Entrevista: cientista político avalia atual cenário das eleições na Paraíba

O Paraiba Já dá início a uma série de entrevistas que serão postadas todos os sábados sobre política, economia, cultura e outros temas relevantes. O nosso primeiro entrevistado é o professor de Teoria da História, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e cientista político Jaldes Meneses.

Nessa primeira entrevista, o professor analisa a conjuntura atual do processo eleitoral na Paraíba. Opina sobre o perfil das 6 candidaturas ao Governo do Estado, além de avaliar como deve ser o formato dos debates na televisão. Ele ainda afirma que o eleitor espera ver embates diretos entre candidatos-chave, nestas eleições, Cássio Cunha Lima (PSDB) e Ricardo Coutinho (PSB). Além de afirmar que decisões do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE/PB) sofrem influências políticas.

Paraiba Já – Professor Jaldes Meneses, na condição de cientista político como o senhor analisa o quadro político hoje na Paraíba ao avaliar as 6 candidaturas ao Governo do Estado?

Jaldes – São 6 candidaturas, mas todos nós sabemos que as eleições deste ano estão fortemente polarizadas por Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima. As demais candidaturas vêm tendo um desempenho de coadjuvantes. Vamos, sumariamente, analisar cada uma delas.

Comecemos por Vital Filho. A primeira grande novidade desta candidatura é que pela primeira vez na Paraíba, desde o retorno das eleições diretas para governador, em 1982, o PMDB está de fora da polarização. Credito esta situação à vitória de Ricardo Coutinho nas eleições de 2010. Afirmei naquela ocasião que houve um realinhamento eleitoral na Paraíba, e o PMDB custou a perceber este fato.  O desempenho de sua primeira aposta para governador, o irmão de Vital, Veneziano, saiu popularmente desgastado de seu mandato à prefeitura de Campina. Para piorar, apostou na tentativa de fazer na marra uma coligação com o PT paraibano, que preferiu Ricardo. Resultado de todas essas estripulias: ao final das eleições deverá contabilizar uma drástica bancada federal e estadual.

Ponho as candidaturas de Tárcio Teixeira (PSOL) e Antônio Radical (PSTU) no mesmo bloco. Em primeiro lugar, relembro que no período de pré-campanha houve tratativas no sentido de PSOL e PSTU, mais o PCB – que findou não apresentando candidato – consertarem uma “frente de esquerda”, não concretizada. Para mim, a única chance de PSOL e PSTU apresentaram um projeto competitivo à esquerda do PT (um espaço não ocupado no espectro político brasileiro) nas eleições de 2014 seria ter entabulado um acordo nacional na sequência dos acontecimentos de junho do ano passado, quando esses partidos tiveram algum protagonismo. Resultado: em vez de fazer política de verdade, apresentar uma novidade, por motivo de divergências ideológicas, resolveu, cada um seguir seu caminho, apresentando exatamente o mesmo discurso de outras eleições.

Em relação ao Major Fábio, serei lacônico. Trata-se somente de uma pálida pretensão pessoal sem objetivo político consistente. Sua candidatura nem tem projeto político nem base social. Se tiver algum papel histórico, se resume, junto com as quatro candidaturas de Tárcio, Radical e Vital, forçar um segundo turno.

Por último, vamos tratar da polarização Ricardo x Cássio. A história comparada das eleições brasileiras indica que quem mais cresce quando começa a propaganda eleitoral na tevê e no rádio são os candidatos à reeleição, caso seus governos sejam bem avaliados. Como, segundo as pesquisas, o governo como o desempenho pessoal de Ricardo Coutinho são bem avaliados, creio – a não ser que as eleições paraibanas apresentem uma novidade fora das estatísticas –, que a candidatura de Ricardo Coutinho deverá encostar-se à dianteira atual de Cássio, conforme as pesquisas, fazendo uma eleição emocionante em termos de resultado. Mesmo de acordo com as pesquisas as quais tenho passado a vista, este movimento já começou a acontecer, sobretudo depois de confirmada na justiça eleitoral a aliança do PSB com o PT.

Para mim, a candidatura de Cássio, objetivamente, ocupa um espaço das forças mais conservadoras e fisiológicas da Paraíba, ao passo que, ainda mais depois da coligação com o PT, a candidatura de Ricardo é nucleada por um bloco de partidos, em que pese as descaracterizações, mais avançado, principalmente em termos de formulação de políticas sociais e participativas, a exemplo do caso do orçamento democrático.

