o que tinha para criar a Garota Safada. A mãe, Maria Valmira, chegou a vender um terreno para investir em CDs do grupo. “Na cabeça dela, aquela era a melhor banda”, conta.

A tática de distribuir discos nas cidades por onde passa, chave da popularização do cantor no Nordeste, é uma das poucas coisas que restaram daquela época, embora hoje seja usada com mais parcimônia. “Em algumas regiões, principalmente no interior, o CD ainda funciona”, ele explica.

A mudança mais marcante foi no visual. O cantor abandonou as roupas de forrozeiro para adotar um estilo mais parecido com o de astros do sertanejo, que expõe aos seus mais de 14 milhões de seguidores no Instagram.

No início deste ano, chocou o país ao aparecer de cabelo cortado – os fios longos e, depois, o coque samurai foram por muito tempo suas marcas registradas. Ele explica a decisão:

“Tinha algumas coisas que eu queria usar e o cabelo não casava bem. Quando cortei, me senti mais jovem.”

Agora, seu próximo passo será se juntar a nomes como Anitta e Pabllo Vittar na tentativa de alavancar uma carreira fora do Brasil. Em 2018, ele quer reformular seus maiores sucessos para torná-los mais palatáveis ao mercado internacional. Isso inclui, é claro, gravar em outros idiomas.

“Estados Unidos é bem fechado, bem difícil. Eu enxergo um mercado mais fácil na Europa. A gente pensa em consolidar mais aqui depois sair de uma forma mais consistente.”

Para seu novo DVD, o cantor descartou Angra dos Reis, no Rio, e Jericoacara, no Ceará, para viajar a Miami, nos EUA. Achou “até mais fácil” do que gravar no Brasil. “WS in Miami Beach”, lançado no mês passado, é uma “semente plantada” nesse processo, segundo ele. No futuro, quem sabe, alguém grite da plateia: “Go, Safadão”. Informações do G1.