Funesc dispinibiliza acervo sobre evolução da música na Paraíba; entrada é gratuita

Há um endereço certo, na cidade de João Pessoa, para quem queira saber mais a fundo sobre a evolução da música paraibana, ao longo dos últimos 100 anos. Trata-se do Centro de Documentação e Pesquisa Musical José Siqueira, instalado na Rampa 1, Sala 37 do Espaço Cultural José Lins do Rego, que é vinculado ao Governo do Estado e pode ser visitado – a entrada é gratuita ao público – de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 18h.

E o acervo está sempre em constante crescimento e ampliando o enfoque dos temas do material disponibilizado a interessados, a exemplo de pesquisadores e estudantes de música. Nesse sentido, o coordenador da entidade, o cantor e compositor Pedro Osmar, afirmou que vem se preparando para abrir, em tempo oportuno, pois está em processo de catalogação, uma sessão sobre a arte nordestina, formada por itens que foram arrecadados durante visitas realizadas, a partir do último mês de março, a cada Secretaria da Cultura da região, dentro dos preparativos para o I Encontro Nordestino de Produção Cultural Independente, evento programado para o próximo dia sete de novembro, na Capital.

“É o maior acervo sobre a música da Paraíba do Estado, possuindo registros do último século”, garantiu Pedro Osmar, que assumiu o cargo de coordenador em fevereiro deste ano. “A minha primeira providência foi a mudança do acervo para uma sala maior, que é a atual”, disse ele, para quem um dos destaques do material guardado é parte das partituras – pois há uma outra no Rio de Janeiro, para onde o saudoso músico se mudou em 1927 – do próprio patrono do Centro, o compositor e maestro paraibano José Siqueira (1907 – 1985).

O Centro de Documentação e Pesquisa Musical José Siqueira foi fundado pelo musicólogo e historiador Domingos de Azevedo Ribeiro (1921 – 2009) no dia 22 de novembro de 1987, com o objetivo de oferecer um material de consulta para pesquisa e estudo. Ele próprio doou para a Funesc (Fundação Espaço Cultural da Paraíba) boa parte do seu acervo, que inclui partituras de músicas populares e eruditas, concebidas por artistas paraibanos, além de um rico acervo em recortes de jornais e revistas que registram a evolução da música na Paraíba e no Brasil, ao longo do século XX.

De acordo com Pedro Osmar – que, a propósito, também está doando parte do seu acervo (CDs, filmes e DVDs) para o Centro José Siqueira, a entidade desenvolve diversas atividades, a exemplo da organização do acervo musical paraibano, no intuito de garantir a preservação da memória da música da Paraíba), atualização de uma hemeroteca de jornais e revistas especializadas em música e um arquivo de imagens dentro desta mesma temática.

O coordenador do Centro ainda ressaltou que integram o acervo músicas sobre a música do mundo (erudita, popular e folclórica) de vários países europeus e latino-americanos, partituras, uma hemeroteca que considera “muito importante”, além de LPs, CDs e DVDs. Pedro também disse que há registros de bandas cabaçais, as quais entende serem “a expressão mais ancestral da música paraibana”, bem como de bandas de música do interior do Estado, de grandes mestres músicos formados nessas bandas, observando que “é a base da música que se conhece hoje”.

“O imperador D. Pedro II e a imperatriz dona Tereza Cristina foram recebidos por uma banda cabaçal, de pífanos, quando visitaram a Paraíba entre os dias 24 e 27 de dezembro de 1859”, lembrou Pedro Osmar, observando que tal fato “é interessante porque, na época, se colocava a política com a arte na cidade”. Ele contou que ainda tomou conhecimento de que o pintor Pedro Américo, ou familiares do artista, tiveram algum envolvimento com a música, o que pretende investigar para, se for o caso, incluir no acervo do Centro.

Ele ainda destacou a importância do conteúdo guardado no Centro e que, por meio de consulta ao acervo, é possível tomar conhecimento da música ancestral, pop, erudita, jazz, experimental e da cultura popular, além de momentos que considera importantes, no decorrer da história, a exemplo da época da emissora oficial do Governo do Estado, a Rádio Tabajara, com seus programas de auditório, as eras dos festivais, a criação de escolas de música e do Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba e o Musiclube, quando, conforme comentou, passou-se a se produzir “uma música de forma mais crítica e analítica”.

“O nosso objetivo é aguçar o interesse e a curiosidade do paraibano para que ele conheça a música da Paraíba. Costuma-se falar em Zé Ramalho, Chico César, Sivuca e Geraldo Vandré, como se a música da Paraíba tivesse parado no tempo, mas não, ela prosseguiu”, comentou Pedro Osmar. Nesse sentido, ele antecipou que pretende preparar uma síntese do material do acervo do Centro, a exemplo de livros, partituras e discos, para levá-lo em formato de exposição – e incluindo palestras, na programação – para visitas por escolas estaduais e municipais em João Pessoa.

Por Guilherme Cabral, do jornal A União