Diário de bordo: Documentário paraibano é exibido no 8º Curta Taquary

O segundo e o terceiro dias do 8º Curta Taquary reservaram alguns dos momentos mais notáveis dentro da programação do Festival. A homenagem ao cineasta Camilo Cavalcante, no segundo dia, foi um deles. Um vídeo com trechos dos vários curtas-metragens dirigidos por ele e de seu primeiro longa, A História da Eternidade, introduziu a cerimônia. Merecido e coerente o tributo a um realizador nordestino cuja trajetória está intrinsecamente ligada a produção de curtas – e justo no maior Festival do nicho na região.

O prêmio foi entregue pela atriz Débora Ingrid, uma das protagonistas do seu aclamado longa de estreia e que ele conheceu durante uma das edições do Curta Taquary ao assistir ao filme Doce de Coco, do realizador cearense Allan Deberton. Camilo agradeceu a homenagem e falou sobre a singularidade e a importância dos curtas-metragens.

“Curtas-metragens são obras de arte, assim como longas, assim como poemas, sonetos ou romances também são obras de arte. Para um artista que está iniciando o curta-metragem é uma forma de talvez experimentar (fazer arte) com poucos recursos. Eu comecei assim”, destacou Camilo. “Para mim curta-metragem é uma obra de arte do seu momento, do que você pode fazer, do que você quer dizer ao mundo. E eu acho que é isso que interessa em qualquer obra de arte”, justificou ele.

Mostra Competitiva Nacional

Logo após a homenagem a Camilo Cavalcante foram exibidos os filmes da Mostra Competitiva Nacional. O primeiro deles, Atotô (RJ), de Bruno Laet, apresentou uma narrativa lírico-visual sobre a vida e a morte num lugar isolado, que remete ao sertão. Command Action (SP), de João Paulo Miranda, fez uma crônica naturalista das relações pessoais e culturais no subúrbio do interior de São Paulo, sob o olhar de uma criança e seu universo perceptivo. Ambas produções bem cuidadas e de narrativa consistente.

Súbito (PE), de Ayodê França, uma animação com elementos surrealistas, que adentra no universo onírico dos sonhos e alucinações, foi um dos destaques da mostra. Uma Ilustre Família (RJ), da cineasta carioca Beth Formaggini, prendeu as atenções ao mostrar, em formato de entrevista especial, o depoimento de Cláudio Guerra, um ex-agente da repressão durante a ditadura militar que tinha a função de eliminar opositores do regime de forma rápida, discreta e eficiente. Essa história já foi tema de um livro, inclusive. O filme de Formaggini mostra essa personagem pra lá de controversa (hoje ele é pastor evangélico) explicando seu modus operandi e sua relação com casos de assassinatos e desaparecimentos históricos. Conversei com a diretora e ela prometeu um longa com essa proposta para o ano que vem. À conferir.

Olhos de Botão (PE), de Marlon Meireles, também exibido no Cine Congo, teve boa recepção por parte do público do Curta Taquary. Tarântula (PE), dirigido pelo baiano Aly Muritiba e pela pernambucana Marja Calafanje, um dos filmes brasileiros de 2015 mais premiados nos circuitos nacional e internacional mostrou o motivo de tantas premiações. Uma construção narrativa primorosa, fotografia esplêndida, atores com performances seguras e emocionais para narrar um enredo que congrega temas como isolamento, religiosidade, refúgio na fantasia, repressão e esperança. O filme consegue representar e alegorizar esplendidamente esses elementos capitaneados pelo roteiro criativo e a direção sensível e consistente.

Longa

Seguida às exibições da Mostra Competitiva Nacional, foi realizada a sessão de A História da Eternidade, do homenageado Camilo Cavalcante, o único longa da programação do Festival. Repleto de emoção, poesia visual e com uma sensorialidade latente, o filme encerrou as atividades do segundo dia do 8º Curta Taquary.

Terceiro dia

O terceiro dia da oitava edição do Curta Taquary teve um pouco de sotaque portenho. A Mostra Hacielo Corto trouxe filmes feitos por crianças e jovens argentinos de Buenos Aires, com idade entre 5 e 19 anos, utilizando técnicas de animação. Os curtas foram realizados através do projeto Medios en La Escola. Destaque para Soltar, sobre a rotina na educação infantil de uma escola e Casa Mágica, que traz objetos ganhando vida através do recurso do stop motion.

A Competitiva Nacional iniciou com a divertida e muito criativa animação Até a China (RJ), de Marão, sobre as peculiaridades e situações inusitadas de uma viajem ao território chinês. O humor e as tiradas bem articuladas do filme conquistaram o público. Cumieira (PB), documentário do paraibano Diego Benevides, foi exibido em seguida e trouxe no seu enfoque a rotina dos trabalhadores que atuam em grandes construções imobiliárias de João Pessoa, indo até o topo – sem jamais ascender. Narrativa arrojada, crítica social sagaz e sem panfletarismos. Grande filme que atesta a qualidade da produção audiovisual contemporânea da Paraíba.

João Heleno dos Brito (PE), de Neco Tabosa, um faroeste nordestino bem bolado e envolvente, garantiu o entretenimento do público. Quintal (MG), de André Novaes Oliveira, mostrou a história de um casal de meia idade e que leva rotina insólita, até que eventos inusitados, misteriosos e potencialmente cômicos começam a surgir. Uma crítica espirituosa, inteligente e hilariante a dinâmica de vida da classe média e a certo academicismo, utilizando elementos surrealistas.

A Sessão Especial, que veio em seguida, exibiu o curta chileno Un Cielo Lánguido e Oxidado.  Fechando a noite, foram exibidos os curtas da Mostra Diversidade, com temáticas sobre questões de gênero e sexualidade.

Desfile

Ainda no terceiro dia aconteceu o desfile de peças do estilista Marc Andrade, natural de Taquaritinga do Norte, que colaborou com o Festival produzindo o vestuário da apresentadora Suzy Lopes e de alguns outros convidados.

Fechando

Dois dias de atividades intensas e com produções de destaque tanto na criatividade temática quanto nos recursos estéticos e técnicos para contar uma história, seja ela real ou ficcional, filme de animação, convencional ou híbrido. No terceiro o último especial sobre o Curta Taquary, faço um balanço dos dois últimos dias de exibições, dos premiados e do Festival com um todo. Aguardem!