Desistência do PSDB em JP já era esperada, afirma cientista político

Nenhuma surpresa. O cientista político José Henrique Artigas, em entrevista ao Paraíba Já, fez comentários acerca da desistência do presidente estadual do PSDB, Ruy Carneiro, em se lançar como candidato próprio do partido.

Artigas é enfático ao dizer que o pronunciamento do presidente, dado na manhã desta segunda-feira (29), não é uma surpresa. “Já era esperado. O PSDB aqui em João Pessoa é fraco, a candidatura seria frágil. Os três veredores do PSDB já haviam se colocado claramente contrários a uma candidatura própria, já haviam, inclusive, ameaçado recentemente, que em função da janela de migração partidária, poderiam migrar para outro partido, possivelmente o PSD, se a aliança com o prefeito Luciano Cartaxo (PSD) não fosse acontecer já no primeiro turno. Desde o começo da gestão Cartaxo, os três vereadores se aliaram a Prefeitura, então era normal que o PSDB arrumasse uma coligação com o PSD, inclusive porque a relação PSD – PSDB aqui na Paraíba já é antiga. A grande liderança do PSD, Rômulo Gouveia com o PSDB, com os Cunha Lima, é antiquíssima. É uma relação natural. Inclusive, a migração do prefeito Luciano Cartaxo para o PSD quando ele deixou o PT, se deu em função dessa proximidade com o PSDB e da capacidade que ele poderia provir, para a realização de uma coligação intermunicipal. Já era esperada essa posição, houve uma certa relutância da direção do partido, de Ruy Carneiro, de Lauremília, de qualquer maneira, tudo encaminhava para isso”, explicou.

O cientista político acredita que o partido fez uma boa escolha. “O PSDB não iria abrir mão dos três vereadores que eles dispõem, pois são francos candidatos à reeleição. E também não iria lançar uma candidatura com uma derrota pela frente, o que poderia desgastar o partido e minimizar alianças que fortaleceriam a candidatura de Romero Rodrigues, em Campina Grande. A aliança do PSDB em João Pessoa contribui para a aliança do PSDB em Campina. Isso já é uma força maior para Romero, que assim como Cartaxo, está sendo o favorito. Apesar de ter um oponente bastante forte, que é Veneziano Vital do Rêgo. Começam a se formar os cenários, mas  ele só estará completo quando o PMDB se decidir, ele é a noiva, todo mundo quer”, afirmou.

E continua. “O PSDB só se fortalece. O PSDB diminuiria se perdesse três vereadores. Ruy não tinha chances reais de vitória, então ele iria pra uma derrota, e se fosse derrotado seria pior para o PSDB. Agora ele pode manter os vereadores, entrar numa chapa forte e garantir uma vice-prefeitura, que não teria o apoio no segundo turno. E além disso, sela definitivamente uma aliança do PSD com o PSDB em Campina. Ele só tem a ganhar, não tem nada a perder”, disse.

Sobre a possibilidade de se aliar a siglas como PTB, PMDB e o PSD, o cientista é enfático em sua aposta. “A aliança será com Cartaxo. Não faria sentido se aliar com a oposição, uma vez que os vereadores do partido mantiveram uma aliança desde o primeiro dia do governo do prefeito. Pela força que o PSDB dispõe no Estado, e pelo peso dos Cunha Lima,  pelo peso e representatividade de Lucena, e mesmo do Ruy, certamente haverá uma posição de destaque numa coligação dessa. O prefeito conseguiu reunir uma ampla base de apoio que provavelmente deverá se manter no processo eleitoral. Serão muitos partidos na base de Cartaxo, mas sem dúvida, o PSDB e o PSD serão ospreponderantes”, apostou.

Questionado sobre a autonomia do partido em obedecer apenas aos mandos de Cássio, o cientista salienta. “De alguma maneira, desde que Cássio foi para o PSDB ele é a grande liderança do partido, e o partido se configurou em função da liderança de Cássio como uma estrutura extremamente oligarquizada. Assim como são as estruturas de outros partidos na Paraíba. Tem um forte peso da parentela, que não são apenas parentes diretos e indiretos ligados à política, mas os coligados. Essa é uma característica de uma formação oligárquica. Numa circunstância dessa, ele é quem tem a última palavra, e  é claro que ele vai defender a área dele, que é Campina Grande. Aqui em João Pessoa, seria um grande desgaste”, elucidou.

Para Artigas, o tempo ainda não foi capaz de apagar a força do Cunha Lima e garante que ele ainda tem o poder de eleger muita gente. “Cássio é capaz de eleger muita gente. Ele tá longe de ser cachorro morto. Lider do PSDB no Senado, ele tem uma função primordial nesse processso nacional desse debate, uma enorme importância no espectro partidário estadual. É a maior liderança histórica do Estado, agora há uma bipolarização natural, com a emergência de uma nova liderança, que é Ricardo Coutinho, essa bipolarização ainda vai durar por alguns anos. São as duas lideranças que podem ocupar o vácuo que o PMDB deixou na última década. O PMDB era extremamente hegemônico, de repente o partido retroagiu na Paraíba e o PSDB ocupou esse espaço. Então, de um lado, Ricardo Coutinho ocupa uma liderança moderna e do outro lado, os Cunha Lima como uma liderança tradicional. E não é só ele, já estamos na terceira geração, o deputado federal mais votado no Estado foi Pedro Cunha Lima (PSDB), então se você pergunta se ele elege alguém, ele elege um filho de 22 anos. Ele elege quem ele quiser”, explanou.