David Bowie: além da música, teatro e cinema, reflete jornalista paraibano

Por Carlos Aranha, colunista do jornal A União

19871461O cartaz ao lado é de “Fome de viver”, um dos dezenove filmes em que o compositor e cantor David Bowie atuou como ator, na maior parte deles protagonista, como nesse, em que estava ao lado de Catherine Deneuve e Susan Sarandon, com direção de Tony Scott.

Em todos, David Bowie esteve muito bem como intérprete, como no caso de “Furyo – Em nome da honra”, ao lado do também músico Ryuichi Sakamoto, sob a direção do genial Nagisa Oshima. Vi “Furyo” quando o cinema do Hotel Tambaú ainda funcionava, geralmente lançando ótimos filmes.

(Lembro que David Bowie fez o papel de Pôncio Pilatos em “A última tentação de Cristo” e de Andy Warhol em “Basquiat – Traços de uma vida”). Acho oportuno transcrever uma opinião do biógrafo David Buckley sobre a carreira de Bowie como ator: “A essência da contribuição de Bowie à música popular se deve por sua notável capacidade de analisar e selecionar as ideias que estão de fora do ‘mainstream’ – da arte, literatura, teatro e cinema – e trazê-los para dentro, de modo que o pop é constantemente alterado. (…) Só uma pessoa levou o ‘glam rock’ a novas alturas rarefeitas e inventou personagens no pop, casando teatro e música popular num todo poderoso. A carreira de Bowie tem sido marcada por vários papéis em produções de cinema e teatro, o que valeu prestígio e independência como ator e elogios por suas atuações”.

Vale destacar que a carreira de David Bowie como ator começou antes de seu avanço comercial na música. Foi estudante de teatro (“avantgarde” e mímica), a partir de 1967. Nove anos depois (1976), ganhou elogios por seu primeiro papel num grande filme, retratando um alienígena de um planeta moribundo, em “O homem que caiu na Terra”.

Poucos sabem que ele ele trabalhou na Broadway durante dois anos, como coadjuvante e, enfim, no papel principal de “O homem elefante”, produção teatral com a qual a imprensa de Nova York destacou sua atuação expressiva.

David Bowie foi ator em vários filmes mundialmente conhecidos, como “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída”, “Labirinto – A magia do tempo”, “Twin Peaks”, “Zoolander” e “O grande truque”. O último em ficção, “The love we make”, foi em 2011. Como documentário, foi realizado, em D2014, “David Bowie is happening now”.

Faço a sugestão de que a Academia Paraibana de Cinema ou uma outra instituição cultural faça, até o final do ano, um Festival David Bowie em João Pessoa. Não é difícil. Basta querer.

Aproveito para lamentar opiniões divididas entre os músicos paraibanos Alex Madureira e Pedro Osmar, publicadas ontem neste jornal, como a de que “na verdade Bowie nunca foi um grande músico e por isso era um péssimo vendedor de discos”…

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Bowie, em “Furyo – em nome da honra”

Termino com algumas considerações sobre “Furyo – Em nome da honra”, realizado em 1983 por Nagisa Oshima (o mesmo diretor de “Império dos sentidos”).

Na história, Oshima mostra um soldado inglês (Bowie) e um comandante de um campo de concentração japonês (Ryuichi Sakamoto) na ilha de Java, em 1942, para ilustrar as diferenças culturais entre o Oriente o Ocidente. Para o oriental, a captura é uma desonra e um homem digno deveria se matar antes de se deixar capturar. Portanto, prisioneiros eram tratados como escória. Por outro lado, o homem ocidental acredita que a vida vale qualquer sacrifício e para se manter vivo ele vai até rastejar se preciso for. Tanto Bowie como Sakamoto estão maravilhosos em suas atuações.

Na época da exibição no Tambaú, fiquei tão entusiasmado que vi o filme três vezes e telefonava a semana inteira para amigos, indicando “Furyo”.

Ainda continua como um dos melhores filmes internacionais típicos da década de 1980, por sua temática e pela procura de alternativas pouco usadas na linha narrativa.