Quando Lula venceu a primeira eleição o Brasil experimentou o sabor da esperança. Afinal, eram décadas, séculos de dominação oligarca, caudilhesca e golpista. Até mesmo a Proclamação da República foi um golpe de estado. Antes, teve o golpe da Independência. Depois vieram os militares. O povo e seus movimentos? O povo sempre fora da cena. Até no mais famoso quadro de Pedro Américo, não há povo. Finalmente, um ex-operário, uma liderança dos rincões, da camada de baixo,  forjada nas lutas sociais, chegou ao governo do Brasil através do voto popular. Mesmo sendo um governo de composição conservadora vimos o Brasil avançar econômica e socialmente. Viramos referência mundial. O país passou a ser respeitado pelas grandes potências. Antes disso, somente no governo do controverso nacionalismo de Getúlio Vargas. Longe ainda de uma situação ideal, com Lula, soubemos que era possível sonhar com a abolição da tradição colonialista. A Casa Grande tomou um susto grande. A Senzala fez doutorado. Parecia termos finalmente levantado do berço esplêndido.

Pensávamos que depois de vencidas algumas barreiras, tipo o Mapa da Fome, depois de incluir tanta gente em diversos programas governamentais, jamais iríamos retornar ao ponto de partida. Ledo engano. Os dias passaram. Veio o governo Dilma. Depois o segundo governo Dilma. A República do Café com Leite não suportou perder mais uma. Aécio, derrotado, prometeu fazer o governo sangrar. Na verdade, fez o país sangrar.  O Brasil caminha veloz para um retrocesso brutal enquanto algumas pessoas se limitam a fazer bravatas nas redes sociais. A sociedade é derrotada e os asnos fascistas comemoram. Fabricam mitos de coturnos. Foram para as redes sociais. Acoplaram-se às manifestações de 2013, por sobre uma esquerda resumindo a ópera numa luta contra o aumento das passagens. Ninguém lembra mais dos black blocs. Ninguém lembra dos 20 centavos. Militantes tão dispostos em 2013 e tão sumidos logo após. Tudo foi ficando novelesco. Até a necessária e corrompida operação Lava-Jato. Como se o que estivesse em jogo fosse o resultado de uma pelada entre coxinhas e petralhas. Ridículo é não reconhecer a própria tragédia. Podem prender Lula e devem prender Lula. Acham que é preciso zerar o jogo para não mudar nada. Querem nos fazer entender e aceitar que até mesmo a corrupção no Brasil, é para poucos.

Para concluir, estamos caminhando para a dizimação das migalhas democráticas conquistadas. Tudo sob um silêncio ensurdecedor. Tudo parou. Só quem avança são os fascistas saídos do armário. Vivemos um fascismo de massas e midiático. E ainda há, nas camadas intelectuais, quem se ache acima do bem e do mal por estar comodamente sentado numa teoria. Do jeito que está, daqui a pouco, o Brasil será uma lenda. “Era uma vez um país que se recusava ao presente, para permanecer um esdrúxulo país do futuro”. Não nos enganemos. Não se combate a corrupção com canalhice e o que mais temos dominando a cena do marketing político, são os canalhas, os cínicos. Vetustos, venais, vira-latas. Temos uma imprensa torpe, com exceções cada vez mais raras. Até portais “de esquerda”, como o DCM, viraram fantoches de notícias distorcidas. Mas, enfim, vamos lá. Não se vive só de utopia. Também não se vive sem ela. O amanhã haverá de ser lindo. Porém, deverá ser dolorosa a superação deste momento. Se não temos organização popular e não fomos capazes de construir uma unidade mínima das forças democráticas e progressistas, vamos aguardar o destino de Lula. E cá pra nós: é covardia colocarmos todas as esperanças nas mãos de um cidadão massacrado por pelo discurso entreguista. Somos um país em preto e branco sonhando com uma realidade colorida, mas sem coragem de pegar nos pincéis.