Paraíba Já – Com relação ao primeiro debate entre os candidatos a governador, na semana passada, que leitura o senhor faz desse encontro inicial cara a cara?

Jaldes – Gostei do formato do debate, especialmente na parte das perguntas entre as candidaturas. Não gosto do formato de debate que se resume a perguntas temáticas, que fica muito chato. É no embate direto entre os candidatos que o eleitor pode realmente avaliar a diferenças entre os candidatos. No debate, Ricardo Coutinho se saiu melhor. Inclusive acho que o fato de os cinco outros candidatos se posicionarem contra o candidato à reeleição não é ruim para o governador, e pode até ser aproveitado positivamente. Em casa, o eleitor isento (não falo das torcidas organizadas) resiste a esses alinhamentos, especialmente começar a indagar, ao inverso, qual é mesmo a diferença entre os demais cinco candidatos. No entanto, embora tenha vencido o debate, na repercussão do pós debate, o fato que mais chamou a atenção foi a repercussão de um entrevero entre Ricardo Coutinho e Antonio Radical, demonstrando que a campanha de Ricardo Coutinho, apesar de candidato à reeleição, padece de uma estratégia racional de responder proativamente até aos próprios fatos políticos positivos gerados. Talvez este seja um dos motivos da demissão do marqueteiro.

Paraíba Já – Quanto às demandas e decisões na Justiça Eleitoral no prazo final de 5 de agosto qual sua avaliação sobre a manutenção da aliança PT/PSB? E a respeito do resultado 5 a 1 pelo deferimento da candidatura do senador Cássio Cunha Lima ao governo, apesar da polêmica em torno de ele ser ou não elegível, qual sua análise? Há possibilidade do TSE mudar esse resultado?

Jaldes – Não sou jurista. Minha formação é em história e teoria política, o que necessariamente passa por um cotejo histórico-analítico da crítica do direito. Portanto, para mim, para além da positividade das leis, tendo sempre a analisar as decisões das altas cortes brasileiras também como decisões políticas, embora exaradas sob o ponto de vista da técnica jurídica. Não foi diferentes no caso das mais recentes decisões do TRE – foram também decisões políticas. Nada demais. Os tribunais brasileiros funcionam desta maneira. Os recursos dos partidos ao TSE também deverão ser conteúdo jurídico-político. Vamos aguardar os desenvolvimentos. Por fim, apenas observo que o caso do julgamento de Cássio tem um escopo que o processo da aliança PT-PSB, mais fortuito, não tem. Ou seja, no julgamento de Cássio no TSE estará em jogo a jurisprudência da Lei da Ficha Limpa, sendo importante, portanto, para firmar em definitivo a posição do TSE em outros julgamentos semelhantes, relativos à forma de contagem de prazo do tempo de impedimento da cassação, bem como fixar o estatuto do segundo turno (se uma nova votação ou eleição).

Paraíba Já – O que o senhor espera dos candidatos nos próximos debates do ponto de vista de propostas de governo, aliás, o que o eleitor quer ouvir dos candidatos, na sua opinão? Os manifestos de rua em 2013 são um recado aos governantes e futuros governantes?

Jaldes – Como gostei do primeiro debate, espero ávido pelos demais rounds. Gostaria que as emissoras privilegiassem as perguntar diretas entre os candidatos, em vez do formato das perguntas temáticas. Uma boa solução seria mesclar os blocos de temáticos e de enfrentamento direto. Acho que o povo que ver o enfrentamento direto.

No tocante à questão dos acontecimentos de junho do ano passado – um assunto que venho estudando e lendo toda a literatura a respeito – eles significaram uma “explosão” da sociedade civil (um exemplo que me ver à cabeça, embora o nosso junho tenha sido menos radical e menos instituinte, é maio de 68 na França). Será um acontecimento que sinaliza processos de longo prazo, relativos principalmente à crise da representação política no Brasil. No caso das eleições paraibanas, seria importante, antes de tudo, estudar o que significaram os acontecimentos de junho de 2013 na Paraíba, uma abordagem que em geral as pessoas esqueçam. De começo, relembro que o “nosso” junho de 2013 foi menos radical que o do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, por exemplo. Lá tivemos o enfrentamento direto entre manifestantes e polícia. Na Paraíba, as manifestações se encerram com os policiais distribuindo rosas vermelhas entres os manifestantes, o que não é necessariamente mal, mas ninguém analisa. Prefere ver apenas interpretar o que aconteceu nas ruas de Rio e São Paulo, embora vivam em João Pessoa.