Lembra de Seu Pedro? Ele quer voltar a jogar, mas reclama de veto da CBF

Seu Pedro da Sorda. Lembra dele? Pois ele está de volta. Aos 68 anos. Com um físico que em nada lembra a de um atleta. Com bastante folclore em torno de seu nome. E muitos causos para contar. Ele está de volta querendo jogar de novo, três anos depois da última partida oficial que realizou pelo seu igualmente folclórico Perilima, o clube de Campina Grande, na Paraíba, que originalmente é formado por funcionários da fábrica de sorda (uma espécie de biscoito de rapadura) de seu dono. Pois Seu Pedro está de volta. Ou quase. Inscrito para jogar a 2ª divisão do Campeonato Paraibano de 2017 – que tem início previsto para agosto –, o empresário, presidente e jogador explica que vem sofrendo com uma espécie de boicote da CBF, que não estaria permitindo o registro de seu nome no Boletim Informativo Diário da entidade (pré-requisito oficial para ter condições de jogo).

– A CBF está argumentando que eu não posso mais jogar por conta da idade. Dizem que estou muito velho – desabafa Seu Pedro em tom de lamento.

Seu Pedro já é o jogador profissional mais velho do mundo a entrar em campo por uma partida oficial. Quer ampliar essa marca. Mas diz que a entidade máxima do futebol brasileiro vem dificultando a sequência de sua carreira, alegando justamente que ele já tem uma idade avançada para atuar profissionalmente.

Seu Pedro da Sorda em 2014, na última vez que jogou profissionalmente: time nasceu na fábrica de biscoitos que ele é dono (Foto: João Brandão Neto / GloboEsporte.com/pb)

Seu Pedro da Sorda em 2014, na última vez que jogou profissionalmente: time nasceu na fábrica de biscoitos que ele é dono (Foto: João Brandão Neto / GloboEsporte.com/pb)

A marca do jogador paraibano é reconhecida até mesmo pela Fifa, que no passado já publicou matéria em seu portal oficial reconhecendo-o como o atleta de futebol mais velho do mundo. E lamenta que a CBF adote esta medida agora:

– Eu queria jogar, mas a CBF não está me ajudando. Meu contrato se vence em setembro e quando fui atrás de resolver esta pendência, eles me disseram isso – contou.

Os 68 anos podem até pesar na hora de protagonizar um lance mais plástico, mas não diminui nem um pouco a vontade de entrar em campo em uma partida oficial. Para seu Pedro, que se profissionalizou aos 51 anos, seria muito bom participar de mais uma edição da divisão de acesso paraibana e espera poder realizar o seu desejo com uma desejada flexibilização da CBF.

Seu Pedro: escalações por imposição (Foto: Silas Batista / GloboEsporte.com/pb)

Seu Pedro: escalações por imposição (Foto: Silas Batista / GloboEsporte.com/pb)

A Associação Desportiva Perilima existe oficialmente desde 1992, mas demorou para se profissionalizar. Ficou famosa mesmo a partir dos anos 2000, quando começou a participar de competições oficiais. E desde então figura entre os mais folclóricos time do Nordeste. A começar pelo nome Perilima, que é a junção das primeiras sílabas do nome de seu fundador, Pedro Ribeiro de Lima.

Em sua história, tem algumas situações inusitadas. A começar pela falta de um futebol mais vistoso. Jogou duas edições de 1ª divisão de Paraibano, sempre tendo Seu Pedro como jogador titular, escalado por imposição mesmo. E sempre que subiu de divisão foi mais por causa do amadorismo do futebol paraibano à época do que propriamente pela sua competência.

Pedro Ribeiro Lima: se depender da CBF, ele não volta mais a campo (Foto: Silas Batista / GloboEsporte.com)

Pedro Ribeiro Lima: se depender da CBF, ele não volta mais a campo (Foto: Silas Batista / GloboEsporte.com)

Em 2004, por exemplo, jogou a 2ª divisão do Paraibano. Num contexto em que apenas dois clubes participaram. Assim, a competição se resumiu a dois jogos entre Nacional de Cabedelo e Perilima. O time de Seu Pedro perdeu as duas partidas por 5 a 0 e, mesmo num placar agregado de 10 a 0 contra si, subiu de divisão como vice-campeão do campeonato.

Jogou a elite do Paraibano em 2005, marcou apenas três pontos, e foi rebaixado. Em 2006, a história se repetir. A Perilima jogou a 2ª divisão apenas contra o Auto Esporte. Foi goleado em casa por 7 a 0 e perdeu fora de casa por 1 a 0. Mas subiu como vice-campeão, com um placar agregado de 8 a 0 contra.

Em 2007, voltou a ser rebaixado. E, depois disso, a 2ª divisão paraibana passou a ser cada vez mais competitiva. Não subiu mais. Jogou as divisões de acesso em 2008 e 2009. Atolou-se em dívidas. Fechou as portas. Voltou em 2014, beneficiada por um perdão de dívidas promovida pela Federação Paraibana de Futebol. Não subiu, e na época Seu Pedro ainda “negociou” uma vaga no time a um aposentado que queria realizar o sonho de ser jogador de futebol. Foi o ano da última vez que ele entrou em campo, aos 65 anos, completando uma década de carreira como jogador profissional.

Gaúcho, Flávio pagou algumas dívidas da Perilima em 2014 para poder jogar futebol profissionalmente (Foto: Reprodução / TV Paraíba)Gaúcho, Flávio pagou algumas dívidas da Perilima em 2014 para poder jogar futebol profissionalmente (Foto: Reprodução / TV Paraíba)

Gaúcho, Flávio pagou algumas dívidas da Perilima em 2014 para poder jogar futebol profissionalmente (Foto: Reprodução / TV Paraíba)

Artilheiro de um gol só

Seu Pedro é famoso. Gosta de brincar sobre suas próprias habilidades. E diz que vai a busca da marca de Romário, que ao longo da carreira chegou ao milésimo gol. Mas… ainda falta muito para o velhinho. O primeiro gol como jogador profissional só saiu aos 58 anos, em partida válida pela segunda rodada do returno do Campeonato Paraibano de 2007. Foi um pênalti. Contra o Campinense. O goleiro da época? Jaílson, o atual campeão brasileiro pelo Palmeiras. Seu Pedro chutou no canto direito e Jaílson caiu de forma estranha no meio do gol. Ninguém confirma. Ninguém sabe ao certo. Mas há quem diga que o arqueiro raposeiro facilitou a conversão do gol. É mais um daqueles folclores que ninguém sabe ao certo a origem, mas que sempre cercou a vida de Pedro da Sorda. As informações são do Globo Esporte Paraíba.