Cronista compara Terminal do Varadouro com campo de concentração

O cronista Gonzaga Rodrigues publicou, nesta quinta-feira (19) um texto na sua conta pessoal do Facebook comparando o Terminal de Integração do Varadouro com um campo de concentração. Com o título de ‘Tristeza Integrada’, o texto fala de coisas da falta de dignidade, as tristes condições do local que é marcado por fila e espera.

Leia abaixo o texto.

Tristeza integrada

Não sei o que vocês podem achar, mas, por acaso, estive ontem a observar as condições humanas da meia João Pessoa que depende do Terminal de Integração, lá no Varadouro, e não queria dizer nada enquanto alguns de vocês não fizerem a mesma coisa.

Lembrou-me, já que só me vêm coisas antigas, aquelas filas tão divulgadas no mundo inteiro, dos campos de concentração nazistas. Uma multidão sob um abrigo miserável, a conter sua aflição, sua angústia física e moral, separada e isolada de qualquer sonho de dignidade e respeito humano por uma cerca de arame que permite os favores da integração.

Vendo aquilo eu me perguntei: por que os escravos levaram 300 anos para se tocar da sua condição de escravos? Foi preciso que os brancos, os Castro Alves, os Nabucos fundassem naquelas almas empedradas no sofrimento a consciência da sua sub-condição.

A entrada da cidade – pois é ali que desembarcam os nossos visitantes de outras regiões – deveria oferecer um espetáculo menos contrastante com a riqueza e até a suntuosidade de certas catedrais domésticas que dominam a beira-mar.

É um contraste histórico entre a cidade que nasceu à borda do rio, ali fundou a cidade, ergueu suas igrejas e palácios dignos da colina, e a tristeza de hoje.

Só peço que os pessoenses de coração deem uma olhadinha nessa João Pessoa que desce acorrentada para a vantagem da passagem única como o gado descia antigamente para o velho matadouro.

Noutros lugares, como Bogotá, aquilo ali seria um belo centro de convivência, de fraternidade, de amizade, de cultura favorecido pela vantagem de uma só passagem. Há espaço de sobra ali mesmo, só não há nas nossas cabeças elitistas.